segunda-feira, setembro 18, 2006

De um leitor

Tradução da Margarida.

O que está a seguir é o prefácio do livro de Martinkus, ganhador de prémios, "Dirty Little war" que documenta a opressão Indonésia contra Timor e contra o seu povo. Este é o mesmo jornalista que escreve e produz documentários sobre a crise recente. Ele conhece e compreende as personalidades envolvidas nas políticas de Timor. Até agora foi o único a mostrar a mão de figuras de milícia, como Nemesio Carvalho e Rui Lopes. Dêmos a Martinkus algum benefício da dúvida; pois que ele tem altas referência pelo seu trabalho e obras no jornalismo e não só em Timor-Leste mas também no Iraque e em Ache. Não é um jornalista alugado como a Liz Jackson.

"O Prefácio do (livro) Dirty Little War, Random House, 2001
Por Xanana Gusmão


Quando ler este livro é importante tentar compreender o efeito que a violência catalogada aqui teve nos Timorenses de hoje. Lembre-se que as consequências violentas do governo Indonésio sobre Timor-Leste no período coberto aqui foram só as cenas finais duma ocupação brutal de 25 anos. Muito piores atrocidades do que as detalhadas aqui foram cometidas contra os Timorenses nos finais dos anos 70 e nos anos 80. Infelizmente para nós, essas (atrocidades) não foram bem documentadas. Os media internacionais estiveram lagamente silenciadas por causa das preocupações dos governos estrangeiros com as suas relações com a Indonésia e (também) com a grande impossibilidade de alguém ter acesso físico ao Leste de Timor.

Até 1989, o Leste de Timor estava proibido a todos os estrangeiros e o conflito interno, que todos os Timorenses conheceram muito bem, era largamente desconhecido para lá da nossa ilha-prisão.Em 1991 a corajosa resistência dos jovens liderou uma manifestação de massas que teve um extraordinário impacto político. A filmagem dramática de forces Indonésias a matarem civis Timorenses desarmados abriu os olhos do mundo para a violência que até lá estivera escondida.

Apesar da alargada atenção internacional que a filmagem provocou, somente ummuito pequeno número de jornalistas e de políticos continuaram a prestar atenção próxima, a falar e a relatar sobre a continuada repressão dentro do Leste de Timor. Apesar de ter dito muitas vezes que estávamos sozinhos na nossa luta, não estávamos; havia gente em todo o mundo que se preocupavam connosco e que nos ajudaram.

O trabalho de jornalistas, como John Martinkus, no Leste de Timor tornou-se crescentemente importante nos anos 90. Documentação compreensiva e imparcial de violência contra os Timorenses construíram o caminho para a pressão internacional sobre o governo Indonésio que permitiram que a ONU dirigisse a votação em Agosto de 1999.

Quando os militares Indonésios e as suas milícias próximas embarcaram na campanha de assassinatos, deslocação da população, destruição e roubo de propriedades no Leste de Timor em resposta ao resultado pela independência, parecia que outra vez o Leste de Timor e o sofrimento do seu povo seria outra vez escondida do mundo exterior. Foram somente uma mão cheia de internacionais que permaneceram para tentar e documentar os crimes finais dos militares Indonésios cometidos antes dos capacetes azuis serem autorizados a entrar no país. Este livro é um desses documentos.

John Martinkus cobriu o nosso conflito do interior de Timor-Leste desde o período de luta armada da nossa heróica guerrilha Falinti, os anos dos jovens corajosos e da resistência clandestina, a violência antes e depois da votação bem como (no período) da chegada eventual dos capacetes azuis e a partida das forças Indonésias. As histórias que ele escreveu sobre as atrocidades ajudaram a chamar a atenção internacional para o genocídio que o mundo estava a ignorar.

Este livro conta em primeira-mão alguns dos eventos chave que levaram à muito esperada independência de Timor-Leste. A violência que documenta ilustra as tácticas cruéis e violentas usadas durante tanto tempo contra o nosso povo. Estamos ainda a tentar recuperar dessas manipulações na nossa sociedade. A liberdade tem um gosto amargo para alguns que tentam superar tudo o que foi perpetrado contra eles e lidar com os enormes problemas sociais e económicos que existem no nosso país. Um processo politico complexo espera por nós nos próximos anos: registo civil, educação cívica, instalação de um sistema eleitoral, eleições nacionais, a feitura duma constituição e a instalação de instituições democráticas. Queremos uma transição harmoniosa e para isso precisamos de liderança sábia e pensada e de apoio.

Tenho esperança que este livro leve as pessoas a compreender a história violenta muito recente da nossa pátria e os efeitos correntes e a longo termo que isto terá na nossa sociedade. Tenho esperança que os leitores do livro serão capazes de melhor se identificarem connosco na nossa luta continuada para ultrapassar o nosso passado trágico e criar uma sociedade pacífica, justa e democrática. Ainda precisamos dos nossos amigos para nos apoiarem e compreenderem na nossa nova luta."

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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