segunda-feira, junho 04, 2007

Timor-Leste/Eleições: "Vamos impor disciplina" - Xanana Gusmão

Lusa – 1 Junho 2007, 10:00

Por Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa

Díli - Xanana Gusmão pretende "impor disciplina" ao Governo e ao Parlamento se o Congresso Nacional da Reconstrução de Timor-Leste vencer as legislativas de 30 de Junho, declarou à Lusa o ex-Presidente da República no terceiro dia da campanha eleitoral.

"Vai-se impor ali disciplina", referiu o presidente e cabeça-de-lista do CNRT para as legislativas, entrevistado pela Lusa em Baucau, segunda cidade do país, depois de um comício do CNRT na Missão Católica - o primeiro autorizado naquele recinto.

"Nós estamos a construir o Estado", afirmou. "Temos que, em primeiro lugar, construir as nossas mentalidades também. Muitas vezes os deputados faltam porque têm uma hora a dar numa universidade e outra noutra".

"Discutem mais corriqueirices e gritam mais sobre mazelas do que sobre coisas do interesse nacional", acusou Xanana Gusmão, referindo que o Parlamento na primeira legislatura serviu para "cerrar punhos e dar saudações".

"Por muitos anos, o Governo só olhou para o Governo. Não olha para os tribunais, para outros órgãos, nem para a Presidência. O Estado é o Governo porque o Governo nem é um partido. É o partido", sublinhou Xanana Gusmão numa entrevista em que dirigiu fortes críticas ao partido maioritário FRETILIN.

"Eu saí da FRETILIN mas não reclamem que tudo foi feito pela FRETILIN. Eles não aceitam os crimes que nós cometemos. Só os direitos", comentou o ex-Presidente.

"Não estou a correr atrás do poder mas quero arrebatar o poder da mão de pessoas que não têm sensibilidade nenhuma perante o sofrimento do povo", respondeu Xanana Gusmão quando interrogado sobre se quer ser primeiro-ministro.

"A lei faz-se. Mas estando no Governo, executa-se e implementa-se o que se quer", acrescentou o líder do CNRT.

Sobre a hipótese de uma coligação com a FRETILIN para governar, o líder do CNRT respondeu que coloca "a questão noutros termos: tenho um conceito de unidade nacional que não é o ajuntamento de pessoas vindas de todos os partidos".

"O projecto do CNRT é reparar o mal que apareceu com a crise (de 2006), a falta de unidade nacional. A unidade quebrou-se. A estabilidade ficou como sabemos".

"Hoje, a cultura política é de intimidação, de violência, de minimização de outras forças", declarou o ex-Presidente enquanto, no exterior do edifício onde decorria a entrevista, militantes do CNRT e uma caravana da FRETILIN trocavam insultos diante de polícias de choque das Nações Unidas.

"O conceito de unidade que percebi durante a luta (de libertação nacional) é em torno de um objectivo", explicou o antigo comandante das FALINTIL.

"A Igreja uniu-se a nós e participou porque sabia que a luta tinha o objectivo de libertar a pátria. Os que estavam bem com o regime indonésio, os militares, os paramilitares, os administradores, quando fomos bater à sua consciência de que são filhos desta terra, mudaram e participaram", recordou Xanana Gusmão, exemplificando com "uma história".

"Havia na resistência clandestina pessoas que eram capturadas pelos indonésios", recordou. "Depois de umas grandes sovas, ficavam sem uns dentes e os nossos diziam assim: parte-nos o resto porque, se ficar assim, ainda há para outra vez. Faz-me o trabalho já de uma vez".

Para o ex-Presidente, este tipo de comportamento existia "porque havia um ideal. Agora, as pessoas são facilmente alienadas porque não temos nenhum ideal, não temos nada em comum, estamos numa confusão".

"O CNRT aparece para mudar a cultura política, que me faz lembrar o fanatismo político e radicalismo partidário que nós, a geração velha, implantou em 1975, de que resultou a guerra civil, de que resultou a falta de aceitação ao diálogo. Hoje em dia estamos a viver a mesma coisa", declarou Xanana Gusmão.

"Governar é servir e pensar que os 24 anos de sacrifícios deste povo não foram uma heroicidade do Xanana nem foram um milagre das FALINTIL, mas a participação do povo", comentou.

O CNRT, explicou, propõe "o programa de desenvolvimento nacional para motivar as pessoas a aceitar sacrifícios e a trabalhar".

O partido de Xanana Gusmão propõe, se vencer as eleições, "realizar uma reforma estrutural do Governo e da Administração no primeiro ano", uma "reforma do Parlamento", "corrigir leis que não servem, como a lei do investimento" e "as leis que visavam servir os interesses de um grupo".

"Nós aparecemos para dizer aos timorenses que, se querem continuar a viver como estão, sigam aqueles que nós conhecemos. Ou se querem ter uma percepção e participar na elaboração de uma avenida comum. As avenidas fazem-se centímetro a centímetro, não aparecem feitas como se fosse um tapete", afirmou ainda o ex-Presidente.

"O povo não sabe para onde vai. Anda a perguntar. Não sabe o que pode garantir que pode viver bem. O CNRT propõe uma sinergia de ouvir, receber e dar que pode motivar o povo para uma visão do futuro", explicou Xanana Gusmão, declarando: "O futuro está aí".

Questionado sobre o que pensa o CNRT das opções da FRETILIN a longo prazo, Xanana Gusmão respondeu que "o fundo petrolífero não é desenvolvimento. O fundo é um factor, aliciante às vezes, mas é um factor que pode alicerçar um programa de desenvolvimento".

O Governo da FRETILIN "diz que guardamos ali o dinheiro para a futura geração e a futura geração é analfabeta, é doente, morre. Para quando? Para os netos deles?", acusou o ex-Presidente.

"Muitas vezes pedi-lhes: qual é o vosso plano? [Responderam que] o plano está na visão. A visão não é plano!", concluiu Xanana Gusmão.

No comício de Baucau, o CNRT contou com vários nomes do Grupo Mudança da FRETILIN, como o coordenador Vítor da Costa e o ex-chefe da diplomacia timorense, José Luís Guterres.

PRM-Lusa/fim

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"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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