terça-feira, outubro 30, 2007

Entrevista a Ana Gomes

A União
Publicado na Segunda-Feira, dia 30 de Outubro de 2006
João Moniz


ANA GOMES, EURODEPUTADA

«Os timorenses sabiam que potências estrangeiras queriam controlar o país»

Integrada na missão do Parlamento Europeu que visita Timor-Leste até dia 4 de Novembro, a ex-embaixadora portuguesa na Indonésia, protagonista na libertação de Xanana Gusmão, culpa a comunidade internacional e os líderes timorenses pela violência que assolou a antiga colónia portuguesa.

Esperava que Timor mergulhasse neste clima de violência após a independência?

A construção de um país nunca é fácil. Timor tinha muitas virtudes, mas também muitos problemas. E as nuances que permitem uma acção de sucesso na resistência são diferentes daquelas em que se constrói um país, com condições muito duras, a partir de menos de zero. Não haviam instituições sem ser as que estavam ligadas à luta da resistência. Depois o apoio constante da comunidade internacional foi apressadamente reduzido, por determinação das Nações Unidas, sob influência dos Estados Unidos, que tinha outras prioridades como o Iraque. Os outros países acabaram também eles por desresponsabilizar-se.

Então a situação actual deve-se à comunidade internacional?

Não quero tirar responsabilidades aos dirigentes timorenses. Eles sabiam que sempre houve potências estrangeiras a querer controlar o país, que apostavam na divisão, luta e guerra entre timorenses. A liderança timorense sabia que se não resolvesse pela diplomacia os problemas naturais do país estaria a fazer o jogo dessas potências.

Tem esperança que os líderes timorenses consigam resolver esta crise?

Não teríamos chegado a esta situação se eles tivessem evitado as quezílias. Espero que com diálogo se consiga a estabilidade necessária para o país ser governado até às próximas eleições, que são essenciais para resolver a crise política. Só um Governo legitimado vai permitir um novo arranque do país.

Desta vez, a comunidade internacional tem actuado bem?


Penso que sim. Interveio e respondeu rapidamente, através de países com responsabilidades históricas em Timor, como é o nosso caso, para que a situação não se agravasse. Mas julgo que o comando unificado das forças estrangeiras devia estar sob a alçada da ONU e não de um país. Espero que isso se resolva rapidamente, até porque já estamos a assistir a alguma conflitualidade com as forças australianas. E isso não é desejável nem para Timor, nem para a comunidade internacional.

E Portugal? O destacamento da GNR é um contributo suficiente?


O papel da GNR é extraordinário, como já foi, e que lhe vale um lugar especial no coração dos timorenses. E há a destacar o facto de a polícia estar sob o comando de um português, que conhece bem Timor, onde já esteve num período mais conturbado.

Mas isso chega?

Tem-se feito muito pelo português em Timor. Os professores que lá estão tem tido um trabalho fantástico, mas isso não chega. Defendo há muito tempo que Portugal devia fazer mais por Timor. A questão da língua é fundamental. Os professores portugueses trabalham agora com as crianças, mas há toda uma geração, com idades entre os 15 e os 40 anos, que durante a infância e a adolescência foram impedidos de falar português. Para essas pessoas devia haver um trabalho específico. Faltam jornais, rádios ou televisões em português. Ainda não há nenhum media que cubra todo o território.

NOTA DE RODAPÉ:

Diz a idiota de serviço que "Não teríamos chegado a esta situação se eles (dirigentes timorenses) tivessem evitado as quezílias..".

Ana Gomes, uma das ajudas do "amigo" Xanana, que não se poupou a críticas infundadas durante a crise, que tudo fez para empolar estas "quezílias" entre os dirigentes, vem agora descartar-se e dizer que sabia que "sempre houve potências estrangeiras a querer controlar o país, que apostavam na divisão, luta e guerra entre timorenses".

Pois a Austrália, Xanana e Horta agradecem o serviço da eurodeputada, que mais que ajudou, incentivou estas mesmas divisões entre os líderes timorenses, apoiando uma das partes.

Exactamente aquela que contou com a ajuda das potências estrangeiras que queriam controlar Timor-Leste, aquela que paga agora a dívida aos "amigos"entregando a soberania nacional à Austrália, que se prepara para desbaratar o fundo do petróleo e contrair dívidas ao Banco Mundial e ao FMI.

Ana Gomes, a porta-voz dos vendidos e dos golpistas, fez o jogo das potências estrangeiras que querem controlar o país. Até no dia das eleições, mesmo estando em Timor a representar o Parlamento Europeu como observadora, não se atacou a FRETILIN dizendo numa declaração pública que nos últimos anos de governação (da FRETILIN) tinha havido défice democrático.

E depois vem clamar pelos direitos humanos na Europa, sobre os voos da CIA, remetendo-se ao silêncio quando o SEF declara não terem existido quaisquer ilegalidades. Se está tão bem informada sobre os voos da CIA como está sobre Timor-Leste, não é preciso dizer mais nada.

Ao contrário do que diz Ana Gomes, os professores portugueses ensinam professores timorenses e adultos e o português que estava à frente da polícia de Díli, já não está. Já voltou a Portugal, por responsabilidade do governo português, o Governo socialista de Ana Gomes, que abandonou Timor.

Ana Gomes perdeu o respeito dos dirigentes timorenses, tanto daqueles a quem apoiou no golpe contra a FRETILIN, como aos outros pela traição que cometeu, basta ver como é recebida, ou não...

Falta-lhe classe, isenção e lucidez. Como em Portugal, passou a ser conhecida como a "peixeira".

5 comentários:

Anónimo disse...

CAUSA NOSSA OU "CAUSA NOSTRA"
Assim a Senhora Deputado contribuiu para o golpe

(Publicado no seu blog)

Domingo, 25 de Junho de 2006
Presidente - não se demita. Demita-o!
É o teor de um sms que acabo de enviar ao Presidente Xanana!
Interferência nos assuntos internos, acusar-me-ão.
Eu não sou governo, sou deputada, cidadã portuguesa e amiga de Timor Leste. Trabalhei muito por ver o povo de Timor Leste livre e independente e não vou assistir impávida a que um punhado de casmurros de matriz totalitária precipitem de novo o país no caos.
"Interferi" muito, antes, por Timor Leste e não me arrependo.
É preciso que em Portugal se entenda que Mari Alkatiri até hoje não juntou os milhares de manifestantes da FRETILIN, que diz estar a reter para não provocar mais perturbações, pura e simplesmente porque não os tem.
Os militantes de base da FRETILIN são quem está mais desapontado com os falhanços deste governo. Alguns membros do governo também o sabem - e por isso se estão a demitir.
Vejam o que disse a Micató, Domingas Alves, uma militante da FRETILIN que se destacou na resistência no interior durante a opressão indonésia, quando se demitiu ontem do cargo de conselheira do PM para a igualdade das mulheres.
Os militantes da FRETILIN que estão próximos do povo sabem bem que o povo - por justas e injustas razões - odeia Mari Alkatiri e outros membros do seu governo. Sabem bem que muitos e graves erros foram cometidos, que inviabilizam que Mari Alkatiri continue à frente da governação. Eles não podem deixar que a obstinação de um punhado de gente arrogante e desligada da realidade arraste mais o país para o caos.
[Publicado por AG] [25.6.06] [Permanent Link]
SE ISTO NÃO FOI AJUDAR NO GOLPE FOI O QUê?

Anónimo disse...

Caro Malai Azul
Estive com Ana Gomes na passada semana no lan�amento do livro sobre o bravo Tenente Pires, na Funda�o M�rio Soares.
As suas declara�es ofensivas para com Ana Gomes, destacada lutadora pelos direitos do povo timorense, ofendem muitos portugueses. E provam que V.Exa., meu caro Malai Azul, tamb�m perdeu alguma coisa: o bom senso.
Augusto Lan�a - Sines

Anónimo disse...

Subscrevo inteiramente e aplaudo a nota de rodapé.

Uma das pessoas que mais alimentaram as "quezílias", de fora de Timor, foi precisamente Ana Gomes.

As suas declarações e deslocações a Timor durante a "crise" foram quase tantas como as de Howard.

Curiosamente, ela fala das "potências estrangeiras que QUERIAM controlar Timor-Leste" (vejam bem: QUERIAM), sem referir aquela que QUER, sempre quis e está conseguindo "controlar" Timor. Aquela "potência" que considera Timor como um seu quintal e não se coíbe de traduzir o seu racismo em manifestações boçais de violência física e psicológica contra o País e os seus habitantes, perante a passividade envergonhada daqueles políticos que não se importam de pagar esse elevadíssimo preço por terem vendido a alma ao diabo.

Apesar de estar manifestamente mal informada sobre o que se passa em TL, mesmo com as suas frequentes passeatas até lá, AG continua a ser solicitadíssima pela comunicação social portuguesa como se fosse uma especialista na matéria. Algo que só se percebe, sabendo que a imprensa que a entrevista é mais ignorante ainda do que ela, no que toca a Timor-Leste.

Porém, para quem é habitualmente tão fala-barata, estranha-se (ou talvez não) nesta entrevista o seu silêncio sobre o crescente domínio da Austrália em Timor, com a cumplicidade dos seus lacaios.

Anónimo disse...

Como e' que o Malai Azul pode ter bom senso quando se dedica de corpo e alma `a defesa da Fretilin sem pre-condicoes?

Para ele a Fretilin e' boa todo o resto e' mau.

Anónimo disse...

'Como em Portugal, passou a ser conhecida como a "peixeira".'

thats a good one...

keep up the good work Malai Azul without your blog I'll be fed Australian Media crap.... Speak the truth and people like you will free Timor Leste once again.

thank you
well done

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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