sábado, novembro 11, 2006

Mari Alkatiri: Nunca mais me encontrei com o presidente Xanana

Correio da Manhã - 10-11-2006

Carlos Menezes / F. J. Gonçalves

Mari Alkatiri, ex-primeiro-ministro de Timor-Leste, está desde ontem em Portugal para efectuar exames médicos de rotina. Alkatiri continua a defender que a crise política no país resultou de “um golpe de Estado que não foi concluído graças à Fretilin”.

Correio da Manhã – Há possibilidades de voltar a candidatar-se a primeiro-ministro?

Mari Alkatiri – Eu sempre disse que nunca me candidatei. Nenhuma vez me candidatei a primeiro-ministro. O meu partido, Fretilin, ganhou as eleições em 2001 e fui indicado para chefiar o governo e assumi. Procurei fazer melhor para o país. Depois dessa experiência, às vezes, obriga-nos a reflectir um pouco mais, repensar se sirvo melhor no governo ou no partido. Se o partido entender que eu devo voltar a chefiar o governo, só tenho de agradecer. Caso contrário, trabalharei só para o partido.

– Por que razão insistiu na investigação do processo de distribuição de armas?

– Já critiquei várias vezes o relatório da ONU sobre este assunto. Se o assunto mais importante era o meu, por ser ex-primeiro-ministro, a investigação deveria ir até ao fim. Deixar a investigação como se deixou é politizar a Justiça. Continuo totalmente disponível para colaborar com a Justiça.

– Como está a actual situação política no país?

– O país agora está bem melhor. Contudo, estamos ainda a enfrentar o problema dos deslocados. O actual primeiro-ministro, José Ramos-Horta, pediu-me para intervir como secretário-geral da Fretilin e tudo estou a fazer para ajudar o governo no sentido de resolver todos os problemas, prioritariamente criar condições para que os deslocados regressem às suas zonas de origem, às suas casas.

– O presidente do Parlamento Nacional e o primeiro-ministro foram ao Aeroporto de Díli despedir-se de si antes de viajar para Portugal. O que significa?

– Significa que depois de toda essa crise ficou a amizade.

– Ramos-Horta agradeceu à Fretilin pelo facto de o país não ter caído numa guerra civil...

– Eu não tenho dúvidas nenhumas de que foi necessário fazer uma contenção, controlar os militantes da Fretilin para salvar o país de uma guerra civil. Não venham outras instituições reclamar que salvaram o país porque foi a Fretilin que salvou o país.

– A que instituições se refere...

– Há muitas que, às vezes, reclamam salvadores da pátria...

– Na altura da crise de Maio, disse que estava em curso uma tentativa de golpe de Estado. Ainda entende que foi esse caso?

– Foi mesmo um golpe, embora algumas pessoas aceitem a teoria da conspiração e do golpe. Mas que foi um golpe, foi. Não foi concluído, não porque houve falta de vontade daqueles que o queriam fazer, mas mais precisamente pela reacção da Fretilin de contenção e de tolerância.

– Mas nunca referiu nomes, continua a não querer envolver o presidente Xanana Gusmão no caso?

– A situação actual é para nós olharmos para a frente. Classifico o que se passou de crise de liderança nacional, é uma crise profunda. Como consequência, tivemos uma quebra de autoridade de Estado e hipoteca de parte da nossa soberania.

– Como estão as suas relações com o presidente Xanana?

– Nunca mais nos encontrámos, desde que me demiti. Há vários esforços no sentido de nos porem em contacto. Ele diz que é meu amigo, eu digo que sou amigo dele. A amizade prevalece.

– Alguns membros do seu governo terão participado na distribuição de armas aos civis?

– Esta é uma outra questão que a Comissão Internacional de Inquérito Independente investigou muito profundamente e chegou à conclusão que não havia importação ilegal de armas. Os contentores que foram encontrados, entraram legalmente no país. Estranhamente, depois de terem chegado a essa conclusão, a comissão pura e simplesmente passou uma esponja por cima de tudo isso e não mencionou no relatório. Porquê?

PERFIL

Mari Alkatiri, formado em Direito, é de ascendência iemenita mas nasceu em Timor-Leste, há 56 anos. Mari Alkatiri, um dos fundadores da Fretilin, em 1974, estava fora do território timorense quando se efectuou a invasão indonésia. Juntamente com Mari Alkatiri estavam também no exterior José Ramos-Horta e Abílio Araújo.

No regresso a Timor-Leste, Mari Alkatiri fez parte do Governo de Transição. Em nome do governo, Alkatiri dirigiu delegações timorenses que entabularam conversações com a Austrália sobre a exploração do petróleo. Esteve 20 anos exilado em Moçambique.

Secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri levou o partido a vencer as eleições legislativas de 2001, tornando-se assim primeiro-ministro até Junho deste ano, quando, por causa da grave crise política, resignou das suas funções.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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