terça-feira, fevereiro 12, 2008

Foi extraída uma bala dos pulmões do Presidente José Ramos-Horta

Público, 12.02.2008
Por Jorge Heitor

Só dentro de 48 horas é que deverá haver um prognóstico clínico mais seguro quanto à recuperação do político vítima do major rebelde Alfredo Reinado

Quando Lasama de Araújo voltar de Portugal, de onde hoje parte, será ele a ficar
na presidência até que Ramos-Horta recupere

a O Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, eleito em Maio do ano passado, encontra-se hoje a recuperar num hospital da cidade australiana de Darwin dos graves ferimentos sofridos ao amanhecer de ontem (domingo à noite em Lisboa) na sua residência, em Díli. E no país está em vigor, pelo menos durante 48 horas, o estado de sítio, com recolher obrigatório das 20h às 6h da manhã.

Quanto ao primeiro-ministro Xanana Gusmão, ao qual Ramos-Horta sucedeu na chefia do Estado, conseguiu escapar ileso a um atentado posterior àquele que atingiu o político que em 1996 partilhou o Nobel da Paz de 1996 com o então bispo de Díli, Carlos Filipe Ximenes Belo, por ambos terem lutado de forma pacífica pela independência.

A tentativa de assassínio de José Ramos-Horta pelo grupo do major Alfredo Alves Reinado, morto no decurso da mesma, e a de Xanana por Gastão Salsinha, do grupo de peticionários que estiveram no centro da crise de há dois anos (ver texto na pág. 4), foi vista por alguns analistas como mais um perigo de violência e de caos na pequena nação. Salsinha conseguiu fugir e encontra-se agora a monte.

A Austrália, que sempre se tem posicionado como uma potência regional, aliada dos Estados Unidos, decidiu enviar um número "substancial" de tropas extra, aparentemente duas centenas de operacionais de uma força de reacção rápida, a juntar aos mil soldados que já tem em Timor-Leste, e, ainda, mais sete dezenas de polícias.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas marcou para ontem à tarde (já de noite em Lisboa) uma reunião de emergência, com vista a avaliar a necessidade de mais forças estrangeiras em Timor-Leste.

Rudd vai a Díli

O próprio primeiro-ministro trabalhista australiano, Kevin Rudd, anunciou que por toda esta semana se deslocará a Díli, correspondendo a um apelo de Xanana nesse sentido. E o presidente do Parlamento timorense, Fernando Lasama de Araújo, que estava a iniciar uma visita a Lisboa, manifestou interesse em também ver reforçado o contingente da GNR.

Rudd contou ter falado ontem por duas vezes com Xanana e, também, com a mulher deste, a australiana Kirsty Sword-Gusmão, directora da fundação humanitária Alola e um grande elo de ligação entre os dois países: o de origem e o de adopção.

Depois de uma primeira intervenção ontem de manhã num hospital de campanha, a um ferimento no estômago, Ramos-Horta foi transportado ao fim da tarde para Darwin e induzido em coma, a fim de lhe ser extraída uma bala que se lhe alojara nos pulmões.

Com ele viajou para a Austrália uma irmã, Rosa, mulher de João Carrascalão, líder da União Democrática Timorense (UDT), um dos partidos mais antigos do país, mas que obteve uma escassa votação nas legislativas do ano passado.

O chefe do Estado-Maior australiano, Angus Houston, reconheceu que as tropas australianas no território não conseguiram travar o passo aos elementos rebeldes que, sob o comando de Reinado e de Salsinha, trataram de alvejar Ramos-Horta e Xanana Gusmão.

Forças ineficazes

Esta é uma das críticas mais comuns que se escutam em Timor-Leste: a da ineficácia das forças internacionais aí destacadas perante a contestação de que o regime tem vindo a ser alvo por parte do agora neutralizado major Alfredo Reinado, que conseguiu sair da zona de Ermera e atravessar a capital sem que ninguém lhe travasse o passo.


A Austrália, devidamente apoiada pela Nova Zelândia, sempre tem dito que pretende colaborar na segurança de Timor-Leste, para que não tenha de testemunhar nenhuma guerra civil ali mesmo ao pé da porta, pois que isso perturbaria a exploração de petróleo e de gás natural no Mar de Timor. Os neozelandeses colocaram algumas tropas de prevenção, para a eventualidade de também eles reforçarem a sua presença, conforme disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Phil Goff.

Na chefia do Estado ficou a título interino o vice-presidente do Parlamento, Vicente da Silva Guterres, do Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), liderado por Xanana. Mas logo que Lasama de Araújo regressar de Portugal, de onde hoje parte, abreviando a sua visita oficial, será ele a ficar na presidência da República até que Ramos-Horta recupere, o que não se sabe ainda quanto tempo é que irá demorar.

"As próximas 24 a 48 horas dir-nos-ão do seu progresso. Estamos optimistas de que as boas capacidades cirúrgicas que aqui temos signifiquem que teremos uma boa hipótese de recuperação", disse à Reuters o director-geral do Royal Darwin Hospital, Len Notaras.

"O primeiro-ministro Xanana Gusmão terá agora de trabalhar muito para garantir que o Governo se mantém coeso", considerou Damien Kingsbury, professor associado da Universidade Deakin, que funciona em Melbourne e outras cidades australianas.

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Traduções

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Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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