terça-feira, maio 01, 2007

Xanana Gusmão compara situação no país ao pós 25 Abril de 1974

(Serviço áudio também disponível em www.lusa.pt) Díli, 30 Abr (Lusa) - O presidente de Timor-Leste, Xanana Gusmão, comparou hoje a actual situação política do país ao período pós 25 de Abril de 1974 em que as "rivalidades políticas começaram a comandar" o espírito dos timorenses.

Ao intervir como Chefe de Estado (1) no encerramento do primeiro congresso do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), o partido que vai liderar depois de abandonar a presidência, Xanana Gusmão recordou que antes do 24 de Abril de 1974 os timorenses eram todos amigos e saudavam-se na rua, atitude que mudou com o surgimento dos partidos políticos e se prolongou até 1977.

"As amizades que anteriormente se formaram dentro da sociedade, esvaíram-se para dar lugar à intolerância de compromissos políticos, de cada um, para com o seu partido", afirmou, salientando que o povo "ficou divido e a sociedade partiu-se em bocados".

"A violência foi já a arma para impor as ideias e para responder à violência. Perdeu-se o sentido da vida, porque a vida só já tinha valor se se defendesse o partido e morrer pelo partido, significava glória e matar em defesa do partido, significava heroísmo", disse.

Num discurso político pedagógico, Xanana Gusmão sublinhou que hoje Timor-Leste "atravessa esse tipo de fanatismo" e que "ao invés de se educar o povo, está-se a aproveitar da sua ignorância para o fazer sofrer".

Para o Xanana, a "defesa dos princípios universais deve ser o fio-de-prumo no pensamento e nas acções dos cidadãos de Timor-Leste" e mais do que os cidadãos os "partidos políticos têm esse dever, essa obrigação de se comprometer com os valores que hoje regem as sociedades".

Sublinhando que aos partidos cabe traçar os caminhos do desenvolvimento do país e da dignificação do povo, Xanana Gusmão disse que a "ambição deturpar sempre os princípios que todos sabem repetir à boca cheia e a ambição ao poder torna os políticos arrogantes e mentirosos".

"O poder cega, quando é conseguido sem um compromisso honesto aos princípios que facilmente são manipulados para a perpetuação do poder e os membros deste novo partido (CNRT) devem constantemente ter isso em mente para não denegrirem os vossos ideais", afirmou.

Falando sempre no plural quando se referia a forças políticas, o presidente timorense alertou ainda que Timor-Leste é um "país subdesenvolvido em todos os aspectos, incluindo no processo de democratização das ideias, dos comportamento e atitudes".

"Há que pedir a todos os partidos e seus membros, há que lembrar a todos os cidadãos, que temos que cuidar do processo democrático em Timor-Leste", alertou para sublinhar que os partidos "devem comprometer-se a parar com a violência que os seus membros praticam, ensinando-os a não hostilizar os compatriotas que escolheram outros partidos para acomodar os seus ideais e sonhos".

Ao mesmo tempo, a "sociedade deve continuar a fazer campanha sobre as normas da tolerância e de mútuo respeito para que a população não esteja dividida porque uns pertencem a um partido e alguns a outro", sublinhou.

Xanana Gusmão afirmou também que os partidos "são adversários políticos na defesa dos seus pontos de vista quando o que está em questão é o superior interesse do povo, mas os partidos devem pautar- se pelo princípio de relações sadias entre eles".

O discurso do presidente surge numa altura em que, disse, a SPátria está a viver um clima político difícil onde a tolerância deu lugar à corrosão social, onde a harmonia se rendeu à violência, onde a paz do espírito cedeu às tentativas de corrupção de mentalidades, onde a dignidade humana ficou sujeita a manipulações políticas, a intimidações e ameaças".

"O processo democrático em Timor-Leste está no seu estádio de crescimento e, portanto, ainda muito frágil. A democracia num país, não se mede pela quantidade de partidos existentes nem pela capacidade de um partido de possuir centenas de milhares de membros ou simpatizantes", disse para explicar que o grau de democracia "mede-se pelo desenvolvimento do próprio processo no qual todos se devem comprometer em criar um ambiente saudável de relações".

Xanana Gusmão comparou ainda o desenvolvimento do processo democrático de Timor-Leste à árvore "gondoeiro", muito forte e resistente, que pode durar centenas de anos mas que apenas é forte a partir dos 20 e que até essa idade fica "exposto a todas as provações da natureza e aos maus tratos dos animais, incluindo o homem".

"Neste exemplo quero continuar a lembrar o que eu dizia à população: que o gondoeiro mal tinha sido plantado em 1999. Hoje, o processo democrático em Timor-Leste é ainda uma pequena planta com uns raminhos e poucas folhinhas".

Fortemente aplaudido, o discurso de Xanana Gusmão encerrou a primeira grande reunião do CNRT, o novo partido criado à imagem do líder da resistência e dos ideais de libertação: libertada a pátria, há que libertar o povo.

JCS-Lusa/Fim

NOTA DE RODAPÉ:

(1) Como chefe de Estado no encerramento do Congresso do partido onde acabou de ser eleito presidente??? E o jornalista acha normal? Vale tudo...

De notar que este discurso de Xanana pouco tem a ver com ele. É escrito por terceiros num tom "politicamente correcto" muito diferente do seu estilo.

Quanto às acusações que faz, lembram bastante a sua atitude durante o último ano...

3 comentários:

Anónimo disse...

Já repararam que nem uma única vez, mencionou a Constituição da República Democrática de Timor-Leste, a mesmíssima que ele jurou defender e fazer cumprir?

Anónimo disse...

IMPORTA-SE DE REPETIR?

"Xanana Gusmão recordou que antes do 24 de Abril de 1974 os timorenses eram todos amigos e saudavam-se na rua"

Isso é verdade. Mas o que quer Xanana dizer com isto? Que o Salazar é que tinha razão quando era contra os partidos? Que Timor devia voltar a ser português? Que esta coisa dos partidos "é muito moderno para Timor-Leste"?

Então e diz isto no Congresso de um novo partido fundado por ele?

Não percebi...

Anónimo disse...

Um homem que aproveitou o cargo para destruir a PNTL, acantonar as F-FDTL depois de ter provocado um motim, chamar tropas estrangeiras para lhe guardar as costas e aparar o golpe contra o seu Estado, que pelas suas acções e dos seus correligionários tem na consciência a fuga de quase 180.000 residentes de Dili, milhares de casas, negócios e edifícios do próprio Estado queimado, pilhagens, 37 mortos, dezenas de feridos e a resignação do seu legítimo PM e atreve-se a vir falar em normas de tolerância e em processo democrático?

Ele que se prepare bem para as parlamentares pois parece-me que vai ter a luta da sua vida.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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