quinta-feira, janeiro 31, 2008

"Falam português; podem ser portugueses ou brasileiros. vamos segui-los!"

Blog Sitio do Sergio Leo
Quarta-feira, Janeiro 30, 2008

Intriga e batatinhas em Timor Leste

Eram dois rapazes do Timor Leste, enviados à Indonésia em um momento de distensão da ditadura Suharto, que, antes simplesmente isolava os timorenses do mundo. Agora, estudantes podiam cursar a Universidade, desde que em áreas como agronomia, ou veterinária. Direito, Ciências Sociais, Engenharia, Economia ainda eram tabu para pretendentes timorenses ao ensino superior.

Os dois, universitários, pois, estavam em um supermercado, quando ouviram vozes numa língua familiar, na língua do colonizador que havia se tornado língua da resistência. O português, por uma das ironias que são privilégio da História, havia se tornado fator de unidade nacional, elemento citado com orgulho pelos timorenses para argumentar que seu povo não e sujeitaria a ser satélite da anglófona Austrália, e era diferente dos que habitavam o arquipélago da Indonésia, sujeitos a uma eficiente ditadura, do agrado dos Estados Unidos e Europa e cruel como só os viventes na ditadura sabiam ser possível.

Os dois conspiradores timorenses descobriram, pela língua, dois turistas de língua portuguesa, e os seguiram, até um restaurante, onde, após algum tempo de vigilância, decidiram apelar aos irmãos de idioma para fazer chegar seu apelo ao mundo. Não sabiam que os turistas eram brasileiros vivendo em Portugal (circunstância que seria preciosa, como descobriram mais tarde).

Estavam em 1989, ano da queda do muro de Berlim, símbolo do fim da Guerra Fria que acobertou o expansionismo de Suharto, invasor de Timor Leste em 1975, ano da queda do fascismo em Portugal.

O problema dos insurgentes de Timor, país com uma patética população de 200 mil habitantes, era tornar conhecida a reivindicação de independência do povo timorense. Ao abordarem a dupla de falantes de português, foram saudados com entusiasmo; brasileiros, integrantes de um grupo artístico de relativo sucesso chamado "Os Batatinhas", eles ficaram encantados em ser abordados na língua materna, ainda que seus interlocutores falassem com alguma dificuldade. Um deles, como muitos em Timor, havia aprendido português na escola secundária e relegado a língua ao mesmo porão cinzento onde costumamos largar os conhecimentos impostos e inúteis.

Era a língua da resistência, sim, mas, como os insurgentes, sofria um bocado para ter direito a um lugar seu, naquele canto da Ásia.

Com ligeira relutância e muita solidariedade, Os Batatinhas gravaram, com equipamento de turista, os manifestos de 14 insurgentes timorenses, inclusive os dois que os haviam abordado no supermercado. Um deles pedia armas para a guerra contra a Indonésia. Outros falavam da repressão e das esperanças em Timor. Ao voltarem a Portugal, Os Batatinhas entregaram a fita na RTP, a brava tv estatal portuguesa, e desencadearam uma saraivada de reportagens sobre os irmãos de língua portuguesa que ambicionavam a independência no Sudeste Asiático. Tenho dúvidas sobre o que aconteceria com esse vídeo se chegasse a alguma tv comercial brasileira. Sei que muito possivelmente não despertaria a repercussão que causou em Portugal.

A diáspora timorense passou a se articular. As Embaixadas do Brasil e Portugal na Indonésia se tornaram pontos seguros para os conspiradores. Dez anos depois, Timor era um país livre, motivo até de um belo documentário da eterna escrava Isaura, a minha, a sua, a nossa Lucélia Santos.

Suharto, por coincidência morreu na mesma semana em que os timorenses fizeram brindes emocionados com Lula.

"Não sei como se chamavam Os Batatinhas, sei que um era João, o outro Fonseca", me disse, nessa quarta-feira, o hoje assessor de assuntos internacionais da preidência do Timor, José Turquel de Jesus, insurgente que, em 1989, pedia armas, no vídeo dos Batatinhas. Ele me disse que tentou encontrá-los, anos depois, mas sem sucesso. A poucos metros, à mesa com Lula e o presidente timorense, José Ramos Horta, estava a Lucélia, com quem eu puxei uma conversa simpática e de tiete, ao chegar para o convescote. Simpaticíssima. Budista da linha tibetana.

Pouco tempo depois, acabava o almoço, e nem pude contar à Lucélia, que continua uma gracinha, do grande tema de um novo filme que ela poderia tramar, com a história que o doutor Turquel de Jesus me contou enquanto eu brigava com o chã de dentro que o Itamaraty comprou em licitação como filé minhon. O almoço acabava, os repórteres convidados assanhavam-se, que remédio: parti com a tropa para cenas de jornalismo explícito com o Lula.

As melhores matérias são as que não temos condição de escrever. Um dia alguém há de fazer livro sobre os conspiradores de Timor. A Lucélia, quem sabe, pode dar uma dica de como transformá-lo em filme; pode ser até que reencontrem os Batatinhas.

5 comentários:

Anónimo disse...

Esta história é comovente. Não sabia dos Batatinhas e eles mereciam uma homenagem. Onde param eles?

Anónimo disse...

Malae Azul,

Nesta linda Historia, diz;
"O problema dos insurgentes de Timor, país com uma patética população de 200 mil habitantes"

Isto esta errado.

Eu era un puto, em 1975 mas eu sabia que a nossa populacao naquele tempo era mais de 800 mil.

Obrigado.

Anónimo disse...

A correcção do colega Anónimo é verdadeira, embora talvez um pouco exagerada. EM 1975 existiriam entre 600.000 e 700.000 habitantes em Timor-Leste.

Também há outra informação incorrecta no texto de Sérgio Leo: em 1989 não existia embaixada portuguesa na Indonésia, até porque Portugal tinha cortado relações diplomáticas com esse país, devido à invasão de 1975.

Mas uma ou outra imprecisão não tiram o mérito a este cidadão brasileiro que tenho pena de não conhecer e aos "Batatinhas", que conseguiram passar a mensagem para o exterior.

Anónimo disse...

Longa vida ao povo de Timor-Leste !!!

Cheguei a este blogue através de um adendo na postagem original do Sérgio Léo, e fiquei muito contente em ver a coragem deste sítio. O que não é nada demais sendo ele de onde é...

Saibam que muitos (muitos mesmo) de nós, brasileiros, temos enorme admiração pela luta do povo timorense, nossos irmãos no outro lado do mundo.

Anónimo disse...

A VOZ DO POVO OPRIMIDO MAUBERE CLAMA PELA JUSTIÇA A TODOS OS LIDERES POLÍTICOS QUE ESTIVERAM ENVOLVIDOS NA CRISE POLÍTICA DE 2006 E QUE JÁ ARRASTOU ATE AO PRESENTE MOMENTO SEM NENHUMA DEVIDA SOLUÇÃO PARA QUE O POVO PEQUENO E DÉBIL MAUBERE VOLTA A SENTIR E RESPIRAR O AR FRESCO DAS MONTANHAS SAGRADAS DE TIMOR LESTE E ASSIM PODENDO ATE VOLTAR A VIDA QUOTIDIANA DE VIVER LIVRE E SEGURO NA SUA PRÓPRIA TERRA E AGE COMO VERDADEIRO SENHOR DO SEU PRÓPRIO DESTINO.

O Povo Maubere chama atenção de todos os lideres políticos em geral e em particular ao vigente governo, de que, o pequenez e pobre Maubere já mais se vergara a qualquer chantagem política de intimidação e coação no recurso de uso de forcas alheias para chacinar mais bons e inocentes filhos timorenses em prol dos seus próprios interesses e assim chegam ate ao cumulo de vergonha de humilhar e fazer sofrer mais na pele e na carne dos próprios filhos e reais herdeiros timorenses na sua própria Terra, porque estes opõem freneticamente a política vergonhosa da actual liderança da RDTL camuflada as suas tenebrosas intenções em cumplicidade com as políticas forasteiras dos países que ate hoje em dia continuam a semear discórdias e desavenças no seio dos povos de Médio Oriente, de Europa do Leste, da África e da América Latina e que neste momento este sistema moribunda esta a ser também transportada e aplica-la mecanicamente em Timor Leste com o lema e lúcido objectivo de nos dividir para melhor reinar-nos.



Apelamos a todo o explorado e oprimido Povo Maubere de Ponta Leste a Oeste, de Norte por Centro a Sul, por Jaco, Ataúro ate ao enclave de Oecússi Ambeno, esta e a hora de acordarmos e orgulharmos mais uma vez com a nossa própria determinação e coragem de sermos sucessores destemidos dos nossos valorosos assuwains guerrilheiros e veteranos combatentes da libertação Nacional de Timor Leste para assim redobrarmos novamente as nossas forcas genuínas e oriundos de um Povo lutador da sua própria causa e libertador de si mesmo das garras das sucessivas formas de governação dos colonialistas, neocolonialistas e seus lacaios como hoje estamos vendo e acompanhando de perto e no dia-a-dia em nosso solo Pátrio de Timor Leste.



Filhos obreiros de Timor Leste, não e nunca devereis sucumbir-se a vossa dignidade e identidade de bons filhos de um Povo sofredor que lutou abnegadamente contra todas as formas mais veladas do jugo colonial e neo-colonial e seu sistema retrógrado que nunca se tem ouvido falar de que na historia dos povos colonizados, os colonialistas, neocolonialistas e seus lacaios não foram seres humanos sensatos para com os povos colonizados, pelo contrario havia sempre barreiras e muros cimentados de política de sionismo, tiranismo, despotismo, xenofobismo na discriminação de raças, culturas, tradições, posições sociais e educacionais tal que os colonialistas sempre se mostraram aos povos colonizados como deuses intocáveis na historia da era de colonização, os colonizadores foram sempre com tom de superioridade em todos os aspectos da vida humana e que consideravam os povos colonizados por iletrados, analfabetos, escravos e ate ao cumulo consideravam os seres humanos colonizados como objectos de venda e de compra. Embora esses senhores colonialistas do outrora iam por terras desconhecidas desvendavam novos mundos, novos povos, culturas, usos e costumes, com Cruz de Cristo, mais não sabiam absolutamente nada dos verdadeiros ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, como tal, ate os próprios missionários que tinham missão de evangelizar os povos encontrados nas longínquas paragens dos países donde eles partiam com a doutrina de Cristo, chegaram ao cumulo de se enquadrar-se nas forcas das baionetas para dominar e fazer humilhar os povos ainda não civilizados e que a luz de Cristo por eles ainda não chegados e faziam deles como ovelhas cegas por os melhor explorar e oprimir mas nunca com boa intenção de libertar essas almas perdidas para poderem se libertar das garras das culturas e tradições arcaicas que não permitiam conhecer ate aquele momento a civilização ocidental como apregoavam os nossos colonizadores e seus peões avançados como hoje prevalecem os seus modos de vida como de outrora embora não abertamente nas vistas dado a evolução da nossa sociedade humana mas eles continuam a praticar essas formas mais desumanas para poder melhor explorar e oprimir com objectivo claro de nos dividir para reinar e depois expropriar todas as nossas riquezas naturais como gás, petróleo, cafés, sândalos, borrachas, copras, peixes, níqueis, mármores, manganésios, cobres, cristais e tantos outros mais todos são os produtos genuínos e naturais provenientes do solo Pátrio Maubere mil vezes martirizado e querido.



Face este prelúdio de uma situação política predicada para um caos de grande risco para uma verdadeira segurança e manutenção do bem-estar do pobre, humilde e débil Povo Maubere, nos apelamos a todos os nacionalistas e patriotas que cerram as nossas fileiras em todas as frentes contra tudo e qualquer outra manobra premeditada de política facínora e traiçoeira aos interesses mais supremos do nosso Povo de Timor Lorosae. Jamais permitiremos de que os imorais líderes políticos utilizem as forcas estrangeiras como seus escudos para nos desferir golpes mortais com suas máquinas de guerra que na realidade tem objectivo de nos defender do que nos virar os canos mortíferos das armas assassinas para nos sacrificar por interesses dum punhado de homens insensatos na liderança da actual RDTL. Queira Deus que isto não aconteça, mas por insensatez dos despóticos e tiranos lideres se persistem em pôr-nos em risco a nossa vida deveremos reagir com todas as nossas forcas e meios que dispomos para neutralizar toda e qualquer tentativa dos megalômanos e lalomanos líderes incompetentes na governação de Timor Leste.

Viva o Povo Maubere!
Vivam as Gloriosas Falintil e os heróicos Veteranos da Libertação da Pátria Maubere!
Viva a Juventude Maubere!
Viva a Mulher Bibere!
Viva a lúcida Vanguarda do Pobre e Débil Povo Maubere no solo Pátrio de Timor Leste!

Nas Montanhas e Selvas de Timor Leste ao primeiro dia do mês de Fevereiro e do ano de 2008.-

Assinado Maubere!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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