domingo, julho 01, 2007

Notícias - Tradução da Margarida

Timor 'perderá'
Artigo de: Sunday Herald Sun
Karen Michelmore

Julho 01, 2007 12:00am
O partido do governo de Timor-Leste declarou que a nação perderá se for derrotado nas eleições deste fim de semana.

A Fretilin enfrenta um desafio sério à sua dominação da política Timorense do novo partido CNRT formado pelo carismático antigo presidente e líder da resistência Xanana Gusmão, de 61 anos.

"Se a Fretilin perder, isso significa que Timor-Leste perderá," disse o presidente do parlamento Francisco "Lu Olo" Guterres depois de ter votado numa escola em Dili ontem.

"Os outros partidos não têm programas, não têm planos, não têm capacidade para conduzir este governo."

Milhares de Timorenses votaram cedo em todo o país, formando longas filas sob o sol pela oportunidade de democracia.

O órgão da administração de eleições, o STAE, disse que a maioria dos 708 centros de votação tinham aberto a tempo, depois de um duro esforça para entregar os materiais – estradas e pontes foram arrastadas em inundações recentes.

Apenas ontem ao fim do dia em três estações de votação chegaram os materiais por helicóptero em Viqueque, enquanto em dois outros centros no distrito de Manufahi receberam os boletins de voto depois de uma “caminhada durante a noite pelo mato e montanhas " por funcionários eleitorais.

O Presidente José Ramos Horta disse que rezava pelo bom tempo acrescentando “Parece que ele me ouviu e temos o sol a brilhar ".

"O processo eleitoral está a correr bem, pacificamente em todo o Timor-Leste," disse depois de ter votado em Metiaut em Dili.

AAP


Políticos Escorregadios
Por John Martinkus, The Diplomat, Edição de 21 de Junho, 2007

Alguns dias antes da primeira volta das eleições presidenciais de Timor-Leste em Abril o então Primeiro-Ministro e agora Presidente José Ramos Horta relizou uma sessão informal de perguntas e respostas com principalmente membros Australianos da imprensa internacional. Ele está à vontade com jornalistas e parecia estar a divertir-se gracejando candidamente com a arrogância do seu predecessor, o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri, acerca de como iria ao aeroporto encontrar-se com o Primeiro-Ministro Malaio Mahathir oo o ministro dos estrangeiros do Laos. Um jornalista fez uma pergunta acerca das próximas eleições legislativas e das credenciais económicas de Xanana Gusmão como candidato a primeiro-ministro. É um dos pontos onde se reconhece que Alkatiri é um perito. “Há uma abundância de conselheiros neste país e no mundo”, respondeu Horta e começou a estalar os dedos e a pedir ao seu assistente para o ajudar com os nomes de alguns. Acabou a dizer, “com essa gente mais os Timorenses, Xanana não precisa de saber nada de economia”.

Horta começou então a detalhar os seus planos para pôr a economia de Timor-Leste. Se fosse eleito ele “estabeleceria quarenta a cinquenta milhões de dólares em transferência directa para os mais pobres. Outros dez para os estudantes, outros dez para a reflorestação e dez milhões para a igreja”. Disse-nos “penso que o Dr Alkatiri era demasiado conservador e cuidadoso” e que lhe tinha pedido várias vezes para pedir dinheiro emprestado. “Temos dinheiro. Mais de um bilião de dólares parados no fundo do petróleo”.

É a questão do dinheiro agora a acumular-se no Fundo do Petróleo que é a questão central na campanha em Timor-Leste entre a Fretilin e a nova coligação de entidades que formarão o CNRT o partido de Xanana Gusmão que concorre contra a Fretilin nas eleições legislativas cruciais em 30 de Junho. Gusmão declarou que quer o cargo de Primeiro-Ministro. A única maneira de se poder ter acesso ao dinheiro do fundo de petróleo de Timor-Leste é com controlo do Parlamento. Em Abril Xanana chocou muitos observadores com os seus comentários sobre o fundo do petróleo “Temos um milhar de milhões de dólares em Nova Iorque e temos gente a morrer em Timor-Leste”.

Esses comentários foram relatados na imprensa Portuguesa juntamente com o seu comentário de que Suharto fora um bom líder “Para mim, Suharto, apesar de tudo do que tem sido acusado, é o pai do desenvolvimento na Indonésia”. Isto indicou a muitos o tipo de liderança que Xanana acredita que o país precisa.

O Fundo do Petróleo foi criado a conselho da ONU e de nações dadoras para assegurar que os fundos da parte de Timor-Leste do petróleo não sejam desperdiçados por má gestão e pela corrupção. Foi louvado na altura da sua criação em 2005 como a melhor prática internacional e um modelo para países em vias de desenvolvimento com riqueza de recursos. Foi desenhado especificamente para evitar problemas de instabilidade interna e de corrupção que os rendimentos do petróleo têm trazido em muitos países pequenos e em vias de desenvolvimento. A directora do Banco Mundial para Timor-Leste na altura Elisabeth Huybens, disse: "Ninguém pode subestimar quão importante isto é,". Acrescentou que o fundo tinha "um conjunto de arranjos bastante sólidos " para proteger a santidade do fundo do petróleo. Os rendimentos do Fundo do Petróleo estão guardados numa conta no banco da Reserva Federal em Nova Iorque controlada pela Autoridade Bancária e de Pagamentos. Para se usar o fundo é exigido um decreto do Parlamento e uma declaração de um auditor independente.

Alkatiri e a Fretilin foram determinados em que o dinheiro seja usado apenas para o desenvolvimento a longo prazo do país. Francisco ‘Lu olo’ Gutteres, que foi o candidato da Fretilin às presidenciais diz que os planos de Horta e de Gusmão e as promessas que fazem em relação ao fundo do petróleo são aquilo exactamente porque o fundo foi criado para evitar. “Não queremos ficar dependentes dessas receitas do petróleo. Este é um recurso finito”. “Desenvolver uma política de simplesmente dar dinheiro cão cria uma economia sustentável” disse-me em Dili. Apontou também que não está nos poderes do Presidente fazer ofertas destas. “Este é um poder do parlamento deliberar e aprovar o orçamento. Porque é que devia ser o Ramos Horta a começar a entregar o dinheiro?” Disse ainda que não é verdadeira a acusação de que a Fretilin não gastou dinheiro do petróleo. “Quando começou o governo do meu partido não tínhamos um cêntimo nosso. Tivemos de lutar para arranjar países dadores para nos apoiarem. O nosso primeiro orçamento (2002) foi de 87 milhões …Em 2006-2007 tivemos 315 milhões no nosso orçamento incluindo receitas do petróleo de 259 milhões”. Guterres detalhou como grande parte desse dinheiro foi destinado para o desenvolvimento de um banco de crédito rural mas não foi implementado dado ter intervindo a crise de Maio de 2006 e Horta, sendo o novo Primeiro-Ministro, não o implementou.

O propósito do fundo em providenciar interesses substanciais para serem gastos em projectos de desenvolvimento em Timor-Leste e fornecer garantias de que a riqueza dos recursos de Timor-Leste não é gasta tão depressa quanto é extraída. A ideia é que quando os recursos se gastarem (estimado em 30 anos) o povo de Timor-Leste não fica de mãos vazias. As políticas de Horta e de Xanana são de que o dinheiro pode ser melhor usado em arrancar com a economia moribunda de Timor-Leste. Políticas que, apesar de serem populares com os que têm necessidades e com a comunidade dos negócios, abre a porta ao tipo de corrupção que o fundo se destina a evitar.

A crise do ano passado em Timor-Leste levou a duas versões muito diferentes sobre o que aconteceu e que estão ambas a ser usadas na campanha corrente. Em resumo, o lado que apoia a coligação anti-Fretilin, de Horta, Gusmão acredita que a crise foi o resultado de Alkatiri ter despedido 600 soldados e da armação de civis por Rogério Lobato, então ministro do Interior. O lado da Fretilin acredita que a crise foi o resultado de um esforço bem planeado para explorar o despedimento dos soldados para causar distúrbios e desacreditar o governo quando tentou responder, um esforço, dizem, que foi activamente apoiado pelo governo Australiano. Apontam as muitas acusações sem fundamento do lado anti-Fretilin que teve proeminência nos media Australianos. Acusações de valas comuns, massacres pelas forças armadas Timorenses e de esquadrões de ataque da Fretilin, todas, excepto uma, que mais tarde provaram não ter fundamento , como evidência de uma conspiração contra eles juntamente com as declarações de John Howard e de Alexander Downer a apelar a Alkatiri para resignar.


Este clima levou as pessoas em Timor-Leste a ficarem profundamente desconfiadas dos seus líderes. Enquanto a crise se arrasta sem melhorias nas condições de vida das pessoas, especialmente em Dili onde continuam os problemas, olharam para Horta como o que põe fim a este círculo e votam de acordo. Mas os pronunciamentos públicos de Xanana durante a crise, particularmente o seu discurso televisivo em Março de 2006 pondo os lo leste contra os do Oeste, deixaram muitos Timorenses desiludidos com ele e com o seu envolvimento.

A natureza sombria dos eventos do ano passado, grupos armados a actuarem parecendo de maneira independente mas a trabalharem para atingirem o objectivo de removerem Alkatiri, reflecte a natureza da liderança de Gusmão. Um comandante de guerrilha mestre na utilização da rede da resistência clandestina do passado. São os muitos operadores clandestinos que se sentiram ignorados ou postos de lado pela liderança da Fretilin sob Alkatiri que apoiam agora o CNRT na sua campanha. Além de pedirem maior acesso ao Fundo do Petróleo, uma das poucas exigências concretas do CNRT é uma auditoria aos financiamentos desde os dias da resistência devido à crença generalizada de que o dinheiro foi enviado para fora do país durante a ocupação.

A abordagem confrontacional de Xanana com o governo da Fretilin levou a que os que se opõem à Fretilin a procurar apoio dele. Rai Los, o homem que recebeu armas do Ministro do Interior, Rogério Lobato, e depois detalhou isso no programa da Four Corners que Xanana usou como evidência para exigir a resignação de Alkatiri, é um exemplo. Mas o papel de Rai Los não foi tão simples como o retratado na peça da Four Corners. Desde então confirmou-se que Rai Los e os seus homens tomaram parte num dos maiores ataques da crise, o taque contra a base das F-FDTL (as forças armadas Timorenses) em Tacitolu em 24 de Maio. Portanto, mesmo apesar de Rogério Lobato ter dado armas a Rai Los. Rai Los então deu ordens aos seus homens para atacarem as forças armadas ao lado dos peticionários e dos homens sob o Major Reinado. Em resumo, ele trocou de lado para lutar juntamente com aqueles que como contou mais tarde à Four Corners lhe tinha sido ordenado para matar pelo próprio Alkatiri – auma acusação de que mais tarde desistiu no tribunal juntamente com as acusações contra Alkatiri.

Em Abril deste ano em Dili fiquei surpreendido ao ver Rai Los, a rir, a sair do gabinete de Xanana Gusmão. Ele não foi acusado conforme foi recomendado pelo relatório da ONU sobre a violência do ano passado e de acordo com a Fretilin ele e os seus homens na cidade de Liquica, a oeste de Dili, têm estado envolvidos em violência dirigida contra apoiantes da Fretilin na área, especialmente depois da vitória de Ramos Horta em Maio, por quem Rai Los fez campanha abertamente. As outras duas figuras, Major Reinado, que inchou nos apelos para Alkatiri resignar no ano passado e que foi quem de facto começou a violência em 23 de Maio quando matou a tiro dos membros da patrulha das forças armadas no subúrbio a leste de Dili, também se evadiu de ser processado até agora. O major Reinado aparentemente está escondido nas montanhas de Timor-Leste mas não tem tido nenhum problema em falar com qualquer media que queira ouvir a sua opinião. A última dele é que não se renderá enquanto a Fretilin estiver no poder e quer, sem surpresa, que retirem todas as acusações contra ele. Começou agora a denunciar Xanana por não ter mandado parar as tropas Australianas que aparentemente ainda estão a tentar capturá-lo.

Quando Reinado veio para Dili no ano passado veio escoltado por tropas Australianas. Foi-lhe destinada uma casa pelo Presidente Xanana, no interior da qual foi descoberto um conjunto volumoso de armas, o que forçou os Australianos a prendê-lo. Um mês mais tarde saiu a pé da prisão juntamente com 30 dos seus homens e muitos presos das milícias antigas, depois de os Australianos terem deixado de guardar a prisão. Depois de meses de negociações concordou em render-se apenas para se voltar e apanhar 23 espingardas automáticas e munições de dois postos de polícia da fronteira isolados. Horta e Gusmão ordenaram finalmente às tropas Australianas para o prenderem, no que eles falharam num assalto falhado que matou cinco dos apoiantes de Reinado.

Quando se aproximava a segunda volta das eleições Horta declarou que a busca de Reinado seria travada. Isso foi uma concessão a Fernando ‘Lasama’ de Araujo e ao seu PD que tinha ficado em terceiro lugar na primeira volta e sendo próximo de Reinado se tinha oposto aos planos para o prender. O Primeiro-Ministro em exercício da Fretilin, Estanislau Da Silva, disse que Horta não tinha nenhum direito constitucional para assim fazer e que isso criaria problemas a Horta como Presidente, “ficará sob enorme pressão se se tornar Presidente”.

Todas as evidências circumstanciais apontam para a possibilidade de Horta ter feito acordos para obter o apoio desses elementos anti-Fretilin. Ambos Horta and Xanana, se o seu partido obtiver uma maioria no Parlamente, vão ter de fazer malabarismos com exigências muito diversas dos grupos que se sentiram marginalizados pela administração da Fretilin. Esses grupos vão desde antigos lutadores da independência que não foram reconhecidos pela Fretilin, aos que se acomodaram à ocupação Indonésia mas mais tarde apoiaram a Independência, os últimos incluindo muitos entre a antiga elite sob os Indonésios.

A nova liderança parece ter um apoio preponderante do governo Australiano. Tornado claro quando Horta ganhou a Presidência. “Penso que [Ramos-Horta] era o lado da esperança”, foi como o Primeiro-Ministro Australiano John Howard respondeu à notícia. Para os líderes da Fretilin isto apenas confirmou o que eles têm mantido em toda a crise. Que o envolvimento da Austrália tem sido mais para removê-los do poder do que para trazer a paz e a estabilidade para Timor-Leste.

Infelizmente para as tropas Australianas a servirem em Timor-Leste os sentimentos anti-Australianos vêem agora do tipo de gente como Alfredo Reinado e dos seus apoiantes barulhentos. Parece que os mesmos grupos que empurravam para mudanças em Timor-Leste são os que agora estão a ameaçar a estabilidade dado que disputam posições num pós-Fretilin dominado Timor-Leste e são quem ainda estão armados e ao largo.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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