domingo, abril 13, 2008

O dia em que Timor voltou a sangrar

Histórias de mal-entendidos, traições e mulheres “fatais”, que reabriu as feridas em Timor mesmo à beira de um acordo

Sol, 12/04/08
Felícia Cabrita, em Díli

A reunião convocada por Ramos-Horta com todos os partidos políticos de Timor-Leste e com o primeiro-ministro, xanana Gusmão, está na base do atentado que quase vitimou o Presidente.

Um dos assuntos prioritários do encontro era descobrir uma solução para a situação dos 'peticionários'.

Em 2006, cinco centenas de militantes, liderados pelo tenente Gastão Salsinha, tinham saído dos quartéis em protesto contra a discriminação existente entre os militares oriundos da zona da resistência e os que foram submetidos à influência indonésia durante a ocupação.

Em entrevista ao SOL em Março, Ramos-Horta admitiu que esta era uma questão urgente: “Estávamos a tratar de uma amnistia que seria promulgada em Maio e que permitiria integrar os 'peticionários' de novo no exército ou, caso não quisessem voltar aos seus postos, saírem com um subsídio para reconstituir as suas vidas”.

Mas o problema mais delicado levantado na reunião – e que não reunia o consenso – dizia respeito ao major Alfredo Reinado que, ao contrário de Salsinha, era acusado de vários homicídios. Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, garantiu ao SOL que a Lei da Amnistia tinha de ser muito bem pensada. “Nunca votarei numa lei em que as pessoas que praticaram crimes de sangue possam ter um perdão e voltar a integrar as forças armadas ou a polícia sem serem submetidas a julgamento”.

Segundo Ramos-Horta, o chefe do Estado-Maior das F-FDTL (Forças de Defesa de Timor-Leste), brigadeiro-general Matan Ruak, tinha uma posição ainda mais dura e avisou-o de que Reinado e Salsinha “nunca poderiam regressar às Forças Armadas”.

Solução para Reinado

Mas Ramos-Horta encontrara uma solução conciliatória: “O major Reinado tinha um contrato por quatro anos com as F-FDTL que estava a terminar. Ele voltaria, resignava e depois saía elegantemente com uma compensação monetária. Mas penso que alguém deturpou o que se passou na reunião para os envenenar”.

Outro dos temas discutidos deixou amargos de boca a alguns dos intervenientes. Mari Alkatiri explicou ao SOL: “O meu partido sempre disse que este Governo era inconstitucional. Apesar de Xanana ter tido apenas 24% dos votos e nós 29, fez uma aliança com três partidos para formar Governo. Eu não me sentiria com legitimidade democrática para governar.” Alkatiri não fica por aqui e faz a ligação ao atentado: O Presidente andava em negociações com eles e tudo parecia bem encaminhado. O Reinado não tinha razões para matar Ramos-Horta. Na reunião este assunto estava praticamente decidido e as eleições seriam em 2009. Quem tinha mais a perder?”

O resultado desta reunião, na íntegra ou deturpado, espalhou-se rapidamente nas montanhas onde se abrigavam os homens de Salsinha e de Reinado. O SOL teve acesso a todas as listagens telefónicas, que foram encontradas em dois papéis na posse de Reinado e de Leopoldino Exposto, o seu braço direito.

Feito o cruzamento das chamadas, pode concluir-se que Reinado foi traído em várias frentes e por aqueles que lhe eram mais próximos.

Um deles, Gastão Salsinha. Desde o dia da reunião no Palácio das Cinzas que o volume de chamadas feita por ele triplicou. A notícia da reunião chegara às montanhas e Salsinha – em relação a quem não havia suspeitas de crimes de sangue, ao contrário do que acontecia com Reinado -, ao saber que não iria ser integrado nas forças armadas, virou-se contra Reinado.

Preparação do golpe

Em entrevista ao SOL, Salsinha separa as águas: “Os 'peticionários' não podem ser envolvidos nas coisas de Reinado, eu nem sei qual era o plano dele quando foi a casa do Presidente”.

Nessa noite, mal dorme. Desfaz-se em contactos para a Austrália e Indonésia, mas a maioria das chamadas é para o interior do país. Várias delas para Assanku, que integraria o grupo que foi com Reinado à residência de Ramos-Horta no dia do atentado. Contactado pelo SOL, Assanku negou: “Não tenho nada a ver com isso. Trabalho numa empresa de segurança e não conheço ninguém ligado ao Salsinha ou ao Reinado.”

No dia 9 de Fevereiro, Assanku contacta Albino Assis, um dos militares que presta segurança na residência de Ramos-Horta. A armadilha estava montada. No dia seguinte, Assanku encontra-se com Leopoldino, braço direito de Reinado, que está na capital, e alugam dois jipes.

Na noite de 10 de Fevereiro, Reinado passa pela casa de Vítor Alves, membro do Conselho de Estado e seu pai adoptivo. Este revela: “Reinado disse-me que tinha uma reunião com Ramos-Horta e que no dia 14 haveria uma grande festa em Ermera”. O que cola com o discurso de Horta: “Na reunião antes do atentado eu estava de partida para o Brasil. Mas como estávamos quase a chegar a um acordo em relação ao Reinado, os líderes dos partidos pediram-me para vir mais cedo e anunciar o acordo antes de dia 14. E em Abril anunciaria a Lei da Amnistia que os contemplava, porque não se tratava de crimes de delito mas de uma situação política”.

Amante faz jogo duplo

Nesse dia, Ângela Pires, ex-assessora do procurador-geral da República, regressa com Reinado a Ermera. Faz-se passar por sua assessora jurídica, mas a história amorosa entre eles é pública.

Durante os dois dias que esteve com Reinado, a mulher mantém-se em ligação com Salsinha. Nos últimos dias, levantara da sua conta uma razoável quantia de dinheiro. Ramos Horta considera-a, a “grande responsável” pelo que aconteceu. “A Ângela foi sempre um travão nas negociações com Reinado. Deve ter muita gente na sua rectaguarda”.

Enquanto Reinado preparava o arranque para Díli, Ameta, uma mulher com quem vivia, tenta em vão falar com ele. Por fim, deixa-lhe uma mensagem alertando-o, aparentemente, para uma cilada: “Tenha cuidado mor (amor) não é preciso ires a este seminário (reunião) se não te sentires bem. Não te esqueças de seguir o ritual daquilo que acreditamos. Amo-te sempre”.

Contactada pelo SOL, a mulher (que tem uma filha de Reinado ainda bebé) garante não ter conhecimento do que se passou: “Eu era a sua mulher, era normal falarmos ao telefone ou mandar-lhe mensagens, mas nunca participei em nada. Estava em casa, cozinhava, limpava e cuidava da nossa filha”.

Nessa madrugada, pelas três da manhã, Reinado e Leopoldino, mais nove homens, rumam a Díli em jipes diferentes. A leitura das listagens telefónicas mostra que a partir desse momento estão dois chefes, mas que é Salsinha quem gere os acontecimentos. Seriam 6H17 quando Reinado entrou na casa do presidente. Sem as cautelas próprias de quem prepara um atentado, o grupo estaciona os jipes em frente à residência. Mal saem dos carros, a sentinela aponta-lhes a arma mas é desarmado.

Sete homens de Reinado ficam na estrada, entre eles Assanku, que sempre fez a ponte com o segurança de Ramos Horta, Albino Assis.

Reinado pergunta à sentinela pelo presidente, ao que ele responde que tinha ido “para a ginástica”.

Reinado e Leopoldino entram, com dois homens atrás. Três minutos depois ouvem-se tiros, seguidos de rajadas. A partir deste momento as versões deixam de coincidir.

O autor das mortes

Francisco Marçal, militar das F-FDTL, diz que foi o único a disparar contra Reinado e Leopoldino.

Eram 6H30 quando foi acordado por Tadeus Gabriel, um miúdo de 14 anos. Este, com grande precisão, relatou ao SOL, que se deparou com “nove homens de máscaras no rosto”. Acrescenta que só reconheceu Reinado por vê-lo na televisão.

Ai aproximou-se da tenda onde dormiam os militares Francisco Marçal e Albino Assis. Ao ouvir o grito do garoto – “Está aqui o major Reinado” -, Francisco esgueirou-se pelas traseiras. Durante 15 minutos seguiu os passos de Reinado e Leopoldino.

Depois preparou a metralhadora: “Não fiz rajada, foi tiro a tiro. Disparei um na cabeça de Leopoldino e outro na cara de Reinado”.

A esta hora os telemóveis de Salsinha continuam em uso e a informação da morte de Reinado passa a circular. E a informação da morte de Reinado passa a circular. Ramos Horta, apesar de ter ouvido os tiros, dirige-se para casa. Eram quase sete da manhã quando um homem escondido entre os arbustos se ergue e o atinge por duas vezes. Os militares da sua segurança mantiveram-se no quintal. As forças internacionais não se mexem, e se não fosse a GNR e o enfermeiro do INEM que chegaram ao local uns vinte minutos depois, Ramos Horta estaria morto.

Enquanto o presidente segue para o hospital, Assanku recolhe informações com Assis. Uma hora depois, será a vez de o carro de Xanana ser baleado a 500 metros de casa.

Mistério envolve Xanana

Também aqui as coisas correm de forma insólita. Salsinha garante que estava lá “só para lhe pregar um susto, porque a situação dos “peticionários” nunca mais se resolvia”. Enquanto os seus homens se vão entregando, Salsinha ainda não decidiu o seu futuro: “Os meus homens agora estão divididos em quatro grupos e eu não sei se me entregue ou se lute até morrer”.

Mas foi após a morte de Reinado que os traidores se revelaram com mais desfaçatez. O telemóvel dele esteve a funcionar até ao dia 28. E Ângela e Salsinha, entre outros, mantiveram-se em conversações com os militares que o mataram.

1 comentário:

Anónimo disse...

Alo Dili

O encontro convocado por Horta e a desconfianca do Xanana das boas relacoes com o Alfredo e o Video do Alfredo foram a origem do duplo atentado.Voltando um pouco ao passado no comeco da crise de 2006, a mulher do Xanana estava muita activa denunciando erroneamente a governacao do Alkatiri apoiando o Alfredo como heroi e tinha pago a estadia em Maubisse e rodeado pelas tropas australianas.A media australiana contribui para denegrir o governo de entao. Nao podemos esquecer que o Xanana e o Horta tinha apoio das tropas australianas para o derube do Governo.Para derrube tinha que ir pela forca fomentar a violencia comecando com a demonstracao da Igreija, demonstracoes dos peticionarios e com os militares desertores das FDTL entre eles os oficiais: Alfredo,Tara e Marcos Tilman.
Salsinha foi expulso do Exercito pelo absentismo e contrabando do negocio do sandalo.Nunca podia integrar de novo nas FDTL
Alfredo treinado pela Australia nao e peticionario abandonou na crise de 2006 apoiando o Xanana. Angela Pires “amante”do Reinado fez um trabalho de dupla espionagem tinha que fazer se de amante para obter informacoes detalhadas lembram que estava a trabalhar com AUSAID da Australia e tinha contactos com as forcas australianas sobre o movimento do Reinado. Alfredo tinha feito o trabalho do Xanana e da Australia de acender ao poder cedo ou tarde tinha que ser morto, situacao piorou quando foi contra o Xanana na divulgacao do seu video.

Xanana e Horta tinha aproveitado os peticionarios para criar a violencia de tal discriminacao nas FDTL.A intencao da influencia externa era o colapso das duas instituicoes PNTL e FDTL para ser um estado falhado. PNTL conseguiram desmantelamento da estrutura, eles queriam de imediato que um Australiano fosse o Comandante da Policia das PNTL .Excomandante Paulo Martins e agora membro do parlamento do partido CNRT. FDTL nao conseguiram mas houve assaltos a residencia do General do Tauk Matan Ruak e o Quartel da Policia Militar onde estava o Roque Rodrigues e o General Tauk Matan Ruak por elementos da policia do PNTL Influenciaram a saida do Quartel o Alfredo, Tara,Marcos Tilman e mais outros.
Horta,o Xanana e o Lasama tinha que encontrar uma solucao para o caso do Alfredo e o seu grupo de terem ajudado nas demonstracoes, campanha eleitoral presidencial,do CNRT e do PD sendo ao Alfredo um adepto do PD. Dificil a sua reintegracao nas FDTL.

Eu penso que nao foi as noticias da reuniao do Palacio das Cinzas que o Salsinha virou-se contra o Alfredo.Salsinha foi contra quando o Alfredo tinha desviado as reclamacoes sobre a justica que sempre pregaram.
A preparacao dos planos para assassinatos foi desde que o Zanana passou a ser PM, a mira para os dirigentes da Fretilin.Todos aqueles que dificultavam o caminho.Depois houve tiros para a casa do Presidente da Fretilin Lu-Olo era apenas uma alerta.
Horta sobre a reuniao e o Alfredo sobre video os dois foram as vitimas deste plano preparado.

ASSANKU nao e proprio nome e nickname quem pode dizer donde ele e? de Dili ou vindo do Districto? Eu penso que o Assanku faz-se seguranca do Xanana civil e anda armado e o implementador do atentados. Deve ter bons contactos com Longuinhos,Agio Pereira, Angela Pires, Alfredo, seguranca pessoal do Horta incluindo membros das FDTL entre eles o Albino Assis.

Assanku disse que trabalha numa empresa de seguranca, segundo as informacoe ha empresas de seguranca em Dili que trabalham agentes do FBI.Ele disse que nao esta ligado a Salsinha nem o Alfredo,simples trabalhador como tinha a capacidade de fazer estes contactos no dia 9 de Fevereiro Assanku contactou Albino de Assis um dos militares na residencia do Horta e no dia seguinte encontra-se com o Leopoldinho braco direito do Reinado que estava na Capital alugar dois carros e que um dos carros do empresario Galucho de Vila Verde.O Horta seguiu ao Hospital o Assanku recolhe as informacoes com Assis.Assanku trabalha com as orientacoes do Xanana e peritos especializados em atentados na sua implementacao.A cilada preparada e implementada era para Horta e Alfredo serem assassinados nao e nunca o Xanana. Os dois carros chefiados por Alfredo e Salsinha com a direccao a Dili, Salsinha disse nao sabia as intencoes do Alfredo.
A ida do Salsinha e o grupo a Balibar era uma farca pertende fazer passar de um atentado.A entrada brusca do Alfredo e Leopoldino na residencia do Horta com conhecimento do Albino desarma o sentinela foi suficiente as razoes a pronta reacao do militar das FDTL Francisco Marcal para o disparo. Eu penso que o Albino Assis nao informou ao Francisco da vinda inesperada do Alfredo ao invadir o recinto da presidencia pelos estranhos armados. Dos 7 que restaram depois da morte dos dois, um deles abateram o Horta sera o Marcelo Caetano? o Susar estava no portao viu quem abateu.Estara ele ainda vivo no Quartel das FDTL em Tacitolo?

O envolvimento das milicias e um caso secundario nao sao autores principais.
As milicias tinham vindo, facilitaram a entrada na fronteira em Mota-ain durante a crise de 2006de suporte a Xanana e o Horta na violencia, apoio logistico ao Alfredo e o seu grupo. Eu penso indirectamente estao implicados nos atentados e apenas uma propaganda de diversao e da distracao atribuindo toda a culpa aos milicias. As milicias nao houve fuga mas sim regressaram a Indonesia por terem feito o trabalho.Vejam alguns membros do governo defensores de autonomia, governo decide treinamento de policias na Indonesia com assessors australianos.
Os contactos do Alfredo nao so com o Herculos tambem o Rui Lopes de Suai ex Administrador de Suai no tempo da Indonesia residente em Atambua, a ida do Xanana a Suai dormia na casa do Rui Lopes. O irmao Lino Lopes possui ums frota de camioes foram usados nas demonstracoes de 2006. Rui Lopes vinha a Batugade para os treinos de cavalos e as ligacoes com os timorenses em Dili na corrida de cavalos.

Tudo isto preparado e implementado, Horta nao tinha minima ideia do que estava a passar confiava no Xanana um grande amigo que acreditava um homem que ele sempre respeitava em toda esta vida da resistencia traiu-lhe pela ambicao e tambem da influencia estrangeira.

Adeus

De Aikurus

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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