terça-feira, dezembro 25, 2007

Ano chega ao fim em Timor sem resolver heranças da guerra

25-12-2007 09:29:05

Dili, 25 dez (Lusa) - Na virada para 2008, os três problemas de resolução mais urgente em Timor Leste são a herança direta da crise política e militar de 2006: deslocados, rebeldes e o fugitivo Alfredo Reinado.

Nenhum deles parece ter, ou parece admitir, solução a curto prazo, criando bloqueios em diferentes níveis (social, econômico, institucional, político, judicial) com grande potencial desestabilizador.

Um décimo da população local continua deslocada e metade dos residentes da capital pessoas vive de ajuda humanitária.

A radiografia da situação revela uma cristalização preocupante da crise. Não apenas na topografia de uma capital favelada com 30 mil pessoas, um quinto da sua população, em 53 campos de deslocados, envolvida em crônicas disputas de propriedade e de território.

É, também, no tecido e nas dinâmicas sociais, o agravamento de situações, de conflitos e de comportamentos que, por ironia, tornaram alguns setores dos deslocados - o setor politizado, o traficante e o oportunista - na primeira preocupação de segurança nacional.

Um exército informal - 592 peticionários, a maior parte armados, segundo as últimas informações e imagens - continua escondido em algum lugar nas margens do sistema, quase dois anos depois de sua expulsão das Forças Armadas.

Em Dili, Alfredo Reinado, acusado de crimes de homicídio, rebelião e de posse ilegal de material de guerra, continua inacessível para a justiça, mas à mão para a comunicação social.

No país lusófono, Alfredo Reinado se vê e é visto como aquilo que também foi em 2006: o vértice das tensões e o nó que, supostamente, ameaça curto-circuitar as diferentes fraturas de Timor Leste.

De fora, porém, como deixou claro a delegação do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon - em particular com os dirigentes partidários -, o major Reinado é apenas mais um álibi para iludir a falha consolidada do Timor Leste independente: a melhoria das condições mais básicas de uma população que vive com 50 centavos por dia, atrasada e destituída.

O balanço de 2007 e a antevisão de 2008 remetem, por isso, para uma desesperante inversão de calendário.

O Estado sobreviveu a seus erros, mas a nação, como projeto coletivo, regrediu pelo menos dois anos com a guerra civil de 2006.

O sucesso de três eleições sucessivas, a normalização da situação de segurança (o ano, convém lembrar, abriu com decapitados no Bairro Pité) e a consolidação, a pulso, do sistema judicial, importantes em uma sociedade faminta também de justiça, não apagam a constatação de que os ganhos são frágeis e superficiais.

Nenhum ganho, aliás, sobreviveria sozinho sem uma forte ajuda internacional.

"Não é inevitável que o resultado seja o mesmo, mas os ingredientes no terreno são hoje semelhantes aos que existiam antes da crise" política e militar, afirmou à Agência Lusa, sob anonimato, um alto responsável da missão internacional das Nações Unidas (Unmit).

No plano político, muitos analistas apontam para a salutar alternância do poder, o ganho de proeminência do Parlamento Nacional, a troca de cadeiras entre José Ramos Horta e Xanana Gusmão (que trocaram de cargos na Presidência da República e na chefia do governo) e a aprovação de um programa de governo e de dois orçamentos do Estado.

Todos concordam, mesmo à boca pequena, no reverso da moeda: o maior partido timorense está na oposição, ressabiado, e não reconhece legitimidade ao 4º Governo Constitucional.

"O país está dividido", constatou o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, que em 2007 foi remetido ao papel de primeiro-ministro-sombra.

A relativa normalidade, nervosa e volátil é, afinal, o verdadeiro consenso entre as declarações oficiais e oficiosas e o vox populi timorense. Os timorenses partilham do mesmo sentimento da comunidade internacional com a lentidão da reconciliação: "impaciência e frustração", avisou Ban Ki-moon em Dili.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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