sexta-feira, maio 04, 2007

Gough Whitlam vai depor sobre morte de jornalistas em 1975

Notícias Lusófonas - 03.05.2007

O antigo primeiro-ministro australiano Gough Whitlam vai apresentar-se na próxima semana como testemunha no tribunal que investiga a morte dos cinco jornalistas estrangeiros que cobriam a invasão militar indonésia de Timor-Leste, em 1975.

Segundo o magistrado provincial australiano Dorrele Pinch, citado pelo diário Sydney Morning Herald, Whitlam, actualmente com 90 anos, vai comparecer no tribunal na próxima terça-feira, juntamente com o seu então ministro da Defesa, Bill Morrison, e com o, na altura, seu chefe de gabinete, John Menadue.

Whitlam, que era primeiro-ministro quando as forças militares indonésias invadiram Timor-Leste, já afirmou num depoimento escrito que só soube da morte dos cinco jornalistas - dois australianos, dois britânicos e um neo-zelandês - a 21 de Outubro de 1975, cinco dias após o incidente.

"Além do que já disse, duvido que (Whitlam) tenha algo mais a acrescentar. No entanto, não seria bom se não investigássemos o assunto a fundo", afirmou Pinch, aludindo às mortes de Greg Shackleton, Gary Cunningham e Tony Stewart, do Channel Seven, e de Brian Peters e Malcolm Rennie, do Channel Nine.

Os cinco jornalistas morreram a 16 de Outubro de 1975, havendo ainda muitas dúvidas sobre as circunstâncias que rodearam as suas mortes, com versões contraditórias.

Pinch adiantou também que as investigações estão agora centradas na procura de seis homens, já identificados, que trabalhavam numa estação de contra-espionagem em Darwin na altura da morte dos jornalistas.

Segundo o magistrado provincial, os seis homens, que operavam no centro dos serviços secretos de Shoal Bay, em Darwin, poderão ajudar nas averiguações relacionadas com a morte do operador de câmara Brian Peters, pois, na altura, coligiam as comunicações da secreta indonésia.

Os seis homens procurados são Guy Peterson, Martin Robert Hicks, Michael Griggs, Clive Ronald Shepherd, Sam O'Shea e Brian Osborne, sobre quem Pinch pediu ajuda a todas as pessoas que possam ter indicações do respectivo paradeiro.

A 06 de Fevereiro último, em declarações prestadas num tribunal de Sydney, um antigo colaborador timorense do exército indonésio, identificado apenas pelo pseudónimo "Glebe 2", afirmou que um antigo comandante indonésio foi o primeiro a disparar sobre cinco jornalistas.

A testemunha adiantou que o comandante militar indonésio Yunus Yosfiah foi quem efectuou os disparos e garantiu que os cinco profissionais, que se encontravam em Balibó (oeste de Timor-Leste e próximo da fronteira com a Indonésia) não morreram em fogo cruzado como sempre afirmou a Indonésia durante o avanço das suas tropas.

Yunus Yosfiah, que na época da invasão era capitão das forcas especiais indonésias, chegando a ministro da Informação em 1980, rejeitou as acusações que classificou como mentiras.

"São tudo mentiras. Receio que essa pessoa queira iniciar uma nova vida na Austrália com essa história sensacional", disse o antigo militar à Associated Press.

O primeiro-ministro timorense, José Ramos-Horta, sempre declarou que não havia qualquer dúvida de que os jornalistas tinham sido deliberadamente assassinados pelas forças ocupantes indonésias e pediu a Jacarta para esclarecer o incidente, permitindo às famílias dos jornalistas ultrapassar este momento doloroso do passado.

"Pelo menos, deixem a verdade emergir para tranquilidade das famílias desses jornalistas", afirmou Ramos Horta.

Por seu lado, Adelino Gomes, jornalista português que se encontrava destacado pela estação de televisão RTP para cobrir uma previsível invasão de Timor-Leste, afirmou várias vezes publicamente não ter quaisquer dúvidas sobre o envolvimento das tropas indonésias no assassínio de cinco colegas e considerou "inverosímil" a versão de Jacarta.

Um relatório independente das Nações Unidas, elaborado em 2006, concluiu que, "provavelmente", os cinco jornalistas foram mortos pelos soldados indonésios.

A Indonésia invadiu a antiga colónia portuguesa em 1975, administrando-a até 1999, ano em que um plebiscito resultou numa votação esmagadora a favor da independência do território.

As forças de Jacarta em retirada e as suas milícias auxiliares destruíram a maior parte das infra-estruturas do território matando milhares de pessoas.

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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