quinta-feira, outubro 12, 2006

Em Timor-Leste houve uma conspiração com elementos internos e externos

Público, 12/10/06

Entrevista feita por Adelino Gomes a Mari Alkatiri

Público – No relatório do International Crisis Group (ICG, divulgado terça-feira) o seu nome surge apontado com um dos responsáveis da crise timorense, de Abril e Maio. Concorda com as conclusões do documento?

Mari Alkatiri – O relatório carece de objectividade, seriedade e honestidade intelectual no tratamento dos assuntos.

Público – Exemplos concretos?

Mari Alkatiri – Quando fala de Roque Rodrigues (ex-ministro da Defesa) viver na mesma casa do general Matan Ruak e tira conclusões de que eu me servi dessa situação para influenciar o general, São ilações sem qualquer base séria. Estiveram com Roque Rodrigues e não o questionaram sobre esta matéria.

Mais grave ainda é dizer que esta crise surgiu de um diferendo entre Xanana Gusmão e eu próprio. É uma forma simplista e bastante redutora de compreender o que se passou em Timor-Leste. A retrospectiva histórica que é feita assenta também em bases falsas. Querem atribuir a razão dos problemas de hoje a crises mal solucionadas verificadas durante a luta.

Público – O relatório aponta mais seis nomes, além dos vossos, como sendo as figuras-chave da crise.

Mari Alkatiri – Com quantas dessas pessoas os investigadores falaram?

Público – Como vê o facto de este relatório ser divulgado poucos dias antes da publicação do relatório da Comissão especial da ONU?

Mari Alkatiri – Não é simples coincidência. Mas o relatório da ONU não será influenciado, pois é profissional.

Público – Se as conclusões desse relatório lhe atribuírem culpas na crise, aceita?

Mari Alkatiri – Não fugirei às minhas responsabilidades. Não quero é que se reduza o conflito a duas pessoas – Xanana Gusmão e eu próprio. E muito menos que se veja a situação de hoje como o resultado de velhos conflitos.

Público – Poderá, em duas palavras, definir as causas do conflito?

Mari Alkatiri – Trata-se de uma conspiração em que participaram elementos internos e externos.

Público – O relatório não encontrou evidências de conspiração externa (Apesar de acusações anteriores de Alkatiri de que figuras da Igreja e dos partidos timorenses, juntamente com duas personalidades de “língua inglesa”, abordaram os militares para um golpe de Estado).

Mari Alkatiri – Sim. Não viram nada. Nem sequer responsabilizam as Nações Unidas no que respeita às unidades especiais da polícia. Dizem que foi (o ministro do Interior) Rogério Lobato. Independentemente de outras responsabilidades dele, todas as unidades foram criadas pela ONU.

Público – Assinou Há dias um comunicado da Fretilin apelando à calma. Receia mais violência quando for divulgado o relatório da ONU?

Mari Alkatiri – Reafirmo que, da parte da Fretilin, não partirá nenhuma acção de rua. Talvez isso possa acontecer do lado de grupos que se sintam defraudados com o relatório. Mas as Forças de Segurança, se quiserem, têm capacidade para controlar a situação.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Vamos ver se a comissão de inquérito patrocinada pela ONU vai ter a coragem e ser isenta em relação a todos os intervenientes responsáveis… Não deixa de ser curioso o PR já andar a fazer comentários sobre os eventuais responsáveis...Questão muito importante: Porque é que ele e os seus amigos australianos já têm conhecimento do que está no relatório? (querem saber o dia e quem deu conhecimento?). Por exemplo: no incidentes do dia 25MAI06 há um internacional (querem que diga o nome?) que afirma ter sido as F-FDTL a abrir fogo sobre a PNTL (devem estar a brincar e pensam que são todos parvos). Mas o grande problema são as provas - Filmes dos incidentes, dos encontros e gravações das conversas de alguns conspiradores com o PR e o actual PM, assim como outros testemunhos, que já foram entregues directamente ao Secretário-Geral das NU, porque parece que a comissão não esteve muito interessada (será que foi manipulada pelos jogos de bastidores do PR e do seu chefe de gabinete!?). Não se esqueçam "A VERDADE É COMO O AZEITE, VEM SEMPRE AO DE CIMA". É tudo uma farsa, tendo em vista a impunidade de alguns dos principais responsáveis, que a ONU (manipulada pelos homens das terras dos “cangurus”) não pode patrocinar e lá vai continuar a instabilidade e a desgraça dos timorenses!
O GRANDE OBJECTIVO DAS "BESTAS" DOS AUSTRALIANOS E SEUS LACAIOS É PROVOCAR INCIDENTES E INSTABILIDADE PARA QUE NÃO POSSA HAVER ELEIÇÕES OU ESTAS SEJAM IMPUGNADAS". QUE PENA OS TIMORENSES NÃO ABRIREM DEFINITIVAMENTE OS OLHOS E SE UNIREM PARA CORREREM COM ESSA GENTE PARA FORA DO PAÍS…ANALISEM COM ATENÇÃO E CHEGARÃO À CONCLUSÃO QUE O PR ESTÁ “NUM BECO SEM SAÍDA”. De facto é pena! Sempre disse, que as missões das NU, principalmente a UNOTIL, têm sido responsáveis directa ou indirectamente por quase tudo o que tem acontecido (quer por omissão ou falta de acção). A comissão vai apontar alguns dos responsáveis (arraia miúda) mas os principais, VÃO FICAR IMPUNES!!!!! Como é que já sei? Descansem que não sou bruxo. Para o PR e seus amigos (ou inimigos?) o grande tribunal será a sua própria consciência e o povo timorense. Quem fez acordos com os indonésios na cadeia é capaz de tudo.…Será que já vendeu a soberania dos timorenses? Quais as contrapartidas dos intermediários ou mediadores? Até breve. Continuarão a ter notícias minhas. Primo do RAMELAU

Anónimo disse...

Inacreditável como se chama "relatório" a um panfleto propagandístico desse ICG (dirigido por Gareth Evans e financiado pelos governos da Austrália, Japão, UK, NZ e USA), equiparando-o ao relatório da comissão de inquérito da ONU.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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