quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Reinado diz ter "vergonha" de Xanana e exige saída da GNR (ACTUALIZADA)

Lisboa, 28 Fev (Lusa) - O major Reinado, cercado por tropas australianas na vila de Same, a sul de Díli, disse hoje ter "vergonha" de Xanana Gusmão, afirmando numa entrevista à Lusa que os efectivos da GNR devem regressar a casa.

"Sinto tristeza e vergonha de ter um líder como o senhor Xanana, que não pensa duas vezes, que não quis saber a realidade e que agiu antes de pensar mandando uma força internacional contra mim", disse à Lusa, num contacto telefónico.

Reinado, que pediu para a entrevista ser em inglês - afirmando que já perdeu a sua "costela" de português - afirmou que não existe qualquer mandado de captura para a sua prisão e que, por isso, a ordem de actuação dada às tropas australianas para o cercarem "é ilegal".

"Eu não me rendi nunca porque até aqui os meus direitos não foram respeitados. Porque é que isto não ficou nas mãos da justiça? Porque não há um mandado para a minha captura? Porquê enviar tropas", questionou.

"A Austrália não tem autorização para intervir na justiça de Timor-Leste. Onde está a soberania e a dignidade deste país e dos seus líderes?", questionou.

Reinado, que está no centro de Same cercado desde terça-feira por efectivos militares australianos, criticou igualmente Portugal, afirmando que deve retirar de imediato o seu contingente da GNR no terreno.

Questionado directamente sobre que mensagem tinha para Portugal, Reinado foi peremptório: "Go home".

"Porquê mandar a GNR para aqui, para se tornarem em soldados contratados do Mari Alkatiri, para servir os seus interesses?", questionou.

"Isso vai destruir a relação entre os nossos países. Chame-nos para casa depressa", afirmou.

Na entrevista à Lusa, Reinado negou ter atacado qualquer posto militar - uma acusação que motivou, por ordem da presidência da República, a acção em curso em Same, a 81 quilómetros sul da capital, Díli.

"É uma grande mentira. Nunca ataquei ninguém. Fui como amigo, bebi café com eles, almocei com eles. Eles deram-me algumas armas mas para defender o povo. Ficaram com as suas pistolas nos coldres", afirmou.

"Alguns voluntariamente vieram comigo. Como se pode atacar um posto mais armado que tu, sem som de disparos, sem ninguém ser ferido, sem confrontos, e a poucos metros da fronteira com a Indonésia e os indonésios não ouvirem nada", afirmou.

Reinado acusou ainda Xanana Gusmão de travar a transmissão de declarações feitas por si, na terça-feira e por outras pessoas que o acompanhavam, afirmando que "não deixaram que essas declarações fossem transmitidas".

"O senhor Xanana e o senhor Horta não queriam que isto fosse dito. Porquê fazer isso? É só propaganda, só mentiras. Que façam a investigação, que saibam verdadeiramente o que aconteceu", afirmou.

Questionado sobre o número de pessoas ou de armas que tem consigo, Reinado disse que "um militar não pode revelar esses dados", afirmando porém que "mais pessoas estão a caminho".

"Vocês vão ver. Virão mais pessoas. Voluntariamente. Porque eu estou a defender o povo. Não os interesses políticos", afirmou.

Relativamente ao cerco em curso, Reinado considera que se trata de uma tentativa clara de o neutralizar.

"Penso que a razão desta acção é porque me querem abater.

Querem fechar-me a boca, não querem que diga a verdade", afirmou.

"Se não fosse para isso, porque estariam já a tomar estas acções? Sem negociações e sem investigações. Será que o melhor para resolver isto é mesmo com armas?", questionou.

Criticando duramente a liderança política timorense, Reinado atacou em particular Xanana Gusmão afirmando que "tem que se tornar um líder a sério, que respeita as pessoas e não um líder que serve o seu interesse pessoal".

À comunidade internacional apelou para que "respeite a soberania e a independência de Timor-Leste", afirmando que quem está no terreno "deve agir de forma humanitária e não envolver-se na política".

"Amanhã, se eu ainda estiver vivo, e voltar a ver o nascer do sol, falamos mais", afirmou.

Em entrevista à Agência Lusa, o comandante das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) estacionadas em Timor-Leste, brigadeiro Mal Rerden, afirmara terça-feira que a rendição era a única opção que resta ao major timorense Alfredo Reinado.

O brigadeiro Mal Rerden sublinhou ainda que "Reinado é claramente uma figura significativa nesta situação".

A situação em Timor-Leste agravou-se na sequência do ataque perpetrado domingo pelo major Alfredo Reinado, antigo comandante da Polícia Militar timorense, a três postos da polícia junto à fronteira com a Indonésia, o que levou segunda-feira o Presidente timorense, Xanana Gusmão, a ordenar a captura e prisão do oficial rebelado.

Os soldados australianos cercaram terça-feira na cidade de Same elementos suspeitos de pertencerem ao grupo do major Reinado, entre os quais estará o próprio militar revoltoso.

As ISF estão a conduzir operações em todos os 13 distritos do país, tendo em vários deles as operações sido reforçadas em apoio ao recenseamento eleitoral.

ASP/PRM-Lusa/Fim

5 comentários:

Anónimo disse...

"O senhor Xanana e o senhor Horta não queriam que isto fosse dito. Porquê fazer isso? É só propaganda, só mentiras.
[...]
Penso que a razão desta acção é porque me querem abater.

Querem fechar-me a boca, não querem que diga a verdade
[...]
Reinado atacou em particular Xanana Gusmão afirmando que "tem que se tornar um líder a sério, que respeita as pessoas e não um líder que serve o seu interesse pessoal"

Acho que Reinado já disse tudo...

Anónimo disse...

Ó H. Correia. Quem é afinal o louco...Aqui fazes um comentário, e noutra parte (veja o abaixo trancrito)já falas doutra maneira...Mas que granda AGITADOR!!!

'' H. Correia deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Zangam-se as comadres...":

Depois de ler o discurso de Reinado, ainda não percebi se ele é louco ou se realmente acredita naquilo que diz. Se esta última hipótese for verdadeira, então fica a dúvida no ar: se não é louco, porque se engana a si próprio? Ele sabe que terá que prestar contas à Justiça e, consequentemente, toda e qualquer justificação que invocar para o seu comportamento não tem sustentação. Ele sabe que está só, terrivelmente só.

Aparentemente, parece ser um homem corajoso. Se assim for, dá certamente pena ver um homem desperdiçar assim essa rara qualidade por uma causa perdida. Mas, dadas as circunstâncias, parece que essa hipotética coragem está completamente fora de contexto. Ela surge como uma reacção equívoca, contra as pessoas erradas e no momento errado - cronológica e historicamente. Faz-nos lembrar o Sancho Pança lutando desesperadamente contra os moinhos de vento.

Então, o que o move? Ele sabe que foi completamente abandonado, quando diz que "Respeito a decisão do presidente, mas estou triste e sinto vergonha de ouvir isto"; "sempre respeitei e segui as suas ordens e que continuo dado que ele é o meu comandante supremo."; "Ele deve ser mais estúpido do que eu por ter confiado em mim".

Reinado está ferido no seu orgulho. Sente-se traído por aquele em quem confiou cegamente, tendo levado os seus actos para além do ponto de não retorno e agora sabe que é tarde demais para se livrar da má sorte que o espera, seja ela qual for. Venha o diabo e escolha.

Reinado é neste momento um homem perdido, desesperado e encurralado. Esperemos que os deuses, quando se reunirem em concílio para decidirem o desfecho deste drama, sejam benevolentes e que não haja sangue derramado ou perda de vidas, que a ninguém aproveitaria.''

Anónimo disse...

Acima de tudo, Reinado teme que o queiram abater para não abrir a boca. Há-de tentar que as negociações para a sua rendição sejam o mais públicas possíveis para não dar desculpa a que o abatam.

Situação mais que embaraçosa para muita gente.

Anónimo disse...

Correia, agora o Reinado tem um bom diagnóstico do Xanana? Estes comentários do ex-major traduzem mais o seu desespero do que uma análise bem fundada. Deve estar com a convicção que entrou numa canoa furada.
Assusta saber, tbm, que tem 150 seguidores!
Alfredo
Brasil

Anónimo disse...

Reinado... grande homem!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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