quinta-feira, fevereiro 14, 2008

GNR receia novos ataques em Díli

2008-02-13 - 00:30:00

Correio da Manhã


Dois dias após os ataques, a situação mantém-se tensa. Ramos-Horta está em estado crítico e as forças de segurança temem tumultos.


As forças de segurança têm informações de que o grupo de Alfredo Reinado está disposto a vingar a morte do major. Para o capitão Martinho, comandante da GNR em Timor, a calma que se vive em Díli pode ser quebrada por mais ataques a qualquer momento.

Segundo apurou o CM, o atentado a Xanana Gusmão já terá sido um acto consequente aos tiroteios na casa de Ramos Horta, onde Alfredo Reinado foi abatido a tiro pela segurança do presidente. A hipótese mais consistente aponta para um ataque do grupo revoltoso à casa, com reacção da segurança do presidente. Daí que, Ramos Horta tenha sido baleado cerca de uma hora depois.

O funeral de Reinado é uma das grandes preocupações das autoridades timorenses. O enterro do ex-major ainda não está marcado mas o velório decorre já em casa do pai adoptivo, em Díli. De facto, teme-se que a cerimónia fúnebre possa gerar forte tensão. O major Reinado deverá ser enterrado em Maubisse, uma zona de montanha a acerca de 70 quilómetros da capital, onde montou o seu ‘quartel-general’, em Maio de 2006, quando abandonou as Forças de Defesa de Timor-Leste acompanhado de outros militares descontentes.

Até agora não há detenções dos presumíveis autores dos atentados ao presidente e ao primeiro-ministro mas a investigação a cargo das forças das Nações Unidas refere uma lista de suspeitos.

Segundo fonte contactada pelo CM, essa lista é constituída pelos homens mais próximos de Reinado e que estão há muito devidamente referenciado, O procurador-geral de Timor já despachou os respectivos mandados de captura e pode haver detenções nas próximas horas.

No topo da lista dos suspeitos está o antigo tenente Gastão Salsinha, o número dois do grupo de revoltosos e que terá assumido agora a liderança. Salsinha está a monte, algures nas montanhas que abrigaram a resistência timorense durante cerca de 30 anos, durante a administração indonésia.

ALKATIRI MUITO CRÍTICO

Entretanto, o antigo primeiro-ministro de Timor-Leste e secretário geral da Fretilin, Mari Alkatiri, afirmou à Lusa que o presidente Ramos-Horta “agiu mal na forma como lidou com Alfredo Reinado”, já que “continuou a apostar no diálogo e não da justiça”. Disse mesmo que foi Ramos-Horta quem se opôs a “decisões judiciais que incluíssem mandados de captura ao militar revoltoso”. O que poderá ter estado na origem do ataque agora verificado.

DISCURSO DIRECTO

"ATÉ PARECE QUE NÃO ACONTECEU NADA" Marta Queirós, portuguesa em Díli

Correio da Manhã – Qual é o ambiente em Díli?

Marta Quierós – É normal. As pessoas andam nas ruas, as lojas estão abertas. Eu trabalhei normalmente e até fui à praia. Só os bares da marginal estão fechados mas penso que é por causa do mar que está agitado.

– O que se comenta entre a população?

– Os timorenses não comentam muito, até parece que não aconteceu nada. Os portugueses falam mais mas não estamos assustados. A maioria já viveu os confrontos de 2006.

– Como é que soube dos atentados?

Curiosamente foi a minha família em Portugal que me telefonou a contar e estavam muito preocupados. Como era muito cedo, eu ainda estava a dormir e não sabia de nada.

– O que é que mudou nestes dois dias?

– Não podemos sair à noite. De resto não mudou muita coisa a não ser ver mais segurança nas ruas. Nada que me incomode.

PAI DE REINADO APELA À PAZ

Vítor Alves, pai adoptivo de Alfredo Reinado, diz que agora espera que esta morte traga a paz, adiantando que esse era também o sentimento do major, horas antes dos atentados. “O problema tem que ser resolvido para sempre”, foram, segundo Vitor Alves, as últimas palavras que Alfredo Reinado lhe disse. Vitor Alves ressalva não ter tido qualquer indício de que Alfredo preparava um ataque ao presidente Ramos-Horta. Vítor Alves, empresário e actual membro do Conselho de Estado do país falou com Reinado horas antes do ataque a José Ramos-Horta.

RAMOS-HORTA AINDA ESTÁ EM COMA INDUZIDO

O presidente timorense Ramos-Horta continua em coma induzido e poderá ter que ser novamente operado. Corre risco de contrair infecções graves e ainda tem estilhaços de balas nas costas. Segundo a médica do INEM Fátima Santos, que o tratou ainda em Díli, a perfuração do pulmão direito é uma lesão muito grave. Disse ainda que devido à grande perda de sangue que teve, pode sofrer também lesões neurológicas.

No hospital de Darwin, na Austrália, os médicos garantem que apesar de ainda correr risco de vida, o quadro clínico é favorável e que Ramos-Horta está a reagir bem.

XANANA COM PROTECÇÃO

O primeiro-ministro Xanana Gusmão está a ser protegido por elementos das operações especiais da GNR. Também a escolta pessoal e a família de Xanana será sempre acompanhada pelos militares portugueses. A GNR foi chamada a vigiar de perto o líder do Governo para evitar uma situação semelhante à ocorrida há dois dias quando saía de casa. Foi de resto a GNR que também socorreu a família de Xanana Gusmão quando estes foram surpreendidos por tiroteio.

SEGURANÇA MÁXIMA EM TIMOR

A situação na capital timorense, Díli, era de aparente normalidade, não se tendo registado incidentes desde os atentados da última segunda-feira. Uma calma tensa para o que muito terá contribuído o acentuado reforço da segurança, depois de ter sido decretado, pelo primeiro-ministro Xanana Gusmão, o estado de sítio no país. Refira-se que o Subagrupamento Bravo da GNR garante a protecção ao primeiro-ministro Xanana Gusmão e voltou a fazer patrulhas nas ruas. Há atiradores das operações especiais posicionados nas zonas mais problemáticas. Algumas ruas foram cortadas. O dispositivo da polícia timorense está quase todo na rua a vistoriar as viaturas, a identificar todos os veículos que possam levantar suspeitas. Até os plásticos escuros colados nos vidros para proteger do sol são arrancados para que se possa ver o interior .

NOTAS

REFORÇOS CHEGRAM

Os 120 militares e 70 polícias enviados pela Austrália para reforçar a segurança já chegaram a Díli

NAVIO AO LARGO

O navio de guerra australiano ‘HMAS Perth’, com cerca de 150 homens, está ao largo de Díli.

COMISSÃO DE INQUÉRITO

As Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste criaram uma comissão de inquérito aos ataques.

AUSTRÁLIA EM PROFUNDO CHOQUE

A situação em Timor marcou a sessão inaugural do Parlamento australiano, com o primeiro-ministro a expressar “profundo choque”

TROPAS DE CAMBERRA "VÃO AJUDAR"

O comandante das Forças Armadas Timorenses, Taur Matan Ruak, afirmou que as tropas australianas contribuem para a solução

CALMA NO BAIRRO DO FAROL

A situação no Bairro do Farol em Díli estava calma, após o Centro Nacional de Operações ter sido chamado a intervir num tiroteio.

APONTAMENTOS

REFORÇO DA GNR VISTO COMO PREMATURO

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, considera prematuro um reforço do contingente da GNR em Timor

ONU IMPRESSIONADA COM REACÇÃO DE DÍLI

O chefe da missão da ONU em Timor, Atul Khare, ficou impressionado com a eficiência das autoridades de Timor

SEGURANÇA DE XANANA ADMITE FALHAS

O assessor de Xanana, tenente-coronel Pedro Ochoa, admitiu ter havido “brechas” na segurança dos dois estadistas

UNICEF VAI AJUDAR CRIANÇAS TIMORENSES

A UNICEF pretende investir este ano 2,3 milhões de euros em ajuda às crianças de Timor-Leste
Manuela Teixeira

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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