sábado, junho 10, 2006

Austrália entrega à ONU justiça e polícia de Timor

DN - 9.06.2006
Armando Rafael

A Austrália entende que o Estado timorense falhou e que as autoridades de Díli não estão em condições de recuperar o controlo do país. Pelo que deveria ser a ONU a liderar o processo de reconciliação, ajudando a credibilizar as principais funções do Estado, de forma a poderem ser convocadas eleições para Maio do próximo ano.

O que pressupõe, entre outros aspectos, que a polícia timorense pudesse ser comandada por um oficial estrangeiro, à semelhança do que sucederia com o aparelho judiciário do país. Mesmo que fosse necessário recorrer à nomeação de juízes, procuradores, defensores públicos e até oficiais de justiça internacionais.

Já quanto à estabilização, Camberra entende que as forças envolvidas nesse esforço deveriam manter-se sob comando e controlo do contingente internacional, recusando o chapéu da ONU.

É isto que resulta de um documento confidencial australiano a que o DN teve acesso - East Timor: A Future UN Mission - e que deverá servir como documento-guia para Camberra no âmbito da definição de uma nova missão da ONU para Timor-Leste.

Esse debate deverá começar na próxima terça-feira, quando o Conselho de Segurança se reunir, em Nova Iorque, para apreciar as recomendações que o secretário-geral da ONU se prepara para fazer. Sendo certo que Kofi Annan irá basear as suas opiniões no relatório que Ian Martin - o seu enviado especial a Timor-Leste - lhe fará chegar.

Isto, independentemente das consultas que vier a fazer a países como Portugal, Austrália, Malásia e Nova Zelândia (que responderam ao apelo de Díli, enviando contingentes militares e policiais), além dos membros permanentes do Conselho de Segurança. Sobretudo os EUA, sobre os quais recairá grande parte dos custos de uma eventual nova missão.

É neste quadro que surge o documento australiano, que terá sido entregue às autoridades timorenses no decurso da visita que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Alexander Downer, fez recentemente a Díli.

Um exercício que tem tanto de diplomacia como de realismo, já que as autoridades de Díli terão sempre uma palavra a dizer sobre o grau de intervenção da ONU. Salvo uma situação extrema em que os principais responsáveis do país (Presidente da República, Governo e Parlamento) não se entendessem entre si.

No documento a que o DN teve acesso, a Austrália resume o essencial das suas posições a três prioridades, que, no entender de Camberra, deveriam nortear a nova missão da ONU: reconciliação política e comunitária, sistema de justiça e estrutura governativa.

No que respeita à reconciliação política, Camberra defende, por exemplo, que a nova missão deveria prever um esforço especial no domínio das relações intertimorenses, insistindo na necessidade de serem investigados os distúrbios que ocorreram em Díli, no final de Abril, e as queixas que provocaram "deserções em massa" nas forças armadas.

Por sinal, duas das principais reivindicações dos majores Alfredo Reinado, Marcos Tilman e Alves Tara e dos "peticionários" liderados pelo tenente Salsinha, que passaram a insistir também na demissão do primeiro-ministro, Mari Alkatiri.

Quanto às Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), comandadas por Taur Matan Ruak, só há uma referência: a que prevê a hipótese de a nova polícia poder ser formada com aquilo que resta das forças armadas e de uma estrutura policial que, segundo os australianos, entrou e em colapso. O que parece ser verdade em Díli e Ermera, mas não no resto do país.

2 comentários:

Anónimo disse...

Malai Azul, Como esta a situacao nas ruas? Continuam a queimar casas? Ha confrontos?

Simbelmune disse...

Crendo na boa vontade e na fé do povo Timorense, só posso pensar que é esta a “arma” que se poderá utilizar para criar confusão.

Lembro quando sucedeu o “Tsunami” e do posterior “boato” de que algo semelhante se aproximava das praias de Díli.
Um certo caos se instalou e as pessoas deslocaram-se para as montanhas envolventes durante alguns dias.

Houve confusão, houve pânico. Houve interesses por detrás desses boatos…

Quando se formaram as “manif” devido ao ensino de religião nas escolas sucedeu o mesmo.
Houve confusão, houve boatos, desinformação. Houve interesses por detrás que levaram a fraccionar a população…

Os interesses prevalecem, usam as mesmas tácticas e geram a mesma confusão porque o povo é o mesmo.

Contudo, eu creio na fortaleza dos Timorenses.
Creio na sua integridade e na sua perseverança.
Creio até na sua teimosia e no seu orgulho – que não é como o do ocidental – estridente e esmagador como os seus meios bélicos.
O orgulho Timorense é como o som do mar… eco sempre presente e profundo como as fundações do seu espírito livre. Poderá parecer que não está lá, mas se ouvirmos com cuidado – ecoa em toda a parte.

Poderá parecer aos internacionais que o Timorense é fácil de manipular.
Como me dizia um responsável – certa vez numa conversa informal – o timorense vai rir, vai dizer que sim, vai parecer lerdo e limitado – mas, no fundo - vai sempre fazer o que a sua própria vontade manda.

Bem haja

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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