domingo, maio 13, 2007

Ramos-Horta presidente

Jornal de Notícias, 11/05/07

Pedro Rosa Mendes, Em Díli

As coincidências não existem. Apenas acontecem. Como esta o próximo presidente da República de Timor-Leste foi confirmado, ainda que com resultados provisórios, exactamente à mesma hora a que um dos símbolos da luta de libertação e da hegemonia da Fretilin, Rogério Lobato, saía da sua casa para cumprir pena de prisão efectiva. De dois antigos camaradas de luta, os dois destinos não poderiam ter divergido mais do que aconteceu.

José Ramos-Horta saiu do Palácio das Cinzas, onde participou na reunião do Conselho de Estado ainda presidido por Xanana Gusmão, para fazer as primeiras declarações em tom de estadista. Rogério Lobato saía, à mesma hora, para cumprir, na prisão de Becora, em Díli, uma pena longa por ter armado um grupo de civis, em Abril e Maio do ano passado, com a finalidade de eliminar líderes da Oposição. Eram 18 horas quando o ex-ministro do Interior saiu do portão da sua vivenda, no bairro do Farol, para entrar num carro blindado do subagrupamento Bravo da GNR. Não ia algemado, porque "não constitui uma ameaça à segurança", comentou um dos agentes da Polícia das Nações Unidas que o foi buscar a casa. O destino a prisão de Becora, na perifeira leste de Díli, a mesma de onde fugiu, a 30 de Agosto passado, o major rebelde e ex-comandante da Polícia Militar Alfredo Reinado, o homem mais procurado do país.

Para José Ramos-Horta e Rogério Lobato, mas por razões opostas, este foi um dia que mudou as suas vidas. E foi um dia tão longo que começou, para ambos, há um ano, na crise política e militar que colocou Timor à beira da segunda guerra civil do país.

Rogério Lobato foi condenado a sete anos e meio de prisão por um colectivo de juízes do Tribunal Distrital de Díli, a 7 de Maio. A defesa recorreu da decisão, mas o Tribunal de Recurso concordou com o acórdão do juiz Ivo Rosa.

A meia hora que Rogério Lobato teve para se preparar para o longo internamento em Becora correu ao mesmo tempo que a conferência de Imprensa da Comissão Nacional de Eleições, onde a porta-voz Maria Angelina Sarmento deu os resultados provisórios das eleições de 9 de Maio. Já com 90% das estações de voto apuradas, Francisco Guterres "Lu Olo", presidente do Parlamento e candidato da Fretilin, obtinha 27% dos votos; José Ramos-Horta, primeiro-ministro e candidato independente, atingia os 73%.

Foi também neste fim de tarde, com Díli envolvida numa luz de mel e uma calma de feriado ou de desgraça, que Ramos-Horta saiu do Conselho de Estado para fazer, ainda oficiosamente, a sua primeira declaração de estadista.

"Sou fundador da Fretilin e esta é também uma vitória da Fretilin. Que fique claro que a Fretlin não é perdedora", afirmou o primeiro-ministro, na soleira do edifício onde voltará, no próximo dia 20, como chefe de Estado.

As ilhas são fechadas e Timor-Leste é só metade. Os destinos cruzam-se não apenas na hora do relógio. A casa ao lado da de Rogério Lobato é a de Taur Matan Ruak, chefe do Estado-Maior das Falintil - Forças de Defesa de Timor-Leste. A seguir é a casa de Ana Pessoa, ministra da Administração Estatal e figura do núclero duro da Fretilin. Em frente, mora Estanislau da Silva, vice-primeiro-ministro durante as ausências de Ramos-Horta. E Rui Araújo, ministro da Saúde e segundo vice-primeiro-ministro

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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