segunda-feira, agosto 21, 2006

"Obrigado Barrack" acolhe milhares à espera de melhores dias

Por José Costa Santos, da Agência Lusa Díli, 20 Ago (Lusa) - Quem olhar de fora não percebe que estão ali cerca de cinco mil pessoas que fugiram da violência nas ruas de Díli.

Só o pó levantado pela correria das crianças e os guardas à porta do perímetro nos indicam que ali estão deslocados à espera de dias melhores.

"Obrigado Barrack", um dos campos de deslocados de Díli, fica do outro lado da rua da sede das Nações Unidas, e está calmo depois de mais uma noite em que muitos não dormiram, pois há que "ficar alerta para possíveis ataques", como explica Matilde de Jesus, 21 anos, moradora do bairro de Comoro, há quatro meses a vive no centro de deslocados com outras 12 pessoas da sua família.

A casa onde vivia Matilde foi queimada, tal como muitas em Díli, mas aqui quase ninguém quer recordar os acontecimentos, apesar destas famílias se identificarem sempre como "lorosai", os naturais da ponta Leste do país.

Durante o dia, muitos aproveitam para dormir porque não conseguem descansar durante a noite. São poucos os timorenses que andam nas "ruas" do campo entre as cordas esticadas que seguram as lonas de diversas cores, que fazem agora a vez dos telhados, e das chapas de zinco muito utilizadas na construção das casas em Timor.

Depois de identificados perante a segurança do campo, os visitantes percorrem sem problemas os caminhos entre as tendas, algumas das quais já servem também de mercearia para venda de produtos de higiene, alguns bens alimentares e guloseimas para os mais pequenos.

Recebem quatro quilos de arroz por pessoa a cada duas semanas, óleo para cozinhar e outros bens alimentares.

Apesar das condições precárias em que vivem, preferem "ficar no campo a voltar para casa enquanto a segurança não estiver mesmo garantida", diz Maria Julieta, 40 anos, que vive no centro há três meses com os cinco filhos.

Sem nada para fazer, além de contar os dias em que permanece no campo rodeada por crianças irrequietas que parecem indiferentes à instabilidade, Maria Julieta recorda que chegou ao local vinda do bairro da Vila Verde, que fica ao lado do perímetro protegido pelas Nações Unidas.

"Fugiram todos e tive de vir também porque tinha medo do que me podia acontecer", disse Maria Julieta, acrescentando que sente alguma insegurança quando a noite cai em Timor-Leste.

Diz ter receio dos ataques que têm sido desferidos contra o campo nos últimos dias, visto que a zona foi alvo da violência de jovens que atiraram pedras e "coktails molotov" que, no entanto, não fizeram danos ou feridos.

Com cerca de cinco mil pessoas, o campo é um amontoado de tendas, cartões, plásticos e outros materiais inflamáveis. Um rastilho perfeito caso as bombas incendiárias tivessem cumprido a sua missão.

Por isso, e depois de dois ataques seguidos, muitos dos que lá estavam - três mil segundo as Nações Unidas - foram embora para local incerto.

Os guardas do campo evitam falar com os jornalistas e querem apenas saber ao que vamos e quem somos. Têm que zelar pela segurança mas acreditam que a situação está controlada enquanto as forças internacionais estiverem nas imediações a guardar o perímetro, como foi solicitado pelas Nações Unidas.

Lá dentro, a vida continua. Alguns não estão porque foram trabalhar, outros dormem, vêem televisão, jogam às cartas ou cantam em grupo.

Aqui e ali, onde a água chega, uns lavam a roupa, e esperam por melhores dias para regressarem normalmente à escola. Salvador Viana, 17 anos, e Matilde Jesus estão incluídos no grupo dos estudantes, ele a acabar o secundário e a "fazer exames noutras escolas", ela à espera de regressar à universidade onde estuda economia e contabilidade.

Salvador, que tem os pais em Manatuto, está no campo com mais seis pessoas entre tios e primos e chegou ao campo a 22 de Maio, devido aos conflitos entre lorosai e loromono.

"Só voltamos para casa, que sabemos tem alguns estragos nas portas e janelas, quando a situação estiver calma e a segurança for garantida", diz sublinhando que tem "medo" dos ataques a coberto da noite a partir das ruas mal iluminadas.

Já a família de Matilde de Jesus só poderá abandonar o campo se alguém das "Nações Unidas ou do Governo ajudar a reconstruir a casa que ardeu nos ataques e garantir a segurança que é necessária".

"Vamos ficar por aqui enquanto não tivermos a garantia de segurança e de um sítio para ficar, porque não podemos ir para a rua", afirma.

2 comentários:

Anónimo disse...

O que se passa afinal?
Porque é que não aconteceu o "milagre" após a queda de Alkatiri?!
E então onde estão os que se assumiram como "salvadores da pátria" e do povo martirizado?

Anónimo disse...

Aussie let my country.....
go back...and let the other to bring peace for us..,,,,don't divided us with your ambicious for our Oil....

Go back,..
goo bacckkkk.....
get out here......
getttt outttt....hereeeeeeeeee......AUSSIE!!!


LET MY COUNTRY IN PEACE!!!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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