sexta-feira, junho 23, 2006

Obrigado, Margarida.

Tradução:

The New Zealand Herald

Junho 22, 2006 Quinta-feira

John Martinkus: De conspirações de golpes e estrangeiros sombrios

O Primeiro Ministro de Timor-Leste acrescentou à escuridão que envolve a descida do país na violência a acusação de grupos da oposição apoiados por estrangeiros conspirando para derrubar o seu Governo num golpe armado.

E as suas acusações foram suportadas por fontes seniores da Força de Defesa, que dizem ter havido três conspirações de golpes nos últimos 18 meses.

Mari Alkatiri, ele próprio acusado de arranjar um esquadrão de ataque para eliminar os seus críticos, deu pela primeira vez a sua versão do que levou ao caos de Dili no final de Maio.

A quebra da lei e da ordem levou a 130,000 deslocados e ao destacamento de 2200 tropas da Austrália, Nova Zelândia e Malásia.

Acusou grupos da oposição e os seus apoiantes estrangeiros de repetidamente tentarem convencer proeminentes comandantes das forças armadas de Timor-Leste a derrubarem o seu Governo.

"Estavam sempre a tentar obter o comando da Falintil (antigos guerrilheiros), F-FDTL [forças de defesa. Tentaram convencer o comando a ordenar e a participar num golpe. Falharam."

Acusou que os seus opositores depois tentaram enfraquecer a influência dos militares.

"Tentaram quebrar a Falintil e fizeram-no tirando dos quartéis quase 600."

Diz que os seus opositores políticos exploraram divisões étnicas no seio da força policial (PNTL) para criar desassossego.

"Tiveram sucesso em dividir as pessoas no seio da PNTL. Esta é a estratégia completa. Depois puseram grupos de polícias contra grupos de soldados em confronto. E tiveram sucesso outra vez. Foi por isso que requeri assistência do exterior," disse.

Fontes seniores do comando das forças armadas confirmaram que foram feitas, não uma mas três separadas tentativas para a sua liderança orientarem um golpe contra Alkatiri nos últimos 18 meses.

Posso confirmar que no seguimento das semanas de manifestações de massas contra o governo de Alkatiri em Abril de 2005, o comandante da Força de Defesa, Brigadeiro Taur Matan Ruak, foi sondado para liderar um golpe.

Ele rejeitou a oferta. Outra vez, no princípio deste ano ele foi sondado e pediram-lhe para liderar um golpe numa reunião com dois proeminentes líderes de Timor-Leste e dois estrangeiros. Outra vez ele recusou, alegadamente dizendo-lhes que isso era contra a constituição e abriria um precedente inaceitável.

Um dos seus vice-presidentes principais o Tenente Coronel Falur Rate Laek, um antigo comandante regional da Falintil e um veterano da guerra contra a Indonésia, também foi sondado pelos mesmos dois líderes locais e estrangeiros. Ele também recusou e reportou o incidente ao seu comando.

Devido à sensibilidade da informação e às implicações na corrente situação, as nacionalidades dos estrangeiros não foram reveladas.

As forças armadas acreditam que as ilegalidades do mês passado foram uma tentativa paras as dividir e destruir e uma vingança por causa da recusa do comando das forças armadas a participar num golpe.

O Primeiro Ministro estava convicto que a violência era orquestrada e parte dum programa para derrubar o seu Governo.

"Têm de ser instituições, algumas organizações, internas assistidas por outras externas," disse. "Penso que há grupos externos, da Austrália talvez da Indonésia mas não dos Governos. Não estou a acusar o Governo da Indonésia ou o Governo da Austrália.
Mas contudo acredito que há grupos externos. Precisamos de algum tempo para investigar isto mas o plano completo foi muito bem feito e muito bem executado."

Não é a primeira vez que Alkatiri chamou às tentativas para o derrubar uma tentativa de golpe. Continua a negar as acusações dum esquadrão de ataque contra ele e o seu Governo e descarta-as como parte duma campanha de má informação dirigida pela sua oposição.

Disse que a campanha está a ser dirigida por "elementos conservadores em instituições" em Timor-Leste e no estrangeiro.

As Alegações contra o Governo de Alkatiri são difíceis de verificação.

As acusações de que pelo menos 60 pessoas foram mortas pelas forças Armadas no seguimento das manifestações no final de Abril e enterradas numa vala comum no oeste da cidade não se puderam conferir. O padre que reclamava ter uma lista com 67 nomes, negou que tinha a lista.

Depois houve a e alegação de Vicente "Rai Los" da Conceição, o líder de um grupo armado de guerrilheiros da resistência, que diz que as odens de Alkatiri foram executadas pelo antigo Ministro Rogério Lobato, um aliado próximo do PM.

Disse-se que os 30 lutadores de Da Conceição estavam aquartelados nas montanhas acima da cidade de Liquica ae equipados com espingardas automáticas. Ele reclamou ter recebido as espingardas de Alkatiri e Lobato, que agora está em prisão domiciliária.

Os Jornalistas que foram para se encontrarem com ele ficaram surpreendidos por serem conduzidos para a casa da família Carrascalão nas montanhas acima de Liquica.

Disseram que ele lhes contou que lhe entregaram as armas para matarem os opositores do partido dominante de Alkatiri, a Fretilin.

A família Carrascalão tem uma história de oposição à Fretilin que vem desde a liderança do partido UDT que lutou na guerra civil contra a Fretilin em 1975.

Alkatiri disse que conheceu três dos homens envolvidos no grupo "Rai Los" quando eles atenderam a conferência da Fretilin em Maio e com quem se encontrou por breves minutos. Disse que falaram somente para reforçar a segurança e não para matar opositores como eles acusam.

Fontes das forças armadas dizem que os homens de Rai Los participaram no ataque ao quartel das forças armadas em Tacitolu. Os soldados dizem que da Conceição foi um antigo guerrilheiro da Falintil que tinha sido despedido em 2004 por ter desencaminhado cheques de ordenados.

Antes das alegações acerca de fornecer armas a da Conceição serem públicas Alkatiri despachou-as como mais má informação da oposição.

"A melhor maneira de derrubar alguém do poder é demonizá-lo. É exactamente o que estão a tentar fazer e como fazê-lo? Passando para os media informação como esta que este homem tem um exército secreto com o objectivo de eliminar outros ... em vez de terem morto alguém da oposição o que fizeram é somente lutar contra as forças armadas.

"Lutaram contra as forças armadas em 24 de Maio em. Que tipo de grupo secreto da Fretilin é este que também está a lutar contra as forças armadas. Isto é contraditório," diz Alkatiri.

Enquanto as frustrações no seio das forças armadas de Timor inflamaram a última crise, foi precedida por tumultos contra a liderança de Alkatiri em Dezembro de 2002 e um prolongado protesto liderado pela Igreja contra o Governo em Abril de 2005.

Em Fevereiro último um grupo de soldados do oeste do país – que cresceu de 140 para 591 – assinou uma petição queixando-se de discriminação no interior das forças armadas de 1300 homens. Em Março foram despedidos das forças armadas.

Contudo, quando os eventos se começaram a desenrolar a disputa rapidamente tornou-se o começo de uma série de pedidos para Alkatiri resignar. O Primeiro Ministro não teve dúvidas do que se estava a passar. Continuou a referir-se a isso como uma tentativa de golpe.

A manifestação dos peticionários tornou-se violenta em 28 de Abril 28 quando ele ordenou às forças armadas para tomarem o controlo. Os oficiais da polícia fugiram e nalguns casos juntaram-se à violência. Os peticionários regressaram para oeste de Dili e foram lá mantidos pelas forças armadas. Foram mortas três pessoas no tiroteio e a violência começou a espalhar-se.

Na semana passada, recordando-se da sua chegada a Dili, o comandante das forças Australianas, o Brigadeiro Mick Slater, disse que houve dois tipos de violência de gangs.

"Houve definitivamente os ladrões oportunistas ... penso que foram provavelmente a maior fonte de violência na cidade. Houve
definitivamente grupos, chamemos-lhe gangs, que foram definitivamente sendo manipulados e coordenados por outra gente de fora do ambiente dos gangs. Tenho a certeza que foi esse o caso."

O Ministro dos Estrangeiros José Ramos Horta diz que as acusações de golpe de Alkatiri são "disparate". "Se houve uma tentativa de golpe o Primeiro Ministro deve explicar. Uma tentativa de golpe por quem?"

Esta é uma questão que ninguém no momento, desde a liderança militar, o Primeiro Ministro, o comandante da força de intervenção Australiana e o próprio Presidente está disposto a responder.

* O correspondente do Herald, John Martinkus esteve em Dili a semana passada.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Quinta-feira, Junho 22
Timor Leste: à beira do abismo
A crise em Timor-Leste é grave, muito grave. Timor Leste pode estar à beira de ver a sua independência comprometida, e desta vez irreversivelmente, se o Presidente da República cumpre a ameaça de se demitir por o Primeiro Ministro teimar em agarrar-se ao cargo e não assumir pessoalmente as pesadas responsabilidades que lhe cabem nesta crise.
A FRETILIN, partido maioritário e vanguarda incontornável em Timor Leste, não pode mais tolerar este impasse: deve parar de acenar com compromissos que sabe insustentáveis e que só aumentarão os tremendos custos já impostos ao povo e mais fazem perigar a soberania e independência por que tantos timorenses pagaram com a vida. Os militantes de base da FRETILIN sabem, melhor que ninguém, que só o Presidente Xanana Gusmao, democraticamente eleito, mantem ainda autoridade e a confiança do povo. Só ele pode ser garante da salvação e unidade nacionais.
Não, não se trata de Timor Leste ser um Estado falhado, como sustentam certos sectores australianos, americanos e outros que sempre tentaram controlar Timor, por considerações estratégicas e outras relativas ao domínio dos seus importantes recursos de gás e petróleo. Sem dúvida, o acordo petrolífero que o Primeiro Ministro Mari Alkatiri negociou com a Austrália, com êxito, instigou esses sectores a retaliar, recorrendo a todos os expedientes e pretextos para fazer Timor Leste aparecer como condenado à falência. Assim como já tinham incentivado a Indonésia a invadir em 1975, estes sectores nunca deixaram de contar com as dissensões entre os timorenses e nunca deixaram, portanto, de as alimentar. Mas a triste verdade é que esta crise, decerto estimulada e aproveitada por actores externos, é sobretudo da responsabilidades dos governantes timorenses que cometeram sérios erros - e ao cometê-los fizeram o jogo de quem sempre souberam querer inviabilizar a independência do seu país.
Eu estou convencida de que Mari Alkatiri é sério. E de que em muitos e fundamentais aspectos foi um bom governante de Timor Leste (desenganem-se os que pensam que ele ainda governa ou poderá voltar a governar...). Mas noutros e também fundamentais aspectos Mari Alkatiri errou clamorosamente. Esses seus erros geraram a actual crise.
O maior dos erros do Primeiro Ministro Alkatiri foi ter incluído no seu governo Rogério Lobato, um homem perigoso, com conhecido passado criminal, que acirrou fricções, desconfianças e clivagens e tornou as relações com o Presidente e a Igreja ainda mais difíceis, sobretudo desde que em 2005 ordenou à Polícia que carregasse a tiro sobre homens, mulheres e crianças que aos milhares se concentravam junto à residência episcopal em Dili, em triste enfrentamento a pretexto das aulas de religião e moral (felizmente que o Comandante Paulo Martins se recusou a cumprir a ordem que teria resultado num banho de sangue). Há muito que se sabia que Rogério Lobato estava a aproveitar-se da supervisão da Polícia e dos contratos de equipamento da Polícia para armar milícias privadas e fomentar a divisão "lorosae -loromunu" (ele poderia tornar-se o braço armado dos loromunus, explicaram-me membros do Governo em Dili recentemente). Todos os Ministros o sabiam. E o Primeiro-Ministro também: conversamos várias vezes sobre aquele inquietante personagem, a última ainda há semanas, já a crise estava instalada.. Mari Alkatiri julgaria porventura que, tendo-o por perto, melhor o controlaria. Como eu repetidamente avisei, acabaria antes refém dele.
É isto que Mari Alkatiri, como verdadeiro patriota e homem de Estado, não pode deixar de reconhecer, demitindo-se sem tardar mais. Para viabilizar uma solução pacífica e política da crise, que a sua obstinação tem prolongado, pondo o país à beira do abismo. Para não ficar com a responsabilidade histórica de enterrar a independência de Timor Leste ou de, no mínimo expôr o seu sofredor povo a mais um doloroso e prolongado conflito.

Ana Gomes
Amiga do povo de Timor Leste
[Publicado por AG] 22.6.06
"só o Presidente Xanana Gusmao, democraticamente eleito, mantem ainda autoridade e a confiança do povo. Só ele pode ser garante da salvação e unidade nacionais."

"...Mari Alkatiri errou clamorosamente. Esses seus erros geraram a actual crise."

"É isto que Mari Alkatiri, como verdadeiro patriota e homem de Estado, não pode deixar de reconhecer, demitindo-se sem tardar mais."

"Para não ficar com a responsabilidade histórica de enterrar a independência de Timor Leste ou de, no mínimo expôr o seu sofredor povo a mais um doloroso e prolongado conflito."
Ana Gomes

VIVA XANANA GUSMAO
VIVA RAMOS HORTA
VIVA OS BISPOS DE TIMOR
VIVA O POVO MAUBERE

PATRIA, POVO!!

Anónimo disse...

info. dos corredores do poder

Mari Alkatiri JA ACEITOU RESIGNAR-SE!!!

Viva Kay Rala Xanana Gusmao
Viva Ramos Horta
Viva os Bispos de Timor
Viva o Povo Maubere
Viva a Restauracao da Democracia

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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