domingo, abril 29, 2007

É Lu Olo o ‘verdadeiro diplomata’?

(Tradução da Margarida)

28.04.2007
- de um correspondente em Dili

Os líderes e militantes da FRETILIN estão bastante satisfeitos hoje à noite, depois do debate Presidencial televisivo em Timor-Leste. Lu’Olo, o seu ultrapassou claramente o opositor Ramos Horta em cada uma das cinco perguntas, em questões que abordaram desde as relações internacionais, até à crise actual e as prioridades para o desenvolvimento. O debate deixou muita gente a interrogar-se porque é que Horta tem sido capaz de dominar os relatos dos media sobre as eleições, especialmente na Austrália.

Lu’Olo foi “objectivo, e respondeu a cada questão com confiança”, disse-me um jovem apoiante logo depois de acabar o debate. “O Sr Horta foi vago, enganava-se nas perguntas e tentou ofender. Isto vão vai cair bem nos eleitores Timorenses, que esperam que os candidatos actuem com educação para o outro.”

“Lu Olo apenas tirou a quarta classe na escola e o Dr Horta tem um bacharelato,” disse um outro. "Mas de cada vez que o Horta falou, Lu’Olo tinha uma réplica melhor”.

Como é característico nele, Lu Olo apenas fez uma breve menção aos seus vinte e quatro anos como combatente na guerrilha pela independência. Em vez disso, as suas respostas focaram-se nos compromissos básicos da sua plataforma eleitoral. Em contraste, Horta fartou-se de falar acerca dele próprio, acerca das suas relações pessoais com os líderes do mundo, a sua proximidade com a igreja católica, e o seu próprio estatuto de fundador da FRETILIN.

Os líderes da FRETILIN em Dili foram surpreendidos pelo uso continuado por Horta da propaganda anti-comunista que foi usada pela Indonésia contra o movimento da independência.

Chamou à FRETILIN em Tétun ‘galo vermelho’, o calão local para comunista. Também se referiu à FRETILIN como partido Marxista, apesar de saber que desde há mais de vinte anos que isso não é verdade. E atacou pessoalmente um dos líderes da mais jovem geração da FRETILIN, o Secretário de Estado para a Juventude e Desportos, José Manuel Fernandes, como sendo um “camarada vermelho da FRETILIN.” Falando com apoiantes depois do debate, o próprio Lu’olo referiu-se a essas tácticas como “palha”, uma expressão local para coisa sem valor, sem importância.

Horta passou algum tempo a falar acerca da sua relação pessoal com o Primeiro-Ministro Australiano John Howard. “Horta disse que pode pegar no telefone em qualquer altura e telefonar para Howard,” disse Filomena De Almeida, da Unidade de Informação da FRETILIN, que passou muitos anos na Austrália, como refugiada. “Isto é uma coisa estranha de usar como um atestado para liderar um país independente, que se orgulha do seu próprio não-alinhamento. O que vai acontecer se John Howard perder as próximas eleições?”

Horta mencionou as suas relações pessoais estreitas com vários outros líderes, incluindo a Presidente das Filipinas Aroyo e o Presidente da Indonésia Yudiono. A sua tentativa mais descarada de indicar nomes foi quando se referiu à sua amizade com a líder Democrata dos USA, Nancy Pelosi, mencionando que a sua filha tinha ficado com ele nas férias, há alguns anos atrás.

“A ironia é que Horta estava a reclamar créditos para a sua experiência diplomática, mas foi Lu Olo quem melhor se comportou como um verdadeiro diplomata”, disse o Ministro da FRETILIN José Teixeira, que liderou as negociações do petróleo com a Austrália. “Lu Olo foi digno, civil, e respeitoso, que é como deve ser um Chefe de Estado.” O próprio Lu Olo disse que Horta entendeu mal as relações internacionais, se pensava que podem ser baseadas em contactos pessoais. E lembrou ao seu opositor que o Presidente Indonésio tinha dito que trabalhará com satisfação com quem quer que ganhe.

Diferenças claras emergiram entre os candidatos na questão Constitucional da separação de poderes. Horta fugiu claramente ao assunto com a sua defesa dos amotinados armados, Reinado e Rai Los, a quem está a tentar recrutar para a sua altamente improvável coligação de apoiantes. Lu Olo exigiu que o Presidente respeite a independência do sistema judicial e o uso de poderes que tem sob a Constituição para resolver a crise. Numa altura, Horta referiu-se à separação de poderes, e à separação da Igreja e do Estado como ideias ‘modernas’ que não pertencem a Timor- Leste.

“Como católico, tenho três líderes”, disse Horta, “o Papa e dois Bispos. Encontro-me com os Bispos todas as semanas.A Igreja tem quinhentos anos de experiência em Timor-Leste.”

“Nós os Timorenses temos estado cá desde o princípio,” retorquiu Lu’Olo.

Horta atacou a obra do primeiro governo liderado por Mari Alaktiri da FRETILIN, mas teve cuidado em não denegrir o feito de Alakatiri de estabelecer o Fundo do Petróleo, considerado um modelo da melhor prática internacional. Quando Horta tentou argumentar que os fundos do petróleo deviam ser gastos com mais rapidez, Lu’Olo lembrou-lhe que o país tem um Plano Nacional de Desenvolvimento, e que a lei do Fundo do Petróleo, que montou o mecanismo para controlar as despesas do petróleo, foi aprovado com os votos unânimes de todos os partidos no Parlamento.

Os comentários finais foram talvez os que indicam melhor as diferenças entre os dois. “Não votem em mim por ter sido um fundador da FRETILIN,” disse Horta. “Escolham-me porque sou um laureado do Nobel da paz.”

Lu’Olo agradeceu ao povo por ter votado pacificamente na primeira volta, e lembrou a Horta que foi o único candidato a ganhar votos em todos os distritos. “Sou um candidato da FRETILIN,” disse, “do partido que lutou pela independência durante vinte e cinco anos. Esta é uma grande herança. Presto a minha honra todos os que morreram e quero continuar a servir as suas viúvas e órfãos. Foi por isso que aceitei – para defender o povo, para defender o nosso país e para defender a nossa soberania nacional.”

***

Ramos-Horta fala por si. Patético.

5 comentários:

Anónimo disse...

caro Malai Azul

sem pretender abusar do espaço do seu blog, atrevo-me a colocar aqui o comentário que há pouco enviei para o blog do timor-deste, pois palpita-me que o mesmo vai ser cortado, dada a veia censória e anti-democrata que o referido autor desse blog tem vindo a demonstrar:

"""ah grande democrata....

é mesmo assim!! corta-se o pio à Margarida e só passam a ouvir os correlegionários... fica tudo em família....

por outro lado, também diz saber quem é a Margarida... talvez!!! tenho contudo sérias dúvidas, já que para isso teria de viver em lisboa.... e, nesse caso, como justificaria o seu conhecimento do que se passa em Timor que afirma possuir???? ou é, e tudo parece indicar que o é, mesmo mais uma manobra de diversão que serve para atirar o odioso para a fretilin????

fique bem, com os seus...."""""

e isto a propósito de um comentário que o timor-deste faz em resposta à amiga Margarida, referindo que lhe vai cortar o pio... não lhe publicando mais qualquer comentário....

cumprimentos do
st

Anónimo disse...

Obrigado ST, mas daquele blog a que se refere não era esperado outro comportamento que não é só de agora. Claro que eles não me conhecem de lado nenhum nem sequer de Lisboa porque eu nem sequer moro em Lisboa. Mas é importante irmos descobrindo a careca a esses camaleões oportunistas, que não lhe doa a voz na denúncia de quem vende alma a qualquer estrangeiro contra os interesses da independência e soberania nacional de Timor-Leste.

Anónimo disse...

A experiência diz-nos que há gente e organizações que quando dizem qualquer coisa a maioria das vezes defende rigorosamente o contrário. Diz-nos também a experiência que muitas vezes o ataque é a melhor defesa e também aprendemos que há quem use e abuse destas tácticas em tempos de guerras preemptivas.
Por certo que o Horta que agora apela ao voto invocando ser um laureado do Nobel e que despudoradamente usa como vantagem eleitoral a filha da líder dos Democratas dos USA Nancy Pelosi para levar a água ao seu moinho, é exactamente o mesmo Horta que aquando da invasão do Iraque escreveu um vergonhoso artigo num diário norte-americano incentivando Bush, à revelia da ONU, à invasão desse país soberano e o mesmíssimo Horta que ainda há poucos meses convidou o próprio Bush a visitar Timor-Leste.
Logo após a primeira volta, achei uma tontice completa aquela estapafúrdia exigência dele à ONU para descobrir o que tinha acontecido a 150.000 eleitores que não tinham ido às urnas. Mas agora quando leio alegações dele sobre compras de cartões de eleitores imediatamente seguidas da farisaica afirmação de que os dirigentes de topo da Fretilin “não sabem do assunto” (nada como cautelas e caldos de galinha…pois a lei da difamação já está em vigor), fico a perceber que afinal quem sabe – e muito, certamente! – do assunto é precisamente o próprio Horta e os seus comparsas, que até conhecem a cotação dessa ignóbil negociata…

E assim prossegue a estratégia de cinismo e vitimização deste camaleão.

Anónimo disse...

Mas o que é esse Timor deste?

Anónimo disse...

H. Correia: experimente no google e descobrirá o que é.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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