sábado, maio 27, 2006

DECLARAÇÃO DO PRIMEIRO-MINISTRO

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE
GABINETE DO PRIMEIRO-MINISTRO

DECLARAÇÃO DO PRIMEIRO-MINISTRO

Os militares australianos estão desde ontem a patrulhar o perímetro de segurança. Hoje também os da Malásia. Esta zona de intervenção das forças internacionais definida pelo Governo, em coordenação com o Presidente da República, está a ser operacionalizada pelos comandos das Forças de Defesa de Timor-Leste, australiano e malasiano.

A decisão de solicitar o apoio internacional foi uma medida naturalmente muito ponderada e teve na sua essência a vontade inequívoca do Governo de travar a onda de violência, evitando mais derramamento de sangue.

Obviamente, que em primeiro lugar esperamos que esta intervenção ponha termo à violência que temos vivido nos últimos dias. Isto demorará o seu tempo. Os militares e os polícias estrangeiros acabaram de chegar e começam agora a tentar controlar Díli – uma cidade que ainda não lhes é familiar.

Estou crente, no entanto, que a partir do momento que os timorenses começarem a sentir a presença constante destes homens e mulheres, os níveis de confiança subirão possibilitando um gradual regresso à normalidade, essencial para a preservação quer do Estado de Direito Democrático, quer dos bens e da população em geral.

Grande parte da violência ocorrida na capital de Timor-Leste nas últimas horas, ao contrário do que possa parecer a algumas pessoas e interesses, já não está relacionada com um problema muito grave que se traduziu em confrontos entre as nossas Forças de Defesa e alguns elementos da Polícia, mas trata-se sim de uma violência derivada da acção concertada e oportunista de grupos de marginais, que têm pilhado e queimado casas e haveres, e ameaçado o nosso martirizado povo.

As forças internacionais têm recebido indicações da parte do Governo para porem termo a estes incidentes. Aguardamos que em breve se possa dizer que já controlam a situação, revelando eficácia nas suas acções.

O Governo em momento algum deixou de trabalhar. Ainda esta manhã, sob a minha presidência, reuniu-se o Conselho de Ministros. Fizemos o ponto da situação. E aprovámos decisões importantes para dar eficácia à coordenação das autoridades de Timor-Leste com as forças internacionais.

Acusam-nos agora de não sabermos governar. Contudo, lembro aqui que as políticas delineadas e seguidas pelo Governo de que me orgulho chefiar têm recebido os mais insuspeitos elogios de toda a comunidade internacional. Destaco apenas a título de exemplo o aplauso sincero que o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, no mês passado e que repetiu agora no dia 25, fez às políticas deste Governo, aqui nesta mesma sala. Será que apenas num mês deixámos de ser um caso de exemplar sucesso, passando a ser um caso de manifesta incapacidade? Que fique claro: em todo este processo temos algumas culpas, nomeadamente na dificuldade de resolver atempadamente quaisquer injustiças que eventualmente existam no seio das Forças de Defesa de Timor-Leste. Mas garanto que o Governo saberá sempre assumir as suas responsabilidades. Espero que outros órgãos de soberania o façam também.

Eu, primeiro-ministro de Timor-Leste, mantenho as minhas declarações anteriores. Está em marcha uma tentativa de um golpe de Estado. Contudo, estou confiante que o senhor Presidente da República, com quem tenho mantido contacto, não deixará de respeitar a Constituição da República Democrática de Timor-Leste, que jurou cumprir. E não esquecerá nunca os interesses do povo de Timor-Leste, pelos quais todos lutámos durante 24 anos e milhares de irmãos deram a vida.


Díli, 27 de Maio de 2006

O primeiro-ministro
Mari Alkatiri

4 comentários:

Anónimo disse...

Sem deixar de salientar a importância do que foi afirmado nos primeiros parágrafos desta declaração, parece-me, e posso estar aler mal, que o sr. PM acusa, "delicadamente", o PR de tentativa de golpe de Estado!!!!

Estarei realmente a ler mal???

A ser verdade, quais as VERDADEIRAS causas para o referido golpe de Estado do PR????

CabD

Anónimo disse...

Não está a ler mal e o Mari, advogado, deveria ser mais cuidadoso na redacção --- pelo menos numa altura destas. Mesmo que quisesse dizer o que disse e enviar um recado, há formas alternativas para o fazer. Não é só o Xanana que tem de aprender a não dizer asneiras, nomeadamente quando chega a Dili de uma viagem, perfeitamente dispensável, a Portugal e à Suiça...

Anónimo disse...

a ser a verdade.... c todos soubessem alguem iria responder a pergunta d kuais as razoes pro referido golpe de estado... k perguntem a kem saibam k ta a conspirar...

Anónimo disse...

Aqui, do outro lado do mundo, desde o início foi possível perceber que esta quartelada estava acompanhada de uma tentativa de golpe, ou para retirar o PM, ou para retirar o PR, ou mesmo para retirar os dois juntos. O debate politico e as suas disputas são saudáveis desde que feitos na normalidade democrática.
Dizer que o sr. Gusmão fala "asneiras" não é um bom começo para estabelecer um diálogo construtivo.
Qualquer arranhão no estado de direito seria péssimo para a imagem de TL.
Esses conflitos, apesar de dolorosos, serão superados com o aprofundamento dos princípios éticos e legais.
Saudações
Alfredo (Brasil)

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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