domingo, fevereiro 24, 2008

Operação "Halibur" põe Falintil no antigo papel das Forças Armadas indonésicas

** Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa **

Díli, 23 Fev (Lusa) - A operação de captura do grupo do ex-tenente Gastão Salsinha, denominada "Halibur", "é uma típica acção de contra-insurreição", feita por ex-guerrilheiros que agora estão numa força convencional, notam fontes militares timorenses e internacionais ouvidas pela Agência Lusa.

"O esquema operacional apresentado pelo brigadeiro-general Taur Matan Ruak é uma clássica operação de contra-insurreição, feita segundo a melhor cartilha", adiantou um oficial estrangeiro à Lusa.

O chefe do Estado-Maior-General das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), à semelhança dos outros oficiais de topo do Exército timorense, encontra-se agora no papel operacional que durante 24 anos de ocupação coube às TNI, as Forças Armadas indonésias.

"Vai ser interessante seguir a troca de papéis. Resta saber se antigos rebeldes são bons a perseguir rebeldes, usando o que conhecem do terreno e das tácticas", comentou um assessor de defesa internacional.

A operação "Halibur" de captura do grupo que atacou o Presidente da República e o primeiro-ministro no dia 11 de Fevereiro, em Díli, é uma perseguição liderada por antigos comandantes da guerrilha como o próprio Ruak, o tenente-coronel Filomeno Paixão, o tenente-coronel Falur Rate Laek ou o coronel Lere.

Para perseguir o grupo liderado pelo ex-tenente Gastão Salsinha, o Governo decidiu aprovar a formação de um Comando Conjunto (CC) entre as F-FDTL e a PNTL, com o tenente-coronel Filomeno Paixão a 1º comandante e o inspector de polícia Mateus Fernandes a número dois.

É a primeira vez que o Estado timorense autoriza uma operação sob controlo timorense e a primeira vez desde a crise de 2006 que F-FDTL e PNTL estão envolvidas numa operação conjunta.

A decisão de formar um CC timorense "não agradou especialmente às Nações Unidas", afirmou à Lusa um alto responsável da Missão Integrada da ONU em Timor-Leste (UNMIT).

"A comunidade internacional e a UNMIT em particular sentem-se marginalizados nas acções decididas pelo Governo para reagir aos ataques de 11 de Fevereiro. A operação 'Halibur' foi conhecida pela UNMIT dia 18, segunda-feira, já como um facto consumado", segundo uma fonte diplomática em Díli.

Especial preocupação, veiculada à Lusa por diplomatas, dirigentes políticos e assessores de segurança, é o potencial explosivo de uma operação "que pode abrir as feridas de 2006 que ainda não fecharam de todo".

No centro da crise política e militar de 2006 estiveram as F-FDTL, identificadas como próximas dos timorenses originários dos distritos orientais ("lorosae") e a PNTL, vistas como mais próximas da população originária dos distritos ocidentais ("loromonu"), como era o caso do major fugitivo Alfredo Reinado e da maioria dos chamados “peticionários” (desertores) das Forças Armadas.

"É de notar a inteligência do comando das F-FDTL: à frente da operação 'Halibur' estão dois oficiais originários dos distritos 'loromonu'", comentou um oficial timorense à margem da parada de apresentação das forças, sexta-feira, em Díli.

O esquema que concretiza as diferentes decisões do Conselho de Ministros sobre a captura dos atacantes de 11 de Fevereiro centra-se no Comando Conjunto (CC) entre as forças de segurança timorenses.

O CC reúne em permanência num centro de conferências em Díli, cujo acesso é alvo de fortes medidas de segurança e onde militares timorenses reúnem com oficiais de polícia timorenses.

Durante a vigência do estado de sítio, que hoje inicia um período suplementar de 30 dias, a PNTL está sob o comando das F-FDTL, conforme resolução do Conselho de Ministros.

Numa instância separada, e estanque ao CC da operação "Halibur", militares estrangeiros das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) e oficiais da Polícia das Nações Unidas (UNPol) reúnem e decidem sobre as suas próprias operações, de que pouco se sabe para além de que "continuam, claro", como afirmou à Lusa o brigadeiro James Baker, comandante do contingente australiano e neozelandês em Timor-Leste.

A coordenação entre forças timorenses e internacionais é feita verticalmente através de um grupo onde estão representados as F-FDTL, a PNTL, as ISF e a UNPol. Este grupo permanente reporta directamente ao primeiro-ministro e ministro da Defesa e Segurança, Xanana Gusmão.

Na prática, este esquema operacional e institucional cria uma pausa no Mecanismo Trilateral, criado quando José Ramos-Horta era ainda primeiro-ministro para coordenar as forças de segurança entre UNMIT, Austrália e Timor-Leste.

O Mecanismo Trilateral reunia quinzenalmente. A Lusa não conseguiu apurar qual o papel deste grupo coordenador durante a vigência da operação "Halibur".

Lusa/fim

3 comentários:

Anónimo disse...

Só quem não conhece TMR é que pode ficar admirado com o profissionalismo das FFDTL.

O general Taur Matan Ruak tem só a 4ª classe, mas sabe mais a dormir que muitos "internacionais" acordados e com cursos de academias militares. E tem outra coisa fundamental que falta a alguns: coragem.

Antes de comentar a infeliz comparação das FFDTL às ABRI, há uma ressalva a fazer: onde se lê "TNI" (Tentara Nasional Indonesia) deve ler-se "ABRI" (Angkatan Bersenjata Republik Indonesia), antiga designação das forças armadas indonésias.

Acho este artigo da Lusa muito infeliz, comparando as Falintil às ABRI. Acredito que PRM não tenha agido por mal, mas afirmar isso é não só demonstração de ignorância do que foi o conflito político-militar da ocupação indonésia de Timor-Leste, como (e sobretudo) é uma afronta gravíssima ao povo timorense.

Podia citar mil e uma barbaridades cometidas pelas ABRI em Timor-Leste (e não só), mas não quero recordar momentos dolorosos desse período nem abusar do espaço reduzido que me é generosamente oferecido neste blog. Fico-me só por citar as tristemente célebres operações de "cerco e aniquilamento" das ABRI como exemplo de como é ofensivo comparar esse bando armado às Falintil. Milhares e milhares de homens, mulheres e crianças morreram, servindo de escudo às forças indonésias.

Para além disso, não esqueçamos a doutrina de "dwifungsi", que transformava as ABRI em instrumento de repressão interna contra a oposição política e os vários nacionalismos que ainda hoje existem na Indonésia.

Foi por isso mesmo que TMR não tolerou a insurreição dos "peticionários": as FFDTL são um exército profissional que defende o Estado e as suas leis e instituições; não um bando armado ou uma falange de camisas negras ao serviço de certos interesses políticos.

Também são infelizes as palavras do "assessor de defesa internacional", que chama "antigos rebeldes" às FFDTL. Estes homens são antigos combatentes NACIONALISTAS que libertaram a sua Nação, não "rebeldes".

“A comunidade internacional e a UNMIT em particular sentem-se marginalizados”, diz uma “fonte diplomática”. Marginalizados sentiram-se os timorenses até agora, por uns estrangeiros paternalistas que pensam ser superiores a eles e devem estar convencidos de que são os donos de Timor.

Ainda bem que a UNMIT e a "comunidade internacional" (certamente um eufemismo para Austrália) não gostaram. Isso só confirma que foi a decisão certa. É que em Timor mandam os timorenses e até agora a UNMIT e os "ISF" só mostraram a sua incompetência completa, desrespeitando a Constituição e os tribunais timorenses e levando a cabo uma pseudo-operação desastrosa em Same.

Não esqueçamos o caloroso convívio das “ISF” com Reinado e os seus homens em Maubisse, bem como o tratamento VIP que lhe foi dado em finais de 2007 numa esquadra da UNPOL. Escandaloso. E queriam estes senhores continuar o faz-de-conta apalhaçado em Timor? Eu fico admirado é com a infinita paciência e poder de encaixe dos timorenses, que conseguiram aguentar todos estes vexames até agora sem pestanejar.

É espantoso como “diplomatas” e outros “internacionais” estão peocupados com o hipotético “potencial explosivo de uma operação que pode abrir as feridas de 2006”, quando ainda há dias o PR ia sendo morto sem que esses senhores “internacionais” fizessem nada para o evitar. E o PR teria certamente morrido se ficasse à espera que a UNPOL ou os "ISF" o fossem socorrer quando se esvaía em sangue, pois esses senhores ficaram parados à distância, sem dúvida assustados com o “potencial explosivo” do caso...

Tenham vergonha na cara, senhores “internacionais”!

Anónimo disse...

Esta operação está a começar a cheirar-me a esturro... Não sou jurista mas considerando que o chefe supremo das forcas armadas é o presidente da republica porque carga de agua esta o comando desta opearação sobre o Sr. Xanana, não devia ser o substituto do PR a substitui-lo nestas funcoes? Não quero ser má lingua mas parece-me que não vai ficar ninguem vivo para contar a historia...

Anónimo disse...

So espero que o mandato das FDTL seja para na medida do possivel capturar com vida... estando o Sr. Xanana a supervisionar as operações tenho duvidas que seja o caso. Nao tenho duvidas que as FDTL sao a unica forca no terreno com a competencia para a missao, só espero que nao se deixem manipular ao servico de ninguem...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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