quinta-feira, julho 05, 2007

Timor-Leste/Eleições: A II República da Fretilin e a derrota de Xanana

Lusa – 4 Julho 2007 - 18:28

Pedro Rosa Mendes, da agência Lusa

Díli - A vitória da Fretilin sem maioria absoluta nas legislativas de 30 de Junho, anunciada quinta-feira pela aritmética de uma contagem que ainda não terminou, marca o momento em que Timor-Leste "muda de regime" mesmo que não mude de governação.

O apuramento provisório das legislativas aponta um dado essencial: a Fretilin ganhou as eleições mas perdeu a hegemonia, afinal o seu principal instrumento de poder nos cinco anos em que dominou o governo, o Parlamento e o aparelho de Estado, desde a independência.

Outro dado: nenhuma das alternativas ou contestações à direcção e ao estilo de Francisco Guterres "Lu Olo" e de Mari Alkatiri, incluindo as internas, teve argumentos ou força para capitalizar, nas urnas, a crispação e frustração de amplos sectores da sociedade timorense com o chamado Grupo de Maputo, que, pelo menos desde 2005, mantém Timor-Leste entre a fervura e o derrame.

Mário Viegas Carrascalão, presidente do Partido Social Democrata, foi o primeiro a comentar a nova paisagem política: "Vamos entrar em crise aberta", afirmou hoje à agência Lusa.

É uma crise paradoxal: a ingovernabilidade anunciada produzida por um Parlamento mais pluralista.

Outro paradoxo: a dificuldade de formação do IV Governo Constitucional não é um problema de números (há, aliás, várias coligações possíveis), mas um problema de inimizades políticas e pessoais.

O novo Parlamento faz-se de várias grandes derrotas - a de Xanana Gusmão, que não cumpre a vitória tão anunciada, e a de Fernando "La Sama" de Araújo, por ele reconhecida hoje.

E de algumas pequenas vitórias - a de Fernanda Borges, do Partido de Unidade Nacional, e, talvez, a de Cornélio Gama "L7", da UNDERTIM.

Os resultados, os bons como os maus, são todos curtos, e, por isso, não houve até agora regozijo de ninguém.

Para a Fretilin, o patamar de 30 pc é um mau resultado porque equivale a cerca de metade da votação de 2001 e porque pode significar que não tem condições para exercer o poder que conquistou nas urnas.

É, por outro lado, bom, considerando que o partido maioritário conseguiu segurar, em três eleições seguidas, o mesmo eleitorado fiel, digamos, a Francisco Guterres "Lu Olo".

É uma vitória apesar da erosão natural de um mandato, contra a crispação da Igreja, da geração urbana educada fora da epopeia da Resistência, da pressão dos deslocados e da constatação inapelável de que 40 por cento dos timorenses vive hoje abaixo do limiar da pobreza.

A leitura do resultado do CNRT é também múltipla: um bom resultado para um novo partido sem estrutura é, para Xanana Gusmão, uma derrota pessoal.

Os números indicam que o carisma de Xanana não foi suficiente para o pôr directamente na cadeira que pertenceu a Mari Alkatiri.

Mas chegou para sangrar votos dos aliados naturais do CNRT, conforme repararam já hoje, amargos, Mário Viegas Carrascalão e Fernando "La Sama" de Araújo, os homens com quem terá de negociar qualquer acordo de regime.

Lusa/fim

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei desta análise honesta sobre o resultado eleitoral.

A grande derrota é sem dúvida de Xanana, que não conseguiu superar a Fretilin.

Foi a derrota da retórica barata que se desdobrou em artigos no jornal e em golpes baixos como o recurso à sigla CNRT, à bandeira da Fretilin e aos seus militantes rebeldes - os mudansas - para tentar atrair a simpatia do eleitorado.

Foi a derrota de oportunistas como os mudansas e outros que se apressaram a mudar de partido, perante a possibilidade do "CNRT" poder ganhar e distribuir tachos a todos. Apostaram no cavalo errado e verificaram que o povo não lhes dá crédito nenhum.

Foi a derrota de marginais usados e protegidos pelo grupo de Balibar, como Rai Los, Reinado, etc.

Como dizia Xanana, "Ganhámos esta guerra!"...

Anónimo disse...

A GRANDE DERROTA EH A DA FRETILIN QUE DE 57% BAIXOU PARA 32%. O DISCURSO DO MARI DEVE SER DE TRISTEZA, RESIGNACAO E PONDERACAO EM RELACAO AO FUTURO.

A GRANDE VITORIA EH DOS PEQUENOS PARTIDOS QUE IRAO PARA O PARLAMENTO
COBRAR DIVIDENDOS DE CINCO ANOS A COMEREM SAPOS VIVOS.

O CNRT TEM UMA GRANDE VIRTUDE, A DE "ANIMAR A MALTA" E TRANSFORMAR
UMA MONARQUIA ABSOLUTA EM DEMOCRACIA.

PARLAMENTARIO

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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