quarta-feira, outubro 24, 2007

A entrega de Timor-Leste começou em Cipinang

Timor Lorosae Nação - Terça-feira, 23 de Outubro de 2007

Mauberes e Semi-Aborígenes?
Malae Belu

Já há muito que está em marcha a cruzada contra Portugal e os portugueses destacados em Timor-Leste ao abrigo de acordos internacionais entre Estados e a ONU.

O processo de intenções começou a ser notado logo depois da independência e tem vindo a ser cada vez mais notado pela forma como se comportam certas chefias nomeadas pela ONU como Atul Kahre, ou líderes como Xanana Gusmão, Ramos Horta e outros dirigentes da actual AMP que agora governam.

Por parte do governo australiano a hipocrisia talvez ainda seja maior. Isso mesmo se percebeu em reacções e declarações do antigo ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, Freitas do Amaral.

O comportamento das tropas australianas estacionadas em Timor-Leste após o eclodir da crise de 2006, em relação à chegada dos militares da GNR, tornou claro que a presença portuguesa não era bem quista e que somente iria atrapalhar as obscuras intenções e práticas australianas em relação à missão para que estavam destinados.

Os militares portugueses tiveram de engolir um sapo vivo logo à chegada, sendo rodeados e desarmados pelos militares australianos em completa provocação. A intenção era criar um caso que contribuísse para maior confusão e desestabilização, não tendo a ONU admoestado o comandante e o governo australianos como devia por absoluto entendimento e sintonia com os seus propósitos.

Sabe-se em Portugal que Atul Kahre diplomaticamente viu expresso exactamente esse recado – para não tomar os portugueses por parvos – e que aos olhos dos observadores internacionais ele é tido como um elemento da ONU muito próximo dos fazeres e intenções do governo australiano, de Xanana Gusmão e de Ramos Horta.

A UNMIT, Kahre, não fez por acaso cavalo de batalha sobre a rendição dos GNRs. Kahre aquilo que pretendeu foi causar impaciência e desgaste a Portugal e aos militares portugueses para agitar a situação, nada mais. Não resultou e Portugal cedeu até onde foi possível, mas fazendo valer a sua vontade, as suas directrizes.

Nestes últimos meses têm-se vindo a notar acções aparentemente avulsas que têm tido por objectivo denegrir a presença de Portugal e dos portugueses cooperantes em Timor-Leste.
Sempre que algo de negativo á apontado aos militares australianos logo agentes dos seus interesses procuram estabelecer comparações com “negativismos” práticos de portugueses.
Comparam o incomparável, mas o desgaste e cruzada está a resultar.

As intenções são claras. A Austrália quer o caminho livre para fazer aquilo que entender de Timor-Leste. É a potência da região e o xerifado dos USA, não tendo Portugal nem a Europa que se intrometer na sua área de influência e domínio.

A Europa e Portugal servem para doar bens e serviços mas está bem claro quem manda ali. Nem afectividades históricas são compreendidas por quem faz uso da frieza e provem de uma longa prole cultural com exacerbadas práticas racistas, de apartheid, chacinas, manhas e indiferenças anglófonas – repare-se na indiferença a que estão votadas as vítimas negras do Katrina ou o trato de polé prestado aos autóctones australianos, os aborígenes.

Muito antes da independência em Timor-Leste já a Austrália se precavia. Perfilando-se e formando líderes timorenses que pudesse usar quando Suharto e o seu regime caíssem. Somente a Fretilin restou para contrariar a recolonização do petro-território, desta vez por outros senhores.

Restou a Fretilin mas também essa está minada por agentes afectos à sábia e obstinada política australiana, tornando-se claro que Xanana, Horta e Guterres procuraram pretextos para inventar duas Fretilins. Uma minada e pró-australiana, Mudança, e outra de Maputo e pró-Timor-Leste, nacionalista, com pretensões de construir um país diferente e independente.

Política interna à parte, aquilo que está a parecer aos timorenses da diáspora e a muitos que se encontram no país é que Portugal e os portugueses estão a cansar-se de perceber o cinismo dos líderes timorenses, somente aspirantes ás doações até que a alma doa em Lisboa.

Enquanto que em Portugal existe o espírito de doar por estar a ajudar amigos, querendo ver resultados, querendo ver esses amigos melhor – estando longe do seu espírito “petróleos”. O contrário acontece na Austrália.

Enquanto que os portugueses nutrem pelos timorenses laços afectivos, nos australianos, a maioria, a indiferença é uma constante – mas venha de lá os hidrocarbonetos para juntar aos que já temos porque quanto mais se tem mais se quer.

Que me perdoem os minoritários cidadãos australianos-excepção, críticos dos seus próprios governos e realmente amigos de Timor e dos timorenses.

Está a ser sentido por timorenses e portugueses um afastamentos dos governos de ambos os países. É compreensivo.

Os objectivos dos dois principais personagens que actualmente detêm o Poder em Timor-Leste, Xanana e Horta, não são coincidentes com o sentir e estar do actual Estado português. É que para os portugueses primeiro estão os timorenses, o bem-estar, a evolução, a independência, o usufruto dos bens que lhes pertencem – e pertence-lhes bastante. Mas para os actuais líderes isso já é impossível por via dos compromissos encapotadamente assumidos com os governantes australianos – e isso já vem de muito longe, já está enraizado.

O golpe de estado do ano passado foi o princípio do fim da hipótese de independência que Timor-Leste teve, mas que jamais consumará.

Outros tempos virão para os timorenses, um pouco mais de uma paz podre, numa sociedade semi-aborígene, semi-timorense, em que a identidade maubere se esvairá na ilusão da obtenção de alguns bens essenciais que os novos colonizadores concederão para conter revoltas provindas das injustiças.

É aos timorenses que importa lutar contra isto, não aos portugueses. A esses somente lhes compete ajudar, mas quando são os próprios donos da capoeira a meter as raposas dentro do galinheiro… muito pouco há a fazer.

A entrega de Timor-Leste começou em Cipinang.

2 comentários:

Anónimo disse...

Brilhante análise. Está aqui tudo resumido.

Anónimo disse...

também concordo com esta análise

Lian Estudante

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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