domingo, junho 18, 2006

Dos leitores

Sim, à data da Proclamação Unilateral da Independência, em 28 de Novembro de 1975, Xanana Gusmão,era membro da Fretilin, a trabalhar na Secção de Informação e Propaganda. Aliás, segundo a sua própria Autobiografia, assistiu à declaração de Independência, depois de ter estado alguns dias nas regiões de Bobonaro e Maliana (que acabava de ser tomada), a filmar as incursões militares indonésias e onde conheceu Roger East (jornalista assassinado em Dez 75, aquando da invasão.

Para sua informação e a de todos os leitores que possam achar que as suas dúvidas sobre as transformações da Fretilin sejam verdadeiras ou tenham algum fundamento:

Realizou-se em Maubai de 1 a 8 de Março 1981 a Conferência Nacional de Reorganização [da Fretilin].

Após a morte de Nicolau Lobato, sobreviveram apenas três membros do Comité Central da Fretilin: Xanana Gusmão, Mau Huno e Txai Kere. Este último acaba por ser morto pouco antes do início da Conferência.

À data da Conferência, Xanana Gusmão era o Comissário Político Nacional da Fretilin - o cargo político mais elevado da organização. E é nesta mesma Conferência que Xanana Gusmão assume a direcção da Fretilin.

Não creio que seja necessário argumentar contra tantos disparates escritos que tentam apresentar com roupagem de verdade.

Leiam a página nº 58 da Autobiografia de Xanana Gusmão onde assume a responsabilidade pela declaração da Fretilin enquanto Partido Marxista Leninista.

Na altura, os que estavam no exterior, nem tiveram conhecimento imediato da decisão. Essa só veio a ser conhecida no exterior, em 1982!

Não vou tecer comentários em relação à decisão propriamente dita ... Xanana Gusmão tem longas páginas escritas sobre isso (para além de pp. 58 e 59 ver ainda a partir da página 84, o capítulo "Viragem Ideológica"). nomeadamente o reconhecimento do erro que também ele próprio contribuiu para que fosse cometido.

Xanana Gusmão volta a assumir a responsabilidade deste erro (na sua própria opinião), na Audiência Pública da CAVR, em Dezembro de 2003, sobre o Conflito Político Interno 1974-1975. Considerou que, nessa data, perante o facto de só terem sobrevivido dois membros do Comité Central da Fretilin (ele próprio e Mau Huno), deveria assumir a Direcção da Fretilin. Quer ele, quer Mau Huno e mais um punhado de quadros da Fretilin, haviam iniciado uma acção de percorrer todo o território para avaliar o que restara da Resistência (armada e civil) após as grandes ofensivas militares indonésias até Nov de 1979 (queda da Base de Matebian). É durante essa acção que a população, que ia sendo contactada, pediu a ambos que não desistissem da luta, que honrassem os mortos e continuassem a lutar.

Xanana gusmão continua o relato, informando que a Conferência de Maubai visava reorganizar a Fretilin e, consequentemente, assegurar a continuidade da luta pela libertação nacional, que fora a Fretilin que iniciara.

Só mais tarde, na mesma década de 80, é que Xanana Gusmão reconhece a necessidade de alargar a Resistência a sectores sociais e políticos, novos, que entretanto surgiram (nomeadamente os jovens que começaram a ir para a Indonésia com bolsas de estudo), que a Fretilin não abrangia. Também é mais tarde (a partir de 1983/1984 que inicia os contactos com a igreja católica. Na srequência, despartidariza as Falintil, cria o CRRN, posteriormente, CNRM e, mais tarde, CNRT.

Para que haja alguma honestidade de argumentação, por favor, estudem um pouco as fontes documentais existentes, credíveis, nomeadamente o que o próprio Xanana Gusmão afirma e a responsabilidade que assume POR ESCRITO, e as declarações que proferiu na audiência pública da CAVR e nas várias entrevistas que deu à CAVR para efeitos da elaboração do Relatório Final da CAVR. Leiam também José Mattoso.

4 comentários:

Anónimo disse...

Para perceber melhor estas questões, e acabar com muitos lugares comuns que não reflectem a verdade, leiam também o livro do jornalista da TSF Manuel Acácio, que se chama A ÚLTIMA BALA É A MINHA VITÓRIA, A HISTÓRIA SECRETA DA RESISTÊNCIA TIMORENSE. No livro editado há poucos meses, ele explica muito bem esta história, com testemunhos dos próprios envolvidos. O Manuel Acácio consultou os arquivos secretos da resistência e... ao contrário do professor Mattoso... entrevistou os protagonistas da resistência, incluindo Xanana e os principais comandantes das Falitil.

Anónimo disse...

Quanto às datas que o comentarista menciona são datas de acontecimentos históricos com as quais não vou discordar. No entanto o seu pecado está na sua leitura literal das palavras do próprio Xanana na tal autobiografia ignorando ao mesmo tempo o contexto em que foram escritas essas palavras.

1- Diz que Xanana era membro da Fretilin na altura da declaração unilateral de Independência (nunca reconhecida pela comunidade internacional) trabalhando na Secção de Informação e Propaganda. Esta sua afirmação não poe portanto em causa o que disse relativamente a Xanana não ocupar cargo importante de decisão na estrutura política da Fretilin.

2- Não desmente o que disse relativamente a Constituição de então ter estabelecido o sistema de partido único para Timor o que sabemos todos nós ser um sistema contrário aos princípios democráticos. Querendo isto dizer que Timor já não era um país democrático como sugerido pelo nome da república mas possuia sim um sistema político já consistente com o sistema tipicamente Marxista-Leninista, mesmo já na altura em que Xanana era inconsequente nas decisões políticas tomadas pela direcção da fretilin.

3- Xanana Gusmão não “era o Comissário Político Nacional da Fretilin” à data da “Conferência Nacional de Reorganização” mas foi eleito nessa conferência para assumir tal cargo assim como também de Presidente do CRRN e Comandante em Chefe das Falintil.

4- Quanto às referências que faz à autobiografia de Xanana, muito convenientemente ignora o contexto em que Xanana fala do um “Partido Marxista Leninista Fretilin” em Timor. Na referida passagem intitulada “viragem ideologica” Xanana diz na sua análise que quando a Fretilin adoptou em 1975 a ideologia da esquerda que ameaçou os interesses estratégicos dos poderosos.
Continua dizendo que logo desde o início a Direcção da fretilin demonstrou um notável infantilismo político que tentava desafiar o mundo; que os seus antecessores viam o Marxismo como a “solução imediata” para os problemas de um povo incrivelmente sub-desenvolvido; que foram em verdade ludibriados por um processo revolucionário apelidado de “Mauberismo”. Diz também que esse infantilismo político tinha impulsionado o movimento desde 1974 e que não dava margem para disacordos mas sim o extremismo político que, de quando em quando, significaria a sua própria pena de morte.

Continua por dizer que eles próprios somente aprenderam o Marxismo-leninismo nas montanhas e foram influenciados pelo frenesim revolucionário que os deveria levar a realizar o SONHO DOS SEUS ANTECESSORES: criar um Partido Marxista-Leninista na Republica Democrática de Timor-Leste e que não foram eles mesmos os verdadeiros mentores do “Partido Marxista-Leninista Fretilin mas somente seguiam aquilo que tinham recebido dos seus antecessores. Afirma que na altura encontravam-se ofuscados pela visão de um processo milagroso de redenção humana, e que a humanidade tinha fechados os olhos ao exterminio do povo maubere.

Mais significativamente e por último declara publicamente que rejeita completamente qualquer doutrina que promova a repressão das liberdades democráticas em Timor-Leste.

O Anónimo diz e é consistente com as palavras de Xanana que realmente ele “contribui” mas não foi o autor. Ai se encontra a diferença. E depois de tudo rejeitou essa ideologia e despartidarizou as Falintil, decisão que iria distancia-lo do proprio partido e outros membros da CCF até a independência.

É exactamente esta viragem ideológica de Xanana que o transformou num verdadeiro democráta, aquilo que não aconteceu (pelo menos por completo) com certos membros fundadores que ainda hoje se encomtram vivos e firmememte no poder.

Anónimo disse...

Isto é realmente uma grande chatice mas já agora e indo ao tal livro A ÚLTIMA BALA É A MINHA VITÓRIA, livro de Manuel Acácio (que anda para aqui a servir manobras) encontra-se exactamente na página 104, em palavras que parecem ser de Konis Santana que: "Ao criar o Partido ML, Xanana cometeu o seu maior erro, ..." e imediatamente no parágrafo seguinte se pode ler, em narrativa do autor do livro que: "Os documentos herdados do anterior Conselho Permanente do Comité Central da FRETILIN, que já planeava criar um partido marxista-leninista, surgem como única bússula..." ... a mim pouco me interessa o género de peso que estão a lançar em cima de Xanana sobre essa verborreia típica sim de marxistas-leninistas quando é ele próprio que despartidariza a matéria. Ele explica muito bem essas coisas todas noutros documentos e mais haverá ainda em "resguardo". Grande estratega! Emendou um erro que recebeu de outros pois outra literatura não havia na montanha, é curioso como terá ele desenvolvido tal diferenciação e seguir em frente?! Coisa já de si complicada para outros?

Na página seguinte (pag. 105) é David Alex que diz que a história não é de 1981 mas que a matéria já era falada desde as Bases de Apoio.

Depois e ainda no mesmo livro, página 106, há um curioso último parágrafo onde se lê: "Entre a delegação da FRETILIN no exterior, a escolha do líder máximo da resistência é recebida com alguma surpresa, pois Xanana Gusmão era um quadro médio, apesar de integrar o Comité Central. A falta de informações concretas e credíveis, é um factor que faz aumentar a surpresa de Mari Alkatiri, a terceira figura na hierarquia da autoproclamada República Democrática de Timor-Leste: Durante três anos ficámos sem saber quem tinha morrido, e quem não tinha. Tínhamos a confirmação da morte do Nicolau Lobato, e de mais ninguém. Havia notícias de que o Mau Lear tinha morrido, de que o Hata tinha morrido, mas não havia confirmações. E, de repente, três anos depois, surge o nome de Xanana. Eu ainda me lembro de perguntar, a mim próprio, se ele seria mesmo o líder, ou se estaria a dar a cara para proteger outros líderes. Ainda acreditei que tivesse sido essa a decisão mas, passado pouco tempo, fiquei convencido que havia uma nova equipa de liderança."

Portanto só consigo ver que Xanana Gusmão tem ao longo do tempo assumido as suas culpas no cardápio da história, costuma até dizer bastas vezes "nós falhámos... nós temos que pôr a mão na consciência...", como hoje em dia mais uns que outros etc, etc, coisa que parece continuar a ser difícil de ser executada por esses mesmos outros.

Já agora, visto que não sei e gostaria de saber, voltavamos à página 76 do mesmo livro onde é dito: "Durante as audições da Comissão de Acolhimento Verdade e Reconciliação, Mari Alkatiri admitiu que possam ter sido executadas cerca de 200 pessoas, e reconheceu a necessidade urgente de ajudar a sarar as feridas abertas há quase três décadas." e termina Mari Alkatiri com uma frase que também isolo sem a retirar do contexto: "A FRETILIN tem que aceitar isso. Temos que reabilitar os nomes das pessoas, formalmente." CAVR, Relatório de Actividades, Dezembro de 2003 - Janeiro de 2004

A minha pergunta é se isso já foi feito?

Anónimo disse...

Estou cansado das vossas tentativas falhadas de fazer história!
Quero lá saber se Xanana foi, se não foi… Se Mari é bom se não é!
Importa-me o povo, os timorenses!
Não façam história de cordel! Para desgraça já basta a de 1975 com o contributo valioso dos esquerdistas dos portugas!
O senhor Henrique Braga, com tantos anos da luta de Timor, sofre do mesmo mal dos descolonizadores de 1975. Confundiram tudo, pensaram que estavam em África , foram superficiais, tendenciosos, facciosos, conduziram o território a uma situação sem retorno e, depois, deram à sola!
Fugiram, que Portugal é um belo jardim à beira mar plantado e, depois, bem, eles já tinham conseguido pôr tudo ao barulho! Cumpriram com a bagunça comunistóide imposta em Timor.
Ah, grandes portugas! Como envergonhais os portugueses de verdade, carago!
Tenham juízo e não falem do que não sabem nem se metam no que não vos diz respeito. Vão estudar, camaradas!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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