terça-feira, outubro 09, 2007

Há paz e vergonhosas carências sociais

Timor Lorosae Nação - Domingo, 7 de Outubro de 2007
Ana Loro Metan

O estado de graça do governo está a acabar

A “malapata” que tenho sempre que venho aqui “gabar-me” de que vivemos finalmente com vislumbres de paz e que, reconheço, logo de seguida algo acontece que de algum modo perturba essa paz, parece-me que foi hoje justificada e por mim entendida.

Julgo ter ouvido hoje uma explicação para que eu sinta tanta paz e outros não. Em homilia interessante ouvi esta manhã ser dito que a nossa paz interior – que é a paz da nossa consciência – quando é bem sustentada por intenções nobres, dificilmente será perturbada e que é isso que nos dá discernimento para termos os pés bem assentes na terra, sermos conscientes daquilo que nos rodeia e queremos que tudo que é discórdia se resolva pacificamente, com diálogo e transparência.

Foi assim que entendi e é assim que estou a transmitir.

Se é verdade que o quotidiano em Díli é interrompido por zangas e pedradas entre jovens ociosos que andam ao Deus-Dará sem que os responsáveis governamentais ajam e mostrem uma luz ao fundo do túnel a esses jovens, isso não significa que para mim a paz não se tenha instalado em Díli. Até porque já cheguei a sair à rua, zangar-me com eles, ser atendida e respeitada, acabando logo ali a “intifada” – talvez para recomeçar noutra rua qualquer.

A juventude forma bandos porque é como vêem a possibilidade de se protegerem e ocuparem.
Obviamente que, sem perspectivas, vão fazendo disparates sobre disparates e daí à violência vai um passo muito curto.

Esta juventude, como qualquer outra, é uma boa juventude. Os líderes são quem não presta. Todos eles, sem excepção.

São eles e os seus dedicados mainatos que até preferem que assim seja, utilizando esta juventude para os seus “serviços” do desestabiliza, intimida, mata, esfola, destrói. São sempre os jovens que caiem nas mãos da UNPOL, nunca os líderes, os verdadeiros responsáveis por tanta irresponsabilidade e sede de Poder.

Se reais e construtivas alternativas forem apresentadas a estes jovens, eles vão segurá-las com as duas mãos, sabemos isso.

Acredito nesta juventude e cada vez menos nos actuais líderes, que até têm usado a violência para tomar o Poder, que têm manipulado a ingenuidade e as boas intenções dos timorenses para conseguirem manter uma fachada de democratas que lhes permita governarem-se em vez de governarem convenientemente o país.

Afinal já todos sabemos que assim é e que por isto é que a paz muitas vezes nos é negada. O que não tardará a acontecer se mantiverem as vergonhosas carências sociais que contribuirão para o fim do estado de graça deste governo.

Não fez paz mas sim BOOM! A explosão nas instalações contíguas à embaixada australiana. Mas só isso. Explicações não existem.

A UNMIT mostra quanto está ao serviço dos interesses da Austrália e o senhor Kahre devia ter vergonha e ir embora deste país de uma vez por todas!

Vergonha também deve ter a Lusa Notícias de Portugal, assim como os jornais e os jornalistas portugueses que nem uma palavra se dispõem dedicar a Timor-Leste, à captura de Railos, à explosão, aos deslocados que continuam na mesma, etc.

Certamente estão à espera de fazer entrevistas a Horta, Xanana e outros mais da laia, quando necessário voltar a promovê-los e passar uma boa vida nos melhores hotéis.

Deveriam estas pequenas coisas tirar-me a paz? Nem a mim, nem aos timorenses que se vão apercebendo de quem é quem. Que concluem que afinal não conheciam os ditos líderes. Que eles são estranhos ao corpo do país-ilha do crocodilo.

Como na homilia, devemos preservar a paz e através dela encontrar as tais intenções nobres que nos dão discernimento para resolver pacificamente, com diálogo e transparência a situação de impasse a que se chegou por via de um ex-presidente e actual primeiro-ministro incompetente e de um presidente da República que começou em força a viajar, a prolongar estadias no estrangeiro e a consumir muitas centenas de vezes mais o seu ordenado em mordomias, pago por todos nós, pago pelo que é negado aos timorenses - que nada sabem, como ele diz.

Mas disso falaremos noutra ocasião. Celebremos e aproveitemos esta paz social.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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