segunda-feira, março 24, 2008

Escolas do Timor adotam livro de pesquisador da Unicamp

Agência Brasil
Segunda-feira - 24/03/2008 - 09h16

São Paulo - Livro organizado por Jorge Fernando Hermida, ex-aluno de mestrado e doutorado da Unicamp, acaba de ser adotado pelo Timor Leste, para ser utilizado no programa de formação de professores do ensino infantil daquele país. A obra, intitulada Educação Infantil: Políticas e Fundamentos, reúne textos de 17 especialistas da Região Nordeste.

A publicação integra um conjunto de ações culturais quem vem sendo desenvolvido em várias cidades brasileiras sob o patrocínio do Banco do Nordeste do Brasil. A iniciativa consiste na promoção de palestras, oficinas e seminários gratuitos dirigidos a professores de educação infantil da rede pública de ensino. Perto de 3,5 mil pessoas já foram beneficiadas pelo projeto.

O livro foi publicado pela editora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde Hermida é professor. De acordo com ele, esta é a primeira vez que uma obra editada pela UFPB é adotada oficialmente por outro país. "Nós ficamos muito felizes com a notícia. Penso que estamos cumprindo com a nossa função social ao colaborar para a reconstrução do Timor Leste”, afirma.

O docente conta que a publicação nasceu a partir de um projeto idealizado por ele. Este, por sua vez, participou de um edital lançado pelo Banco do Nordeste do Brasil voltado ao financiamento de ações culturais. "Fomos contemplados entre mais de 2.200 propostas”, lembra.

A contrapartida a ser oferecida era a realização de atividades dirigidas a professores de educação infantil da rede pública, com a conseqüente doação do livro. Conforme Hermida, as palestras, seminários e oficinas já foram realizados em cerca de 20 cidades dos estados do Piauí, Tocantins, Maranhão, Pernambuco, Paraíba e Santa Catarina. Cada participante recebe um certificado emitido pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UFPB. "Aqui no Brasil, os resultados têm sido excelentes. Os professores estão gostando muito da nossa proposta. Temos tido a chance de oferecer o que as políticas governamentais não oferecem, como subsídios teóricos e metodológicos para melhorar a educação no país”, analisa o docente.

Entre os temas abordados nas atividades que constituem o programa está a importância do jogo e da brincadeira no processo de aprendizado. “Quando deixa o ambiente doméstico e chega à escola, a criança troca uma situação de liberdade e permissividade por um espaço limitado, a sala de aula, onde ficará presa a uma carteira. Além disso, ainda existe a máxima de que, para aprender, ela tem que ficar calada, apenas ouvindo. Nós queremos resgatar a natureza lúdica da criança, por entender que esse é um período importante na vida de uma pessoa. Por que não respeitar a natureza humana para basear uma proposta pedagógica?”, questiona Hermida.

A expectativa do professor da UFPB, assim como a dos demais autores, é que o livro possa deflagrar uma ação semelhante no Timor Leste. Hermida relata que a obra chegou até o conhecimento das autoridades daquele país por intermédio de Everaldo José Freire, um dos participantes da coletânea e professor-colaborador na nação do Sudeste Asiático. “Assim que o livro chegou por lá, o Ministério da Educação ficou interessado em adotá-lo para o curso de formação de professores de educação infantil. Inicialmente, entretanto, a Pasta queria uma autorização para tirar cópias. Com o avanço dos entendimentos, surgiu a oportunidade de realizarmos um programa mais amplo, nos moldes do que executamos no Brasil”, explica Hermida.

A primeira medida do docente foi procurar a Reitoria da UFPB, para falar da importância desse tipo de colaboração, que tem caráter eminentemente humanitário. “Graças ao apoio do reitor Rômulo Soares Polari, firmamos um convênio com o Timor Leste. A partir dele, ficou estabelecido que o Banco do Nordeste do Brasil editará mais mil livros para serem doados àquele país. A editora da UFPB também doará três exemplares de cada título publicado por ela, o que soma cerca de 4 mil volumes. Adicionalmente, estamos iniciando entendimentos com o Ministério da Educação do Brasil para facilitarmos o intercâmbio entre alunos brasileiros e timorenses de pós-graduação”, enumera.

Como o livro foi escrito a partir de experiências brasileiras, Hermida admite que a obra talvez tenha que sofrer adaptações para ser utilizada no programa de formação de professores de educação infantil do Timor Leste. “Obviamente, quando tocamos no aspecto político da educação, falamos de casos genuinamente brasileiros. Entretanto, muitos pontos são comuns aos dois países. Quando abordamos o tema do direito à educação ou quando refletimos sobre a educação infantil na pós-modernidade, estamos raciocinando sobre assuntos mais gerais”. Na opinião do ex-aluno de pós-graduação da Unicamp, tanto aqui quanto lá existe uma preocupação acerca do tipo de cidadão que se pretende formar, para que tipo de sociedade e com quais valores.

O convênio com o Timor Leste, continua o professor Hermida, tem tudo para virar uma “agradável bola de neve”. Ele revela que está em contato com uma organização não-governamental que pretende verter o livro para o inglês. Há, ainda, o desejo de que a obra também possa vir a ser traduzida para o tétum, idioma predominante em Timor Leste. “Como essas possibilidades são reais, já estamos formatando uma nova publicação, também voltada para a educação infantil, reunindo autores brasileiros e timorenses”, adianta.

Hermida é uruguaio naturalizado brasileiro. Ele realizou o mestrado em Educação Física e o doutorado em Educação na Unicamp. Ainda hoje, colabora com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (Paidéia), vinculado à Faculdade de Educação (FE). Atualmente, é membro do Programa de Pós-graduação em Educação da UFPB e do Programa Associado de Pós-graduação em Educação Física UPE/UFPB. “A Unicamp foi e continua sendo muito importante na minha formação. Na Faculdade de Educação, vivi experiências enriquecedoras”, afirma. O docente espera embarcar em maio para o Timor Leste, para participar pessoalmente de algumas das ações do programa de formação de professores local, já tendo o livro organizado por ele como um dos materiais pedagógicos.

Referendo “devolveu” independência em 99

Timor Leste foi uma colônia portuguesa até 1975, quando finalmente tornou-se independente. Ocorre, porém, que poucos dias depois de alcançar tal condição o país foi invadido pela Indonésia. A partir de então, seguiu-se um regime baseado na força e no medo, que tinha entre os seus objetivos apagar a cultura local. Uma das iniciativas do invasor foi mandar cerca de 12 mil professores à “província”, para que introduzissem seu idioma em substituição ao português. Em agosto de 1999, os timorenses optaram, por meio de referendo organizado pelas Nações Unidas, por nova independência. Na ocasião, a população também escolheu o português como língua oficial do país. Atualmente, o idioma mais falado naquela nação é o tétum.

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Traduções

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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