quinta-feira, junho 08, 2006

Alkatiri aceita inquérito internacional à violência

DN

Lisboa
08.06.06
Armando Rafael

Um pouco a despropósito, o ministro Ramos-Horta, que passou a acumular as pastas da Defesa e dos Negócios Estrangeiros no Governo timorense, surgiu ontem em público a admitir a possibilidade de poder vir a aceitar o cargo de primeiro-ministro, caso Mari Alkatiri se demitisse.

As declarações de Ramos-Horta, condicionadas apenas ao respeito pelo quadro democrático e constitucional que vigora em Timor-Leste, surgem no mesmo dia que Alkatiri considerou desejável uma eventual antecipação das legislativas, o que não será possível, como teve o cuidado de sublinhar, pelo simples facto de que a lei eleitoral não está pronta.

Duas declarações que parecem reflectir as divergências que, neste momento, ainda se fazem sentir no seio das autoridades timorense, e que tenderão a agravar-se nos próximos dias, à medida em que forem evoluíndo as negociações com os militares revoltosos. Designadamente com o grupo dos majores Alfredo Reinado, Alves Tara e Marcos Tilman, que continuam a insistir na demissão de Mari Alkatiri como condição prévia a qualquer acordo.

Sendo que o primeiro-ministro já deixou claro, por mais do que uma vez, que não tenciona demitir-se. Tendo chegado mesmo a declarar que o país só não tinha iniciado uma guerra civil porque ele, enquanto líder partidário, tinha travado os militantes da Fretilin que queriam "invadir" Díli.

O que parece traduzir-se num recado com vários destinatários óbvios - e que vão desde o Presidente Xanana Gusmão à Autrália, passando pela Igreja Católica Timorense e até pelo próprio Ramos-Horta -, numa altura em que Mari Alkatiri já aceitou um inquérito da ONU aos distúrbios que têm assolado o país.

Pressupondo-se, assim, que está também disponível para aceitar uma averiguação aos confrontos de Díli no final de Abril e que causaram cinco mortos e mais de 70 feridos, segunda a versão oficial que tem sido sistematicamente posta em causa por alguns do militares que se revoltaram contra o Governo.

Resta saber como irão decorrer agora as negociações que Ramos- -Horta tem vindo a empreender com os revoltos e que além dos três majores, inclui também os 591 peticionários que foram expulsos das forças armadas no início de Março.

Parecendo que o primeiro-ministro não está disposto a ceder muito mais, aproveitando - como sucedeu ontem com uma entrevista à Lusa - para recordar que o período de excepção que levou o Presidente Xanana a assumir a coordenação da defesa e da segurança no país tem um prazo bem definido - 30 dias.

O que significa que este período termina no final do mês, coincidinco com o prolongamento da actual missão da ONU.

Pelo que as Nações Unidas têm até esa alatura para definir a nova missão no país, admitindo-se que parte da solução passe pelo reforço da componetente polícial estrangeira em território timorenses, como já foi sugerido por Ramos-Horta, e admitido quer pela Austrália, quer por Ian Martin, o enviado especial do secretário-geral da ONU a Díli.

1 comentário:

Anónimo disse...

Despropositadas não. Quem tem duas pastas passaria a ter três. Qual é o problema?!
E assim se atingiria um "consenso nacional e internacional" para a resolução do "conflito em Timor":
Austrália, Representante Especial das Nações Unidas em Timor, Estados Unidos, Igreja e militares rebeldes.
Ups, falta ainda perguntar alguma coisa ao povo timorense. Que chatice o povo só estorva!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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