terça-feira, novembro 07, 2006

Xanana acusa FRETILIN de "total falta de honestidade política"

Díli, 06 Nov (Lusa) - O Presidente timorense, Xanana Gusmão, acusou hoje a FRETILIN, e o seu Comité Central (CC), de "total falta de honestidade política" considerando que um documento aprovado na última reunião daquele órgão partidário representa um "insulto" à inteligência.

O violento ataque vem inserido num texto de opinião publicado hoje em Díli, na edição do Jornal Diário Nacional, um dos três diários que são editados em Timor-Leste, e intitula-se "As Teorias das Conspirações".

Escrito parcialmente em tom irónico, mas assestando duras críticas contra a direcção da FRETILIN eleita no último congresso, em Maio passado, Xanana Gusmão fundamenta a sua opinião a partir do texto "Análise da Situação e Perspectivas" aprovado na última reunião do CC, a 29 de Outubro.

Com data de 03 de Novembro, o extenso texto de Xanana Gusmão - com uma segunda parte prometida para a edição de terça-feira do jornal -, escalpeliza ponto por ponto o documento do CC, em que a FRETILIN considera ter a actual crise em Timor-Leste passado por várias evoluções, visando "pôr em causa a ordem constitucional" e envolvendo "actores internos e externos", que, todavia, não identifica.

E é neste ponto que Xanana Gusmão lança um desafio ao partido maioritário.

"Imploro, rogo, peço ao CC da FRETILIN para apresentar com melhores detalhes o plano urdido de golpe e de conspirações, com a identidade de todos os actores, internos e externos", lê-se no texto.

No seu documento, a FRETILIN considera que a actual crise no país conduzirá a um "Plano B", que prevê o recurso a "actos terroristas mais selectivos", pensado por "actores internos e externos" com o objectivo de destruir a ordem constitucional.

Nesse documento, de seis páginas, a FRETILIN evidencia uma tomada de po sição extremamente crítica, considerando que a crise assenta "essencialmente num conflito de natureza política onde o desrespeito pela ordem constitucional democrática e os meios e formas de agir reflectem o carácter profundamente antidemocrático e golpista".

Segundo esta tese, este plano conspirativo terá começado logo em 2002, com "a tentativa de forçar a criação de um Governo de Unidade Nacional", tendo assumido, ainda segundo a FRETILIN, diversas formas até à crise actual.

"Durante estes quatro anos, um plano bem traçado de contra-inteligência foi sendo implementado" e dele fizeram parte a exploração de alegadas rivalidades e de um "clima de suspeição mútua" entre as forças armadas e a polícia nacion al, segundo o partido maioritário, liderado pelo ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri.

Na sua reacção ao documento da FRETILIN, Xanana sustenta que "desta lindíssima frase" se pode "tirar duas peças importantes que sugerem a total falta de honestidade política e representam um insulto às mentes comuns das pessoas comuns".

Relativamente a outros considerandos do documento da FRETILIN, o Presidente da República hesita em classificá-los como "contra-inteligência" ou "contra-informação".

"A certeza é porém uma: de inteligente, há muito pouca relação. Será, no mínimo, necessário um pouco mais de esperteza apenas", frisa.

A publicação do texto de opinião ocorre a poucos dias do início do processo de transferência de dezenas de milhares de deslocados, que vivem em campos espalhados pela cidade, numa iniciativa do governo liderado por José Ramos-Horta, e num período actualmente superior a uma semana em que não se registam incidentes de monta na capital timorense.

A crise político-militar em Timor-Leste, iniciou-se em Abril e dela resultou a desintegração da Polícia Nacional e a divisão das forças armadas, a morte de mais de meia centena de pessoas, a fuga de cerca de 18 por cento da populaç ão das suas áreas de residência para campos de deslocados e a destruição de bens públicos e privados.

EL-Lusa/Fim

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4 comentários:

Anónimo disse...

Acho o artigo do Presidente da República positivo.
É bom que o PR escreva o que pensa. Que finalmente fale, divulgue as suas opiniões. É bom que o jogo político se clarifique.Que finalmente se faça política. Se as discordâncias eram tão sérias e tão profundas não compreendo é porque é que foi preciso uma crise tão dura e injusta para o povo, para que finalmente o PR visse falar.Mas ainda bem que agora fala abertamente e diz o que pensa.Mais vale tarde que nunca.
Discutir, debater, trocar ideias e opiniões, é positivo.Discordar faz parte da vida.
É bom que o debate se faça.Em liberdade.
Porque só com debate o povo ficará esclarecido sobre as diferentes opiniões e poderá em 2007 votar livremente sobre o que pensa que é melhor para o país.
Saibam todos manter a serenidade no calor da discussão.
Um aspecto negativo do discurso é funalizar muito as coisas. Demonizar ou diabolizar as pessoas não me parece bem. Sobretudo porque Xanana Gusmão não é só um cidadão timorense a escrever num jornal, é também o Presidente da República do país. Os Ministros quando ocupam os cargos, e enquanto os ocupam são os titulares da instituição. E deve ser mantido um certo respeito institucional.Não por causa das pessoas, que passam e outras hão-de vir, mas por causa da instituição, que é bom para todos que não fique abalada no seu prestígio ou autoridade por causa de um certo titular que ocupou o cargo em determinado momento.

O discurso do PR está em português e fico satisfeito que seja assim.
É bom saber que as suas discordâncias políticas com o partido do governo não envolvem a opção cultural e linguística que foi afinal do CNRT.

A democracia faz-se com debate de ideias e em paz. E em política há adversários e não inimigos. Todos são timorenses.

Anónimo disse...

Xanana Gusmão perdeu as estribeiras e ficou nervosíssimo. Ele enfiou a carapuça, mostrando-se incomodado com alusões a "golpistas" que contudo não mencionavam nomes.

Se ele não é golpista, porque ficou tão nervoso ao ponto de ter que rebater as afirmações da Fretilin num jornal?

É lamentável que não esteja antes preocupado com o bem-estar do povo, especialmente das pessoas que vivem nos campos de refugiados e não têm casa para onde ir.

Anónimo disse...

Se nao es golpista nao precisa de ofender , porque quem ofende ele e . Sao coisas ..... finalmente ... indirectamente ...ficou nervoso porque ????????? complicado .... descontrolado ... totalmente .

Anónimo disse...

Embora não concorde que um Presidente da República entre num registo destes, não posso deixar de concordar ele toca exactamente nos pontos fulcrais que esta direcção da FRETILIN, na sua ânsia de colar a resistência ao Partido, inculcou na política timorense.

E a Margarida Botelho está a ser facciosa quando cita declarações de Xanana em 200 e não cita as declarações posteriores, em 2001, em qye ele entende que deviam ser realizadas eleições Legislativas em 2002.
É que em causa está o rompimento unilateral por parte da FRETILIN do pacto de formação do Governo de Unidade Nacional. E isto faz toda a diferença.

E compreendo a insatisfação do Presidente quando se refere repetidamente ao métoido de eleição da actual direcção da FRETILIN. O acórdão do Tribunal de Recurso apenas decide que não pode tomar conheciomento do requerimento por extemporaneidade. As considerações que se seguem não fazem parte do acórdão e reflectem apenas a visão política dos juízes. Como se sabe, até porque lá vem referido, socorreram-se de um parecer de Gomes Canotilho sobre o mesmo assunto em análise no Tribunal Constitucional Português, que por acaso decidiu em sentido contrário sobre o mesmíssimo assunto, basenado-se em pareceres de outros, não menos doutos, Constitucionalistas.

compreendo que o Tribunal de Recurso o tenha feito para evitar uma escalada de violência se não tivesse acrescentado o seu parecer, ou mesmo se tivesse opinado em sentido contrário. Mas no que toca à transparência democrática dos partidos, prestou um péssimo serviço.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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