sexta-feira, agosto 25, 2006

Dos leitores

Tradução da Margarida.

Numa nota mais ligeira!!!

Timor-Leste lembra Brasil para canções de liberdade08/23/2006

Por TAKESHI FUJITANI, THE ASAHI SHIMBUN

DILI—O programa de rádio de Helder de Araujo começa à 1 p.m. Nas duas horas seguintes, do seu novo, fresco estúdio estatal com ar-condicionado, pintado de branco, Helder recebe pedidos típicos de estudantes do secundário: "Quero desejar a toda a gente aí fora boa sorte nos exames"—e sai com Música Popular Brasileira (MPB). Antes de Timor-Leste ter ganho a sua independência da Indonésia em 2002, Helder teria passado música diferente -- a maioria da música que se podia ouvir era disco Indonésio, conhecido como dangdut. Nestes dias, apesar da independência não ter trazido sempre a paz -- Timor-Leste continua a ter violência esporádica -- libertou os gostos musicais da nação. Nem pode haver nenhuma dúvida da música de escolha; os ritmos Brasileiros apanharam todo o país. As pessoas de Timor-Leste foram atraídas não só pela MPB, mas também pelo merengue (música de dança das Caraíbas) e kizomba (uma mistura de samba e de ritmos Africanos).

A MPB teve origem numa mistura de estilos urbanos tradicionais como samba e choro e rock contemporâneo no final dos anos de 1960. É, claro, cantado em Português, a língua oficial do Brasil. E é isto que torna a popularidade da MPB em Timor-Leste ainda mais interessante. Helder, 38 anos, é também um cantos. Quando começou a cantar na escola elementar, cantava em Indonésio, em Tétun (a língua de Timor-Leste), ou em Inglês. Foi educado em Indonésio. Não conhecia canções Portuguesas songs. "Não conseguia realmente compreender as letras, e não conseguia pronunciar as palavras," Helder disse. Contudo, como cantor profissional, tinha de cantar o que o povo queria ouvir. E assim, em 1999, quando foi decidido oficialmente que seria concedida a independência a Timor-Leste, Helder foi para a escola nocturna, ter aulas de Português três vezes por semana.

Foi difícil. "O Português é tão diferente do Indonésio, tem tempos complexos," disse Helder. "É muito mais difícil do que o Inglês." Mas perseverou, experimentando as suas novas habilidades com os seus pais que foram educados quando a ilha estava sob domínio colonial Português. Timor-Leste foi primeiro colonizado por Portugal no século 16. Depois de Portugal se ter decidido retirar de Timor em 1974, rebentou uma guerra civil entre os que queriam a independência e os que queriam ser anexados pela Indonésia. A Indonésia invadiu em 1975, e declarou a anexação de Timor-Leste um ano depois. A área manteve-se sob domínio Indonésio até 1999 quando largou o controlo do território. A independência de Timor-Leste foi oficialmente reconhecida em Maio de 2002. Agora, a língua oficial são o Tétun e o Português. Contudo, o Indonésio é ainda largamente usado.

Um das primeiras canções que Helder dominou na sua nova língua foi "Lambada," que tinha sido um grande sucesso mundial no final dos anos 1980. Antes da independência, 80 por cento do reportório de Helder era feito de canções Indonésias mas agora calcula que 90 por cento têm letras Portuguesas, e na sua maioria são importadas do Brasil. Helder actua todos os fins-de-semana. Uma das suas favoritas é a canção merengue, "Angelina." A letra diz: "Por favor volta para mim / o meu coração está em fogo, tenho saudades tuas / Chamo-te / mas não estás aqui." Lui Manuel Lopez, 40 anos, é um fã entusiasta da canção. "Helder é um baixo tão doce e melodioso, condiz lindamente com a canção. Quando chega a 'Angelina', a multidão enlouquece," diz. "Helder canta todos os êxitos correntes do Brasil, de todos os estilos," entusiasma-se Lopez, que pediu ao cantor para actuar no seu casamento. "Não há ninguém como ele." Anito Matos, é outro cantor de Timor-Leste, cinco anos mais velho que Helder. Matos foi um das últimas gerações de Timorenses a ser educado em Português. Na altura, a maioria das canções populares eram cantadas em Português, também. "Actualmente preferimos a música Brasileira, com os seus ritmos mais rápidos, à Portuguesa. Era mais fácil de dançar também," lembra Matos.

"Para a geração que lembra os anos coloniais sob Portugal," diz, "as canções Brasileiras não são novidade." Matos lançou recentemente um CD, com músicas Brasileiras. Contudo, sob o regime Indonésio, qualquer que usasse o Português corria o perigo de ser rotulado um "separatista" -- um activista pela independência. Naturalmente, a música Brasileira entrou na clandistinidade. "Assim quando a independência foi oficialmente declarada e podíamos cantar todas as canções Brasileiras outra vez, tive um ataque de nostalgia," diz Matos. "Foi a primeira vez que senti que éramos realmente livres. Não foi só Matos quem se lembrou das velhas canções. Nadja Matoso foi vice-cônsul na Embaixada do Brasil em Dili desde a independência até Abril deste ano. Surpreendeu-se descobrir que os "antigos" da sua pátria eram cantados em Timor-Leste. "Descobri que os velhos êxitos de Roberto Carlos dos anos 1960 eram muito populares. Muitas canções, há muito esquecidas no Brasil, estavam muito vivas aqui," diz. Depois veio o sangue novo. Por altura da independência, chegou pessoal militar nas operações da ONU e seguiu-se pessoal das ONG’s e professores de português. Muitos de Portugal e Brasil trouxeram novas músicas com eles. Lojas de música em Dili ainda estão cheias de cópias piratas.

"Como a música era muito cool, espalhou-se rapidamente entre os jovens," disse Matos. "Era uma vergonha que a maioria não entendesse as letras, mas o Português não era falado há 30 anos." Mas as canções podem estar a trazer a língua re volta. Na creche de São Carlos perto da catedral de Dili, 320 crianças aprendem o Português cantando canções Brasileiras. "As crianças têm ouvido para as línguas. Divertem-se durante o processo e assim aprendem rapidamente," diz Elizabeth, 56 anos, a directora Indonésia. Há dois anos, a Embaixada Brasileira em Timor-Leste trouxe 25 estudantes Brasileiros voluntários para ensinar Português numa universidade em Dili usando música Brasileira. A experiência de seis meses foi um tal sucesso que o governo Brasileiro planeia implementar o projecto a sério pelo fim deste ano. Para pessoas com, a liberdade de falar -- e cantar – em Português é mais uma prova da libertação de Timor-Leste. "Daqui a dez anos," diz, "seremos capaz de sentir que as canções Brasileiras são mesmo nossas." (IHT)

2 comentários:

Anónimo disse...

Adorei a reportagem. Pena que os dias em Díli ainda entejam difíceis.
Para as gangs eu daria um recado que retiro de uma das músicas do Chico Buarque
"Apesar de você(s) o amanhã há de ser outro dia..."
Alfredo
Brasil

Anónimo disse...

Tambem eu adorei a reportagem, so que as musicas portugueas e brasileiras nao serao sentidas como nossas daqui ha dez anos. Elas sempre foram nossas, mesmo no tempo colonial. Como Timorense tambem espero que "o amanha ha-de ser outro" e que os paises da lingua portuguesa sejam cada vez mais amigos.

Viva os PALOP!...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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