terça-feira, agosto 07, 2007

Timor-Leste: Dias Sombrios em Dili

Traduçãoda Margarida:

Time Magazine – Segunda-feira, Agosto 06, 2007

Por Rory Callinan / Dili

Herminio de Oliveira estava a saborear uma cerveja no seu pequeno balcão de bebidas e cigarros perto do aeroporto de Dili quando ouviu os gritos do campo de deslocados vizinho. "A Fretilin governará! A Fretilin governará!" era o canto quando montes de jovens, apoiantes do antigo partido do governo, saíram dos portões para a estrada no subúrdio oeste da capital Timorense. "Fiquei assustado," diz de Oliveira. "Então apareceu um carro, e os jovens atingiram-no com pedras." Ao volante estava João Carrascalão, cujo irmão Mário lidera o PSD.

"Partiram os vidros e feriram a sua mulher," diz de Oliveira. "Fiquei preocupado que começassem a atacar qualquer pessoa que não fosse da, preocupado que me pudessem atacar. A minha loja é tudo o que tenho. Se a destruírem, perco tudo."

De Oliveira é um dos milhares de Timorenses que passaram as últimas semanas à espera ansiosamente do anúncio do novo primeiro-ministro do país. Ao mesmo tempo que residentes de Dili estão entusiasmados com um novo governo, muitos estão preocupados com a violência politicamente motivada na escala vista em Abril e Maio do ano passado, quando foram mortas 37 pessoas e mais de 150,000 fugiram das suas casas. "Espero que possam controlá-la," diz de Oliveira.

Na Segunda-feira, o Presidente José Ramos-Horta anunciou a nomeação como primeiro-ministro do antigo guerrilheiro Xanana Gusmão, que lidera uma coligação constituída pelo seu próprio partido, CNRT, ASDT, PAS de Carrascalão e o PD. A coligação tem 37 lugares, o que lhe dá uma maioria substancial sobre a Fretilin, que ganhou 21 lugares nas eleições de 30 de Junho.

Os líderes da Fretilin argumentam que ganhou mais lugares do que qualquer outro partido e que por isso devem governar. Ramos-Horta adiou a sua decisão duas vezes e pediu à coligação para incluir representantes da Fretilin a bem da estabilidade nacional. Mas recusaram fazê-lo, e o atraso apenas aumentou as tensões na capital. Quando parece ser cada vez menos provável que a Fretilin venha a ter qualquer papel no novo governo, receia-se que os apoiantes do partido possam tentar usar a violência para desestabilizar o país. Imediatamente depois do anúncio de Ramos-Horta, rebentou a violência na capital, Dili; mais tarde nessa noite, manifestantes zangados pró-Fretilin deitaram fogo à alfândega de Dili quando tropas Australianas se moviam para restaurar a ordem.

Diz o Dr. Christopher Samson, que lidera uma ONG anti-corrupção baseada em Dil: "Haverá essa gente que não é educada que tentará tomar a lei nas próprias mãos. Querem ameaçar a nação e a sua estabilidade. Mas não acredito que vão longe, porque a maioria das pessoas não apoia isso." Samson recebe regularmente ameaças de morte por causa do seu trabalho de lutar contra a corrupção. "Se houver alguns civis com armas, então isso levará à perda de vidas," diz.
Uma fonte de tensão vem de grandes números de apoiantes da Fretilin do leste que se refugiaram em campos de deslocados na capital. No Domingo, jovens de um campo de deslocados da cidade bloquearam a estrada no exterior do novo Hotel Timor de Dili, onde líderes partidários regularmente fazem encontros. Cantando "Fretilin! Fretilin!" subiram árvores e colocaram uma faixa branca e vermelha atravessada na estrada. A bandeira tinha desenhada uma cobra e uma cruz com o slogan, em Tétum: "Timor precisa de um primeiro-ministro que seja inteligente, não alguém como o irmão grande." Muitos dos jovens parecem estar bêbados, e eram encorajados por agitadores na multidão.

O porta-voz da Fretilin e antigo ministro José Teixeira acredita que o anúncio pode desencadear confusões menores mas diz, "De modo algum há qualquer campanha para qualquer violência organizada. Estamos activamente envolvidos em assegurar que as pessoas aceitem a decisão." Mas na semana passada o secretário-geral do partido e antigo primeiro-ministro Mari Alkatiri, fez uma ligação clara entre a estabilidade do país e a Fretilin ter um papel na coligação de governo. "A Fretilin acredita firmemente que um governo de grande inclusão, que inclua membros de todos os partidos políticos representados no parlamento nacional, trará estabilidade ao país," disse aos jornalistas. "Se não houver estabilidade, nenhum governo poderá funcionar efectivamente.

O partido de Alkatiri, eleito para o governo em 2002, tem uma reputação duvidosa. O antigo ministro do interior Rogério Lobato está a cumprir uma pena de prisão de sete anos e meio por armar um esquadrão de ataque antes da violência do ano passado. O antigo guerrilheiro colonel Vincente de Conceicão Railos, o homem que denunciou a conspiração de Lobato, disse esta semana à TIME que sabe que pelo menos 28 armas estão ainda nas mãos de um grupo de militantes pró-Fretilin que tem ameaçado conduzir assassínios se a Fretilin for excluída do governo. "Querem causar instabilidade. Vão procurar líderes políticos para assassinar. Têm a experiência da resistência," diz, rodeado por guarda-costas sentado na varanda da sua casa. "Dei ao Presidente [Ramos-Horta] esta informação, mas não fizeram ainda nada acerca disto. As armas estão ainda lá."

Railos aponta outros desenvolvimentos preocupantes, incluindo um ajuntar de armas em Balibo e rumores de que uma grande quantidade de drogas foi trazida do Oeste de Timor, uma província da Indonésia, alegadamente para premiar e dar energia a jovens de campos de deslocados. Mas as afirmações do coronel foram descartadas pelo Indiano responsável pela Missão da ONU em Timor-Leste, Atul Khare, que acredita que a eventual decisão de Ramos-Horta' provocará apenas incidentes menores. "O que acredito é que com a nossa presença, pode-se prevenir que incidentes isolados e esporádicos se tornem em confrontos maiores de violência do tipo que ocorreu no ano passado," diz. "A polícia não pode evitar todos e cada incidente. A polícia não pode evitar que as pessoas atirem pedras."

Khare, que controla uma força de cerca 1,600 polícias internacionais, não vê que haja qualquer evidência que qualquer partido político tenha estado a incitar a violência. "Não há qualquer conexão até agora," diz. "A violência é um acompanhamento de não exprimida frustração de desejos de várias pessoas que se encontram sem direitos e sem poderes e sentem que não receberam ainda os dividendos que deviam ter recebido do processo de restauração da independência nacional. Acredito que os líderes políticos têm ajudado e continuarão a ajudar a manter os seus apoiantes controlados."

Os residentes de Dili que têm de guiar perto do campo de deslocados do aeroporto podem discordar. Minutos depois do novo Parlamento eleger o membro da coligação e responsável do PD Fernando Lasama de Araújo seu presidente, mais uma vez, jovens saíram do campo e começaram a atirar pedras aos veículos e a gritar slogans pró-Fretilin. Polícias de OMU e mais de 20 soldados Australianos correram para o campo para forçarem os manifestarem a irem para dentro, onde gritaram obscenidades. Explosões similares aconteceram perto da sede da Fretilin em Comoro.

Apesar das afirmações de Khare, a polícia da ONU que ocupa a linha da frente na luta para parar a violência, suspeita que há uma ligação entre a violência e partidos políticos. O responsável do posto de polícia de Comoro Joel Doria diz que os seus homens receberam numerosas alegações de conexão entre a Fretilin e a violência que ferve em lume brando. Durante a campanha eleitoral, diz, a polícia andava a prender desordeiros pró-Fretilin e a encontrar $30 a $100 em dinheiro nas suas algibeiras — improváveis grandes quantidades de dinheiro para deslocados desempregados. "Pedimos-lhes para ficarem no campo, mas de cada vez que há um evento político eles saem para as ruas e criam problemas," diz. "Temos a informação mas não podemos fazer a conexão com evidência."

Doria, um oficial de polícia veterano que está mais habituado a perseguir extremistas na sua nativa Filipinas do que agitadores políticos em Timor-Leste, mostra-nos no monitor do seu computador fotos de ofensores regulares e de atiradores de pedras dos campos. "Vê, aqui estão a causar problemas nas ruas de Dili. Depois aqui os mesmos estão a juntar-se na sede da Fretilin em Comoro," diz, mudando para fotos tirados no mesmo dia em frente do edifício da Fretilin. "Porque é que estão lá? O que é que há lá para eles?" Doria anota que durante a semana passada, tem saído música alta do edifício da Fretilin a todas as horas. "Aquilo dá-lhes uma desculpa para terem muita gente lá. Fingem que têm uma festa. Mas na verdade estão à espera para causar problemas." Muitos locais concordam com a sua avaliação. Vendedores ambulantes dizem que aprenderam a esperar confusão quando vêem jovens locais a usarem os seus telemóveis. "Têm até $50 de crédito nos seus cartões de telefone. Como é que têm dinheiro para isso?" pergunta um.

O responsável do PSD Mário Carrascalão diz que o seu partido tem os nomes de três indivíduos, ligados à Fretilin, que acredita dão as ordens aos deslocados para causarem confusões. "Demos os nomes deles à polícia. Estão a receber dinheiro e bebidas de gente de topo relacionada com líderes da Fretilin," diz Carrascalão, cujo carro foi atacado por apoiantes da Fretilin atiradores de pedras perto do campo de deslocados em 30 de Julho. "Mas até agora nada ouvimos sobre eles serem investigados." Recebeu numerosas ameaças de violência. "Hoje, por exemplo, recebi uma curta mensagem a dizer que vão queimar o Hospital de Dili se a Fretilin não governar," diz. "Isso é terrorismo." Carrascalão tem preocupações que a ONU e os oficiais da segurança locais não sejam suficientemente pró-activos para prevenir ferimentos: "A polícias gere as coisas, mas apenas depois de terem começado. Aparecem apenas depois de já haver vítimas."

Nas ruas, residentes de Dili como de Oliveira estão nervosos. "Tenho um amigo que escutou um grupo de apoiantes da Fretilin no campo de deslocados numa reunião," diz. "Disseram que têm um plano: que quando for tomada a decisão, queimarão todas as lojas em Dili”.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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