quinta-feira, julho 27, 2006

Comandante Forças Armadas Matan Ruak ouvido pelo Ministério Público

Díli, 26 Jul (Lusa) - O brigadeiro-general Taur Matan Ruak será ouvido pelo Ministério Público timorense num processo relacionado com a morte de dez polícias, no passado dia 25 de Maio, em Díli, em plena crise político-militar, disse hoje à Agência Lusa fonte judicial.

Ainda sem data marcada, a audição daquele oficial, que é o comandante das forças armadas de Timor-Leste, "constitui um acto normal em qualquer processo de investigação", precisou a fonte, que pediu para não ser identificada.

Os contornos violentos da crise em Timor-Leste desencadearam- se em finais de Abril e prolongaram-se pelos meses de Maio e Junho, com um saldo de cerca de 30 mortos, dezenas de feridos e cerca de 150 mil deslocados em campos de acolhimento distribuídos pelo país.

No passado dia 25 de Maio, militares dispararam contra agentes da polícia, tendo morto dez polícias e ferido 28 pessoas, incluindo dois polícias da ONU, um filipino e um paquistanês.

A fonte contactada pela Lusa salientou que o Ministério Público "abriu vários processos, relacionados com os actos de violência registados entre o dia 28 de Abril e o dia 25 de Maio".

Dias depois do tiroteio, em declarações à Lusa, o coronel português Fernando Reis, destacado em Timor-Leste, em missão da ONU, disse que na origem do caso esteve o "descontrolo de um militar".

O militar português, conselheiro especial que chefia o Grupo de Treino Militar e Aconselhamento (MTAG), esteve no centro das operações de rendição daqueles polícias, tendo liderado a coluna apeada que estava a ser transferida para as instalações da ONU em Díli.

Em contacto telefónico a partir de Lisboa, Fernando Reis assegurou à Lusa que o derramamento de sangue teve como causa "o descontrolo de um militar, logo seguido de mais dois", que se cruzaram com a coluna e abriram fogo.

Fernando Reis explicou que "ninguém mandou desarmar ninguém, os polícias desarmaram-se livremente. Foram eles que mandaram uma mensagem à UNOPOL (força de polícia das Nações Unidas em Timor-Leste) a dizer que queriam render-se, porque não conseguiam contactar o brigadeiro-general Taur Matan Ruak, comandante das forças armadas timorenses, F-FDTL".

Uma vez que "havia cinco polícias da UNOPOL naquele comando e para evitar mais mortes e conseguir parar o tiroteio" o coronel Fernando Reis afirmou que expôs "a situação, que já era militar" a Sukehiro Hasegawa, o chefe da missão da ONU em Timor-Leste.

Depois de ter falado também com o brigadeiro-general Taur Matan Ruak, Fernando Reis deslocou-se "com dois militares do MTAG" ao comando da polícia, onde estabeleceu diálogo com o oficial da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).

"Perguntei se sempre queriam render-se", disse Fernando Reis à Lusa. "E expus as condições: quem se quer render, deixa a arma num carro que trouxemos e tem de vir comigo. Quem não quiser entregar a arma, fica cá e sujeita-se".

O militar português referiu que, entretanto, "chegaram colegas da UNOPOL e mesmo os mais renitentes seguiram o conselho. Foi tudo voluntário. A UNOPOL não obrigou ninguém a render-se".

Foi organizada uma coluna apeada, que seguiria atrás do militar português até às instalações da ONU em Díli.

"Eram cerca de 80 homens, formados a três e, aos lados coloquei viaturas para proteger de qualquer incidente", relatou Fernando Reis.

A coluna deparou-se, num cruzamento, "com três ou quatro militares" e, segundo Fernando Reis, elementos da UNOPOL e do MTAG adiantaram-se para lhes pedirem que se afastassem.

Foi aí que "um deles perdeu o controlo e atirou em alguém e isso foi um momento crítico". Em vão, tinha Fernando Reis pedido que "não corressem e não respondessem a provocações". De seguida, "outros dois soldados abriram fogo".

Fernando Reis disse ter ido no encalço dos três soldados que haviam disparado e levou-os ao quartel onde se encontrava Matan Ruak.

O comandante das forças armadas timorenses "pediu desculpa, mandou chamar os três militares" e, à frente do coronel português, anunciou-lhes que iriam "ser punidos".

"Acredito no general Matan Ruak, que é um homem de honra e de palavra", comentou Fernando Reis, que pela própria narrativa dos factos, considerou que "não faz sentido nenhum dizer que o episódio teve alguma intervenção política".

"Incidente lamentável", assim classificou Fernando Reis o episódio, "devido ao descontrolo de um militar. Não houve ninguém a dizer àquele louco para abrir fogo. Foi uma situação imprevisível, de alguém que, na altura, se descontrolou".


A Lusa contactou hoje o brigadeiro-general Taur Matan Ruak a quem solicitou um comentário sobre a possibilidade de ser ouvido pelo Ministério Público.

"Não faço comentários à imprensa", foi a resposta do oficial timorense.

OM/EL.

2 comentários:

Anónimo disse...

A Margarida é capaz de ler isto e ainda vir dizer que eram homens do Reinado disfarçados de FDTL.
Pelo menos, enquanto o Avante não não receber orientação da Direcção para aceitar o testemunho do Coronel do Exército português como válido e proceder à revisão da história oficial que o partido apresenta.
O mundo pula e avança como uma bola, mas não nas mãos desta criança.

Anónimo disse...

Eu tinha presente este texto da Lusa. Vocês é que acusaram o Alkatiri de ter dado ordens para as F-FDTL atacar a PNTL, lembram-se? Eu própria, na altura me utilizei da discrição do Fernando Reis para desmontar as vossas atoardas. É que este texto da Lusa "recuperou" pontos doutro texto da Lusa por alturas desse acontecimento que foi, salvo erro a 24 ou 25 de Maio. Esta descrição do que então se passou é que foi constantemente negada por vocês. Mas de qualquer modo em parte alguma do texto está escrito que estes soldados eram regulares ou irregulares, por isso repito-lhe o que lhe disse ontem, esperemos que a Comissão de Inquérito tire as suas conclusões. Mas folgo ver que afinal deixaram cair mais uma acusação contra o Alkatiri...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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